O que está acontecendo nas eleições do Chile e vem sendo até pouco noticiado no Brasil deveria ser visto como exemplo do que não podemos aceitar para nós.
Por causa de um discurso falacioso tanto da esquerda quanto da direita, o centro foi excluído do segundo turno da disputa.
E a confusão por lá não será fácil de ser resolvida.
O favorito, hoje, é José Antonio Kast, candidato da direita considerado radical. Nessa receita para uma crise futura, adicione uma nova constituição que está sendo redigida por parlamentares majoritariamente de esquerda e centro esquerda e que só será colocada em vigor pelo novo presidente eleito após uma consulta popular.
Se for Kast, haverá confusão com os movimentos sociais.
Mesmo que a vitória fique com Gabriel Boric, candidato da esquerda, o país ficará dividido. Boric é um ex-militante estudantil radical que defende aumento de impostos equivalente a 8% do PIB para financiar um "estado maior".
É um horizonte sombrio, seja qual for o resultado.
O que levou o Chile a essa situação foi a lentidão para aprovar reformas que modernizassem o estado e adequassem a máquina pública.
Qualquer semelhança com o imobilismo reformista do Brasil não é mera coincidência.
O Chile apresentou bons índices econômicos nas últimas duas décadas na América do Sul, teve níveis educacionais de fazer inveja e atraiu turistas do mundo todo.
É o único país da região que está honestamente preocupado com imigrantes, como se fosse Europa. E isso diz muito porque é um ambiente procurado por quem quer ter uma vida melhor.
Mas, parou no tempo e esqueceu de renovar seu contrato social. Não existe receita boa que seja eterna e continue com a mesma aceitação. Ela precisa se adaptar ao dinamismo da realidade.
Caso parecido aconteceu com a Argentina. Maurício Macri, de um partido não peronista, apresentou o plano de um governo liberal e acabou não sendo reeleito ao fim do mandato.
Macri tentava fazer reformas e esbarrava na força dos sindicatos que iam às ruas protestar. Ao argentino faltou o que define bons gestores: desapego à popularidade do cargo.
Nesse sentido, Michel Temer (MDB), em dois anos, fez muito mais pelo Brasil. Talvez por não estar preocupado em ser popular, tomou as decisões que precisavam ser tomadas e viabilizou algumas reformas com o Congresso.
O tempo é que foi curto.
O Brasil é um país muito diferente do Chile e possui complexidades incomparáveis, mas a eleição de 2022 se aproxima com forte indício de uma polarização populista entre Lula e Bolsonaro.
Polarização que, entre outras coisas, deve inviabilizar reformas essenciais ao país, além de promover alguns retrocessos.
Ver o nível das discussões, hoje, no Chile, deveria deixar muitos brasileiros, aqueles com bom juízo, alarmados.