O que, principalmente, pode fazer com que Bolsonaro (PL) não seja reeleito são os compromissos que ele assumiu com o eleitor bolsonarista.
Os bolsonaristas foram condicionados a acreditar que qualquer concessão é covardia. Isso gera isolamento.
O problema, portanto, não é só o eleitor que ele precisa conquistar, mas aquele que ele já tem e que, muitas vezes, não é compreensivo.
Quando você quer fazer crescer seu patrimônio político, precisa trabalhar pelo que você ainda não conquistou, mas Bolsonaro vive uma batalha inglória para não ver seu próprio saldo escorrer pelo ralo.
É o que faz com que gestos simples, possíveis e significativos, sejam desperdiçados.
O Manifesto pela Democracia, elaborado pela USP, que já se aproxima de um milhão de assinaturas, virou uma trincheira bolsonarista. O presidente já chamou de “cartinha” e atacou os que assinaram.
A equipe de campanha chegou a demonstrar nervosismo com as adesões de uma elite representada por empresários que eles imaginavam ter como apoiadores bolsonaristas e não tem.
A solução simples, que resolveria tudo, seria o próprio Bolsonaro assinar o manifesto. Não tem nada demais lá. É um texto defendendo o regime em vigor no país do qual ele é chefe do Executivo.
Mas, se ele colocasse o nome junto de figuras como Lula (PT), além de intelectuais de esquerda, perderia votos bolsonaristas.
Então ele briga.
Outro manifesto
Entidades empresariais fizeram outro manifesto, também pela democracia, representantes de indústrias, do mercado e até a Fundação Fernando Henrique Cardoso são signatários.
Bolsonaro também poderia assinar e passar o resto da vida dizendo que sempre defendeu a democracia e até “assinou o manifesto”.
Se fizer isso, perde votos bolsonaristas e se complica. Eles não são suficientes, hoje, para a reeleição.
Mas ficar sem eles piora tudo.
É um problema matemático difícil de resolver. E isso decorre dos compromissos que ele assumiu.
Expectativas impossíveis
A relação de um político com o seu público depende das expectativas que você cria. Se você oferece algo que não pode entregar, será cobrado mesmo assim.
As promessas do presidente para o seu eleitor eram de um país em que ele faria tudo o que quisesse, sem ter que obedecer nada, nem ninguém e sem precisar fazer alianças com políticos do centrão, por exemplo.
Prometeu o que não podia cumprir, recuou em quase tudo e teme que, se recuar ainda mais, pode perder o que lhe sobrou de sua base mais resistente.
Eis o que mais atrapalha Bolsonaro.