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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

O problema de Ciro Gomes é não saber a hora em que precisa parar de falar

Candidato deu entrevista à Rádio Jornal nesta quinta-feira (15). Ideias boas se perderam no "como fazer".

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Igor Maciel

Publicado em 15/09/2022 às 11:39
Ciro Gomes (PDT) - Reprodução do Twitter / @cirogomes

Numa campanha eleitoral, tal como na vida, mais importante do que saber o que falar é saber a hora de parar de falar. Ciro Gomes (PDT) não sabe.

O candidato a presidente concedeu entrevista à Rádio Jornal nesta quinta-feira (15), apresentou números (muitos) com seus planos, fazendo o cálculo de como poderia bancar os custos de cada proposta apresentada. Nada de absurdo nas contas, embora sejam simplistas demais, como se apresentasse solução fácil para problemas difíceis, o que não cabe na gestão de um país com a complexidade do Brasil.

Se as ideias são razoáveis, boas até, qual o problema?

O pedetista sempre se atrapalha na hora de explicar como faria o que diz que vai fazer. Uma coisa é botar no papel e fazer conta de padaria, outra é convencer o Congresso Nacional a receber o embrulho de papel de pão e aprovar.

Acontece que quase todos os planos de Ciro envolvem a necessidade de abrir mão de receitas ou modificar o regime de tributação. Tudo isso precisa passar pelo Congresso.

O PDT tem hoje, e seguirá tendo, poucos deputados na Câmara Federal. Ciro não é exatamente alguém que agrega e, não por acaso, montou o palanque mais isolado entre todos os candidatos competitivos dessa eleição. Ninguém de outra sigla quis embarcar com ele. Sendo presidente, o cearense não terá facilidades com o Congresso e, até para governar o básico, ficará nas mãos do centrão.

Na entrevista, quando perguntado sobre como colocar em prática o que propõe, disse que vai discutir com o Congresso e convencer os deputados mostrando os benefícios que o país pode ter. Poderia parar por aí, mas ele não parou.

Seguiu afirmando que, se os deputados e senadores não quiserem acordo, irá “convocar plebiscitos e deixar o povo decidir”.

Justificando, usou como exemplo a recusa do povo chileno a uma nova constituição. Há um erro na similaridade apresentada, para começar. Uma carta constitucional tem que ser aprovada em plebiscito, porque já é formatada dentro do Congresso e aprovada pelos parlamentares constituintes. O plebiscito é uma confirmação (ou não) do texto.

O que Ciro propõe para o Brasil, diferentemente, é que a população vote sobre impasses do Executivo com o Legislativo. É como pedir aos filhos que, a cada briga entre os pais, façam uma votação sobre quem eles amam mais, para ver quem vence a discussão sobre jantar chocolate ou tomar sopa.

Parece absurdo, porque é.

Uma das duas partes, querendo fazer o certo, pode ser prejudicada pelo populismo da outra. Qualquer plebiscito provocado por um impasse entre Legislativo e Executivo, num sistema como o do Brasil, pode acabar em golpe de estado ou impeachment, dependendo de quem vencer e de quem tiver força para agir após o resultado.

Bolsonaro é exemplo

Não é por acaso que Bolsonaro (PL) atravessou esses quase quatro anos tendo a possibilidade de fazer plebiscitos para confirmar suas ideias (malucas ou não) e nunca o fez. Porque sabe, ou foi alertado, das consequências de uma ruptura desse porte, usando o voto popular.

Se vencesse, não teria força para conter a vingança do Congresso depois e, se perdesse, iria se mostrar tão enfraquecido popularmente que o impeachment viria a jato, num Congresso que se sentiria desafiado. Depois de muito lutar, ele se aliou ao centrão, do qual sempre foi membro e sossegou.

Ciro tem boas ideias. O problema é que são peças jogadas sobre um tabuleiro, bem dispostas, mas que não contam com algo básico: o jogador adversário, algo que há em qualquer jogo.

Agregador de pesquisas JC

Confira abaixo os números do agregador de pesquisas do JC com a Oddspointer para presidente no Nordeste:

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