O que acontece quando um autocrata é inserido num sistema democrático?
Simples: o indivíduo transforma o sistema ou o sistema transforma o indivíduo.
Não há convivência tranquila, mas a apropriação de um pelo outro.
A novela que envolve o União Brasil em Pernambuco decorre disso. O deputado Luciano Bivar, presidente nacional, conduzia o PSL como uma autocracia. Ele tinha a primeira palavra e a última em tudo.
Ao se fundir com o DEM, encontrou-se com um sistema partidário democrático no qual vários grupos têm voz.
Nos últimos meses, ele protagonizou polêmicas nacionais e estaduais dignas de uma ópera-bufa.
Convidou Sergio Moro (UB) ao partido para ser candidato a presidente, sem combinar com os pares, e foi obrigado a desconvidar e encontrar uma solução depois.
Em seguida, lançou-se candidato a presidente ele próprio, até perceber que não iria conseguir nem 1% das intenções de voto para negociar com outros candidatos e foi obrigado a desistir.
Decidiu ser candidato à reeleição como deputado em Pernambuco, mesmo depois de dizer que não tinha interesse na reeleição, bagunçando toda a chapa que já estava montada (e bem montada) com os nomes locais.
O União Brasil, por exemplo, tinha uma eleição praticamente certa com Dilson Oliveira (UB) na chapa de estadual e ele foi “obrigado” a migrar para federal, sob ameaça de ter a legenda negada, porque Bivar precisava de ajuda para ter chance.
Sem falar em toda a insegurança que causou à candidatura de Miguel Coelho (UB) ao governo, com incertezas sobre ter palanque local ou não.
Mendonça
Mesmo depois que isso se resolveu, o deputado que preside o União Brasil agora é centro de nova polêmica. Candidato a deputado federal, o ex-ministro Mendonça Filho (UB) reclama que a direção estadual, sob ordens de Bivar, o destituiu ilegalmente da direção municipal do partido, no Recife.
Isso teria acontecido no início do processo eleitoral, mas só veio à tona agora. O caso está na Justiça, porque, segundo o candidato a deputado, foi feito de forma ilegal.
Na última semana, Mendonça e Fernando Filho (UB), que também disputa vaga de federal, teriam sido cortados do guia eleitoral. Só quem aparece nos programas de TV e Rádio é Bivar e os outros candidatos que podem fazer base para ele.
Completando a ópera-bufa, segundo Mendonça Filho, Bivar estaria retendo doações feitas por pessoas físicas com o ex-ministro como destinatário. Doadores enviam o dinheiro, o partido recebe, mas não repassa para a campanha do ex-ministro.
É como se fosse uma tentativa de Bivar com o objetivo de asfixiar a candidatura de quem pode ter mais votos do que ele, enquanto tenta reforçar a base (abaixo dele) para ter garantia de ser reeleito.
Mendonça caminha, junto com Fernando Bezerra Filho, para ter a maior votação da sigla.
No plano nacional, sem conseguir brigar com ACM Neto (UB) ou Ronaldo Caiado (UB), Bivar precisou se render ao grupo. Agora, tenta medir forças com o grupo em âmbito regional.
Ou a instituição transforma o autocrata ou o autocrata transforma a instituição. O processo local está em curso.