ELEIÇÕES 2022

Defesa de aliança com PSB, socialistas vaiados, críticas a Bolsonaro e visita à cidade natal: veja como foi o giro de Lula por Pernambuco

Com o ato público "Vamos Juntos pelo Brasil e por Pernambuco", no Classic Hall, em Olinda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou, nesta quinta-feira (21), sua passagem de dois dias pelo Estado

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Adriana Guarda, Amanda Azevedo, Cássio Oliveira, Renata Monteiro

Publicado em 22/07/2022 às 0:00 | Atualizado em 22/07/2022 às 1:37
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Com o ato público "Vamos Juntos pelo Brasil e por Pernambuco", no Classic Hall, em Olinda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou, nesta quinta-feira (21), seu giro pelo Estado.

A agenda de Lula em Pernambuco, marcada pela defesa da aliança entre PT e PSB, vaias a socialistas e críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), teve início na manhã da quarta-feira (20).

O petista visitou a réplica da casa da mãe, dona Lindu, em Caetés, no Agreste, onde nasceu e viveu até os 7 anos.

INSTITUTO LULA
Na visita à casa da mãe, Lula plantou no terreno em frente à casa um pé de mulungu, arvore que remeteria aos tempos de criança - INSTITUTO LULA

O projeto, uma homenagem idealizada pelo PT de Pernambuco, teve início em maio e substitui uma réplica feita no início dos anos 2000 e que não resistiu à ação do tempo. A ideia do partido é que a casa seja uma espécie de memorial sobre a infância de Lula e um ponto de visitação de pessoas que vão a Caetés conhecer o lugar onde o petista nasceu.

A passagem de Lula por Garanhuns e Serra Talhada

Em Garanhuns, no primeiro ato público de sua passagem pelo Estado, Lula enfatizou que o seu candidato a governador no Estado é Danilo Cabral.

"Eu vim aqui para dizer uma palavra. Ou melhor, uma frase. Eu tenho candidato a governador no Estado de Pernambuco que é o companheiro Danilo Cabral", cravou o ex-presidente, apoiado localmente também pelas pré-candidaturas de Marília Arraes (SD) e João Arnaldo (PSOL). Marília, aliás, tem aparecido em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de votos divulgadas nos últimos meses.

Sem citar a ex-petista, com quem possui boa relação, ou outro postulante a governador, Lula afirmou durante seu discurso em Garanhuns que não esquece dos seus deveres políticos por conta de afinidades pessoais.

"Eu não confundo a minha relação pessoal com a minha relação política. O PT tem um compromisso nacional com o PSB e eu sou do tempo de que não precisava documento. Era no fio do bigode. E eu quero cumprir o compromisso com o PSB e quero que o PSB cumpra o compromisso com o PT, porque se a gente não fizer assim, não criaremos base para construir uma coalizão capaz de ensinar à sociedade brasileira a conviver democraticamente na adversidade", pontuou Lula.

Após Lula destacar seu apoio ao pré-candidato socialista, Marília, por meio de nota, disse que "lamenta que o PSB submeta o presidente Lula a tamanho constrangimento em Pernambuco".

Além de Danilo Cabral, participaram da mobilização as pré-candidatas a vice-governadora e senadora na chapada Frente Popular, Luciana Santos (PCdoB) e Teresa Leitão (PT), respectivamente; o pré-candidato a vice-presidente de Lula, Geraldo Alckmin (PSB); o governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), além de parlamentares e outros aliados do petista. Houve vaia do público a Danilo, Paulo e João.

Em Serra Talhada, Danilo reforçou sua aliança com o ex-presidente Lula, ressaltando como de costume em suas falas, a época em que o petista esteve à frente do governo federal, enquanto o ex-governador Eduardo Campos (PSB) administrava o Estado.

"Sonho em construir um Pernambuco mais igual, mais equilibrado. Um Pernambuco que olhe para o povo do interior, e aqui fala um filho do interior. Eu conheço os 184 municípios desse estado e tenho experiência, sempre fiz política presente na vida das pessoas porque foi isso que aprendi com Arraes e com Eduardo", declarou.

Na ocasião, Danilo ainda enalteceu a gestão do governador Paulo Câmara (PSB), que foi novamente vaiado ao ser citado. "Ele governou esse Estado no momento mais duro da nossa história, com crise da pandemia, crise econômica e social", afirmou.

Na cidade, também não faltaram recados aos pré-candidatos que usam a imagem do ex-presidente Lula nestas eleições.

Pré-candidata ao Senado, a deputada estadual Teresa Leitão (PT), que cometeu um ato falho e quase falou o nome da pré-candidata Marília Arraes em Garanhuns, adotou um tom mais crítico em Serra Talhada para deixar claro que Lula apoia apenas uma chapa.

"Vocês acham mesmo que um pernambucano, saído daqui, iria fazer com a gente uma discussão, que não colocasse em seu palanque um governador de confiança política, uma senadora de confiança política, uma vice governadora de confiança política, de competência técnica, para ajudá-lo a governar", disparou a petista. Teresa ainda finalizou sua fala pedindo para que as pessoas prestem atenção nestas eleições e "abram os olhos".

A vice-governadora Luciana Santos (PCdoB), oficializada nesta quarta-feira como pré-candidata a vice, na chapa liderada por Danilo Cabral, também não deixou de alfinetar outros palanques que também declararam apoio a Lula no Estado.

"Nós temos aqui o palanque da história, o palanque da verdade, o palanque que vai garantir que a Frente Popular caminhe a passos largos ao reencontro do país", disse.

No ato público do ex-presidente Lula (PT) em Serra Talhada, a primeira ‘autoridade’ a discursar não foi um político. Coube à trabalhadora rural Dona Buruca, de 79 anos, a missão de dar as boas-vindas.

No ato público do ex-presidente Lula (PT) em Serra Talhada, a primeira ‘autoridade’ a discursar não foi um político. Coube à trabalhadora rural Dona Buruca, de 79 anos, a missão de dar as boas-vindas.

Vestindo uma camisa vermelha, ela pegou o microfone e se dirigiu à beira do palco para falar à multidão, quando percebeu que Lula tinha deixado a posição de espectador para ficar a seu lado.

Foi como a surpresa de rever um velho conhecido, que estava distante. “Ô meu Deus! Lula tá de volta!”, disse, enquanto abraçava o ex-presidente.

O que seria um discurso se transformou em uma conversa entre ela, Lula e a multidão de 15 mil pessoas (segundo a organização) que estava ali na Estação do Forró, na noite da quarta-feira (20).

Em uma fala espontânea, simples e emocionante, Dona Buruca resumiu o sentimento de boa parte do povo brasileiro.

Lembrou de programas sociais que foram desarticulados, como o das cisternas, reclamou da inflação dos combustíveis, lamentou a volta da fome e da seca, indignou-se com a demora na liberação da vacina contra a covid-19.

Sabedoria popular latente, sem necessidade de explicação de qualquer economista. “O Sertão, Pernambuco e o Brasil estão pedindo socorro”, frisou Maria Xavier Feitosa, nome de batismo de Dona Buruca. 

 

Lula se emocionou. Enxugava as lágrimas enquanto abraçava e ouvia, atentamente, o desabafo de Dona Buruca.

Ela é uma liderança rural, com mais de 30 anos de história na busca por desenvolvimento social na região, junto com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, com a Fetape (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Pernambuco) e outros movimentos.

Em Pernambuco, Lula não economizou nas críticas a Bolsonaro

Lula não economizou nas críticas que direcionou ao presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário no pleito de outubro.

Segundo pesquisa PoderData realizada entre 17 e 19 de julho e divulgada nesta quarta, Lula venceria Bolsonaro no segundo turno com 51% dos votos contra 38% do militar da reserva.

"O genocida acabou com o Minha Casa, Minha Vida e prometeu o Casa Verde e Amarela. Eu quero dizer para ele que vocês vão ganhar essas eleições pra mim e nós vamos voltar a fazer o Minha Casa, Minha Vida, mas cada um vai pintar da cor que quiser. Pode pintar de vermelho, pode pintar de branco, de amarelo, de verde, pinta da cor que quiser porque esse País não tem uma cor só, esse País é multicolorido, nesse País cabem todas as cores que o mundo conseguiu produzir", disse o petista em Garanhuns.

O ex-presidente também afirmou que, mesmo estando 76 anos, se sente com a disposição de um homem de 30 e a paixão política de alguém com 20.

Lula falou que sonha em governar novamente para que o País volte a crescer como nos seus dois mandatos, possibilitando que todo brasileiro consiga fazer pelo menos três refeições todos os dias.

A respeito do imbróglio jurídico em torno do ICMS dos combustíveis, Lula disse que Bolsonaro "prejudicou" os governadores com a iniciativa e que a mudança deve prejudicar áreas como educação, pois os Estados terão menos receita para realizar investimentos.

"O presidente prejudicou os governadores com essa redução do ICMS. Vai faltar dinheiro para a educação e para a saúde. Esperem o próximo ano pra ver. Tudo isso para poder reduzir o preço da gasolina em 69 centavos. Mas ele poderia ter tido coragem e com a mesma canetada com que o Pedro Parente aumentou a gasolina sem pedir pra ninguém, ele reduzia a gasolina sem pedir pra ninguém. Acontece que pra fazer isso tem que ter coragem, pra fazer isso tem que ter discernimento, compromisso com o povo", declarou o ex-presidente, dizendo que se for eleito vai "abrasileirar" o preço dos combustíveis, impedindo que ele seja precificado com base no dólar.

 

A reunião entre o presidente Bolsonaro e embaixadores estrangeiros, na última segunda-feira (18), para falar sobre sua desconfiança sobre a segurança do sistema eleitoral brasileira, também foi alvo do discurso de Lula em Serra Talhada.

O petista questionou que se as urnas eletrônicas não fossem seguras, ele não teria sido eleito presidente da República.

"Nenhum embaixador levou a sério, porque a eleição no Brasil é modelo no mundo inteiro. Se pudessem roubar na urna eletrônica, vocês acham que o ‘Lulinha’ teria sido presidente em 2002, vocês acham que ele teria sido reeleito presidente em 2006?", questionou.

Alckmin

Durante o ato público realizado no município de Serra Talhada, Lula explicou para o público o que levou à sua aliança com o ex-governador de São Paulo e antigo adversário político Geraldo Alckmin.

O líder petista reconheceu que muitas pessoas estranham o fato de ter Alckmin - que já disputou a presidência da República contra o próprio Lula, em 2006, e com Fernando Haddad (PT), em 2018 - como seu pré-candidato a vice.

"Fui ler um livro de Paulo Freire e ele dizia que tem momentos na história, que a gente tem que juntar os divergentes para derrotar os antagônicos. E é isso que vocês têm que ver aqui no estado de Pernambuco", afirmou Lula, já emendando com a situação no Estado em que tem mais de um pré-candidato apoiando o seu projeto majoritário.

Encontro de Lula com representantes do setor cultural no Recife

Lula participou de um encontro com representantes do setor cultural no Recife, nesta quinta-feira (21), e defendeu a instalação de comissões estaduais para descentralizar o poder sobre a cultura no País.

De acordo com Lula, as tomadas de decisão sobre a cultura não podem partir, apenas, do eixo Sul/Sudeste.

O encontro com Lula reuniu nomes como Mãe Beth de Oxum, Almério, Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles, Maciel Salú, Fred Zero Quatro, Tita Alves, do Circo Alves, Maestro Forró e Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, Bione e outros artistas e produtores, além de políticos e apoiadores do ex-presidente.

RICARDO STUCKERT/DIVULGAÇÃO
Lula em encontro cultural no Recife - RICARDO STUCKERT/DIVULGAÇÃO

O presidente Bolsonaro foi alvo de diversas críticas durante o ato, tanto pelos artistas participantes quanto pelo próprio Lula.

"Nós precisamos fazer uma verdadeira revolução cultural nesse País, não é revolução para queimar livro, é dar mais livro, permitir acesso das nossas crianças, a possibilidade de se assistir um filme na escola, aprender música, tudo se aprende na escola, recriar o Ministério da Cultura e criar os comitês estaduais de cultura para que não haja monopólio no centro sul sobre o restante do território nacional", disse Lula.

Ato de Lula no Grane Recife teve palmas gravadas e orquestra de frevo para abafar vaias a aliados

Não faltaram estratégias para tentar minimizar os gritos ecoando o nome da pré-candidata a governadora Marília Arraes e as vaias a integrantes do PSB durante o ato público no Classic Hall.

efeito sonoro simulando aplausos da multidão, coordenado pela equipe de produção que cuidava do som do evento, era um dos recursos usados principalmente nos discursos feitos pelo governador Paulo Câmara Teresa Leitão, sempre que faziam referências ao pré-candidato a governador Danilo Cabral e à Frente Popular, e na fala do próprio postulante socialista.

Outra estratégia utilizada foi a sincronia com a orquestra de frevo, sempre tocando com mais efervescência, numa espécie de duelo para abafar a reação negativa de parte do público.

Discurso de união contra Bolsonaro em ato de Lula no Grande Recife

Para tentar conquistar mais empatia do público, o tom adotado nos discursos foi o de superar divergências em torno da unidade para derrotar o governo do presidente Jair Bolsonaro. O governador Paulo Câmara seguiu por este caminho. 

"O Nordeste nunca baixou a cabeça para esse presidente Bolsonaro. Ele só faz transmitir o ódio. E nós aqui em Pernambuco, nós nordestinos, nunca deixamos que esse ódio chegasse aqui. E agora, mais uma vez, a gente tá fazendo uma aliança, uma aliança que vem lá de trás. Vem de Miguel Arraes, vem de Eduardo Campos, vem de Paulo Câmara. O PT me apoiou em 2018, a mim e a Luciana e nós estamos honrando com trabalho, com dedicação", disse.

Durante o discurso do governador, as palmas fakes apareceram. Nas imagens mais abertas, que aparece a multidão, o som das palmas fica claramente descasado com a quantidade de pessoas que aparecem aplaudindo.  

"Nós vamos muito unidos, muito juntos. A sua missão (Lula) não é apenas vencer essas eleições, a sua missão é reconstruir esse Brasil. E o senhor vai ter a nossa ajuda, o nosso apoio. Danilo no governo (do Estado) vai lhe ajudar a governar esse País. Teresa Leitão, senadora, vai lhe ajudar no Congresso Nacional e tantos deputados federais vão estar juntos com o senhor. Vamos estar juntos com o senhor aqui de Pernambuco", reforçou Câmara.

Teresa Leitão conseguiu se conectar melhor com o público, mas ainda assim não escapou das vaias quando citava o nome de Danilo. Aí, as palmas 'fabricadas' e a orquestras voltavam a ser acionadas.  

Em seu pronunciamento ela defendeu que, além do voto em Lula, os apoiadores pernambucanos do ex-presidente apostem nos pré-candidatos indicados por ele no Estado: a chapa majoritária da Frente Popular e os postulantes da coligação a vagas no Legislativo. A parlamentar argumentou que o movimento é necessário para que, se eleito, o petista não encontre resistência no Congresso e nos Estados para colocar em prática os seus projetos de governo.

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Ato de Lula no Classic Hall - GUGA MATOS/JC IMAGEM

"Votar em Lula é muito fácil, votar em Lula é muito bom, mas não esqueçam de votar nos deputados e deputadas de Lula, nos senadores e senadoras de Lula, nos governadores e governadoras de Lula. Porque o dia seguinte será o mais difícil dessa eleição. O trabalho de destruir, para quem destrói, é fácil. Agora o trabalho de reconstruir uma nação, de alimentar a esperança, está nas nossas mãos e tem que ser articulado. Não é um trabalho fácil e é o trabalho que nos espera. E esse trabalho não é pra qualquer um, é um trabalho coletivo, que vai precisar de pensamento, de ideia, de construção de forças, de um Senado afiado, de deputados aliados para que possamos caminhar. É por isso que eu quero ir para o Senado em 2023", frisou a deputada.

Principal alvo das vaias, em um evento cheio de simpatizantes da adversária Marília Arraes, Danilo Cabral também apostou no discurso de união. Além do recurso das palmas falsas, contou com uma espécie de 'escolta' do presidente Lula e demais apoiados no evento quando foi falar.

Mesmo diante da situação conturbada de palmas fake, orquestra de frevo tocando alto, vaias e gritos de golpista, Danilo Cabral fez um discurso efusivo e otimista. Disse que não temia desafios e que quanto maior o desafio sentia ainda mais 'tesão'.

"A gente tem o dever de fazer uma discussão aqui em Pernambuco sobre o que queremos. Eu não vim aqui arengar com ninguém, fazer futrica, fazer fofoca. Eu não aprendi a fazer política na base da intriga. Eu não vim aqui para brigar. Quem deve brigar são sempre as ideias. E eu vim defender as ideias da Frente Popular", discursou.    

Em seu discurso no Classic Hall, Lula disse que, com o governo Bolsonaro, o pobre ficou mais pobre, voltou ao mapa da fome e não oferece proteção social para um contingente de trabalhadores.

"Esse país andou para trás. Significa que esse país que tinha acabado com a fome, reconhecido pela ONU, voltou ao mapa da fome e 33 milhões de pessoas não têm o que comer e 105 milhões de pessoas têm algum problema de insuficiência alimentar", afirmou.

O petista disse ainda que não pensava mais em voltar a disputar o Planalto, mas a situação atual do Brasil o levou a mudar de ideia.

"Eu fiquei pensando, qual é o direito que eu tenho de me negar a voltar a cuidar do meu povo? Qual o direito que eu tenho de ficar em casa cuidando da minha Janja, cuidando dos meus filhos, dos meus netos e da minha bisneta, qual o direito que eu tenho de ficar em casa, se tem milhões de pessoas que voltaram a não ter o que comer?", questionou.

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