Ensinamento de avó: "quem fala o que quer, escuta o que não quer". Luís Roberto Barroso deve ter lembrado da própria avó ao ler a resposta do ministério da Defesa à acusação de que as Forças Armadas estariam sendo utilizadas para "desacreditar o sistema eleitoral".
Barroso errou a generalizar. Seria um erro, por exemplo, dizer que "o STF fala muita bobagem". Ao invés disso, dizer que "o ministro do STF Luís Roberto Barroso falou bobagem" é aceitável, já que não generalizando fica mais fácil justificar.
Os holofotes que tomaram conta do Supremo Tribunal Federal nos últimos anos, ampliados pela TV Justiça, parecem ter mexido com a cabeça de alguns magistrados e isso ficava evidente nos julgamentos referentes à Lava Jato e a Lula (PT). As batalhas verbais entre ministros são bem características disso. Vaidosos, com um pouco de atenção, perdem a linha fácil, por mais inteligentes que sejam.
A resposta do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, foi dura, como precisava ser para proteger a instituição que ele representa.
Dizer que as Forças Armadas estão sendo usadas para atacar o sistema eleitoral é afirmar que não existe diferença entre meia dúzia de militares da reserva que se integraram ao governo Bolsonaro (PL) e os mais de 300 mil militares que compõem Exército, Marinha e Aeronáutica, incluindo mais de 300 oficiais graduados.
Alguém pode dizer que foi algo dito por Barroso no meio de uma fala em discussão aberta numa palestra.
Como ministro do STF, Barroso deveria ter mais cuidado. Principalmente porque a afirmação vai exatamente ao encontro de algo que não pode e não deve nunca ser legitimado, que é a afirmação imprecisa e injusta de que Bolsonaro tem mais controle de todos os militares do que a própria Constituição.
Além disso, se tivesse um pouco mais de memória, lembraria que o próprio TSE convidou os militares para trabalharem em conjunto com o tribunal e elaborarem medidas de transparência para o processo. As Forças Armadas foram convidadas a participar do processo exatamente para diminuir a tensão e em reconhecimento a sua importância no equilíbrio e segurança do sistema.
A nota do ministro da Defesa fez questão de lembrá-lo. O que deixou tudo ainda mais feio.
E se existe algo desnecessário, nesse momento, às vésperas de uma eleição na qual se espera tudo menos paz, é um esticar de cordas entre instituições. A concórdia institucional não pode nunca ter que rivalizar com a necessidade de um ministro do STF dar opinião. Nem presidente do TSE ele é mais.
A expectativa já é tensa o suficiente sabendo que o TSE estará com Alexandre de Moraes em outubro.