O que se diz na campanha eleitoral de hoje, vale para amanhã?
Por pior que seja a memória coletiva, e ela é péssima, algumas coisas beiram o escárnio e a zombaria com a inteligência do votador.
Aliás, votador é uma palavra muito mais adequada para quem vai à urna, digita um número e não tem para si um pingo de respeito por parte de seus votados.
Pois os votadores do Brasil, especialmente os de São Paulo, estão nos últimos dias acompanhando as visitas do candidato ao governo Fernando Haddad (PT) pelo interior do estado em que pretende ser chefe do Executivo.
O objetivo dele é virar votos fora da capital, que hoje pertencem ao PSDB.
Para ter melhor sucesso na missão, escalaram um cidadão pacato que já se apresentou como governador pelos tucanos e trocou de pássaro, para a pomba do PSB, Geraldo Alckmin.
Estaria tudo bem, se não fosse o discurso de Haddad. Como o adversário a ser batido por lá é o PSDB pelo qual o novo amigo governou o estado, foi necessário encontrar uma maneira de bater nas administrações anteriores de São Paulo sem bater nele.
A visita está produzindo coisas hilárias, como criticar a privatização com “delimitação de calendário”.
Antes de Alckmin foi mal feito, depois de Alckmin foi mal feito.
Durante o governo de Geraldo “não tem o que reclamar”.
Não é "privataria" é "concessão".
O problema, grande, é que Geraldo Alckmin passou 16 anos governando São Paulo em períodos não consecutivos de 1995 até 2018.
Não sobra quase nada pra falar mal. O jeito é apostar no passado recente e usar João Doria (PSDB) ou o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB).
É curioso, porque o PT diz que São Paulo está muito ruim e a culpa é dos governos do PSDB.
Nos últimos 27 anos, Alckmin foi governador por 16. Mas "não tem culpa".
Recentemente, o PT organizou um diagnóstico sobre São Paulo para dar embasamento às propostas de Haddad. O documento enche as gestões do PSDB de críticas.
O foco maior do estudo sempre foi Doria e José Serra (PSDB), mas Alckmin está lá, sim, em vários pontos, principalmente quando há reclamações sobre renúncia fiscal e privatização.
Nas visitas de Haddad, o assunto teria desaparecido completamente, como se nunca tivesse sido um problema.
É como se ele nunca tivesse sido do PSDB e, se foi, deve ter "trabalhado como se fosse um petista".
Pernambuco também tem
Não é difícil encontrar casos parecidos de esquecimento tático (uma expressão bonita para não ficar chamando de escárnio) em Pernambuco.
A relação do PT com o PSB é um grande exemplo por aqui.
Puxando pela memória, os dois partidos já se amaram, se odiaram, fingiram que se amaram e fingiram que se odiaram mais vezes do que um bom contador é capaz de contar.
Os votadores, então, é que perderam a conta, faz tempo.