O dia foi ainda de contar mortos. Como esperado, o trágico número de vítimas ultrapassou o de 1975. Gestores que haviam ficado nos gabinetes resolveram ir à rua nos últimos dias, alguns como observadores extremamente passivos, outros gravando vídeos nas comunidades, pra postar em rede social, mostrando rachaduras nas casas das pessoas.
Todos em busca de uma “empatia conveniente” que não resolve a vida de ninguém.
Ainda não aconteceu o necessário, que é o anúncio das medidas para evitar que isso aconteça outra vez nos próximos anos.
Quais são os projetos que serão implementados de agora em diante? Que obras serão realizadas para evitar que mais pessoas morram nas próximas chuvas?
Gerir uma cidade é antecipar problemas, não reportá-los. Ver, no meio da crise, prefeitos andando pelas ruas para fazer vídeos dos entulhos e rachaduras nas casas é sinal de falência de gestão.
Porque é a prefeitura que precisa fazer o recolhimento e a limpeza.
É a prefeitura que deve garantir moradia segura para as pessoas e, por mais que esteja na moda fazer postagem nas redes sociais, gestor não é vítima.
Repetindo para fixar: o gestor não é a vítima. A gestão não é a vítima.
Vendo o comportamento de alguns prefeitos, a impressão é que a qualquer momento eles vão se unir ao povo para fazer um protesto contra a própria prefeitura. O prefeito segurando uma faixa em frente a prefeitura para reclamar da gestão. Está quase nisso.
Posar de vítima é a melhor forma de fugir da responsabilidade. A “surpresa” da chuva, a chuva “inevitável”, a “maior de todos os tempos da última semana”, parafraseando música dos Titãs.
“Somos todos vítimas e vamos nos recuperar juntos”.
Não! Poupem a inteligência alheia.
Em entrevista à Rádio Jornal, nesta quarta-feira (1°), o geógrafo Lucivânio Jatobá disse que já se sabia da ocorrência do sábado (29) desde a quarta-feira (25) anterior. O que poderia ter sido feito em mais de 48h para evitar as mortes que ocorreram na Região Metropolitana?
Gerenciar crises é antecipar soluções para problemas previsíveis. Isso poderia ter sido feito e não foi. Ou não foi suficiente.
Mas, o melhor meio de lidar com a crise é evitar que ela aconteça. Em Pernambuco, investimentos que poderiam ter sido feitos, alguns até foram anunciados, e nunca viraram realidade, seriam a solução.
Mata Sul
Em 2010 e 2011 a Mata Sul foi praticamente destruída, prometeram a construção de cinco barragens e só uma ficou pronta, em Palmares. Uma segunda está adiantada e as outras tiveram obras iniciadas, mas ficaram abandonadas.
Doze anos, senhoras e senhores, doze anos de obras paradas.
Se acontecer uma nova tragédia na Mata Sul, os gestores vão lamentar e dizer que foi a maior chuva e que não podia ser previsto e não podia ser evitado?
E, aí vão fazer vídeos para as redes sociais chorando com as famílias, “irmanados no sofrimento”?
As famílias é que devem chorar seus mortos. Os gestores não precisam chorar. Precisam evitar as próximas mortes e estará de bom tamanho.
Copiando Bolsonaro
Bolsonaro, que faz vídeos reclamando do próprio governo e chama de “estupro” a política de preços da Petrobras, empresa para a qual ele próprio indica o presidente, está fazendo escola. Surpreende que seja entre muitos de seus críticos aqui em Pernambuco. Na hora do aperto, agem igual ao presidente. É curioso, bem curioso.