A aprovação do empréstimo no valor de R$ 2 bilhões para a cidade do Recife, no Senado, foi mais tensa do que pareceu após o resultado, com 63 votos favoráveis, e só foi possível por causa da presença do prefeito João Campos (PSB) nos bastidores.
O gestor da capital viajou para Brasília e acompanhou de perto a articulação, chegando a conversar com senadores da oposição para convencê-los a não obstruir a votação, como chegou a ser proposto por senadores do PL e de outras siglas de oposição ao governo Lula no Senado.
Os motivos para a ameaça de obstrução, apresentados nas conversas feitas fora do microfone, iam desde a não instalação da CPI dos atos de 8 de janeiro, passavam pelo fato de a gestão do Recife ser “de esquerda” e iam até o senador Flávio Bolsonaro (PL), emburrado porque o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pode ficar inelegível num julgamento do TSE. Sim, até essa “mágoa” bolsonarista chegou a ser elencada.
O que a população que mora em áreas de risco, no Recife, capital de Pernambuco, tem a ver com isso, é um grande mistério que só a política mais limitada poderia explicar.
Pelas informações passadas à coluna através de uma fonte que acompanhou as conversas de perto, Campos precisou ir destravando cada um desses votos, até com Flávio Bolsonaro, argumentando, entre outras coisas, que uma tragédia aconteceu na cidade em 2022 e o dinheiro não seria para fazer política, mas para garantir a vida dos moradores das encostas nas próximas chuvas. Convenceu até o filho do ex-presidente.
Para se ter uma ideia de como estava o clima no Senado durante a discussão sobre o empréstimo, o próprio relator da matéria, o senador Fernando Dueire (MDB), chegou a cogitar um recuo, tirando o texto da pauta, para apresentar em outro momento mais propício.
O prefeito preferiu arriscar e acabou dando certo, mas foi algo conseguido debaixo de muita incerteza, o que é um absurdo, já que não é normal o Senado implicar com empréstimos que já estão acertados com a União (que dá a garantia) e com o banco dono do dinheiro.
A capacidade de articulação do prefeito do Recife, em Brasília, chamou a atenção, principalmente por conseguir driblar a crise política nacional enquanto garantia os recursos para o município. Mas o volume de dinheiro que foi acertado é algo que pode, até segundo alguns adversários, inviabilizar a oposição no Recife para a eleição de 2024.
Há quem verbalize que Campos “está se tornando imbatível” para a reeleição, embora ainda falte muito até o pleito.
Surpreende porque, não faz muito tempo, a ideia geral era que João Campos havia ficado isolado politicamente, com um enfraquecimento do PSB estadual, após perder o Palácio do Campo das Princesas. O desenho, hoje, é outro.
Em debate na Rádio Jornal, Miguel Coelho (União Brasil) não assumiu a possibilidade de ser candidato à prefeitura do Recife, mas também não descartou, de maneira alguma. A questão foi levantada pelo deputado Eduardo da Fonte (PP), que participou do programa.
Miguel disse que durante a campanha para governador criou laços com o Recife, mas ressaltou que qualquer candidatura passa pela representação municipal do partido, hoje comandado pelo deputado Mendonça Filho (UB) na capital.
O deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos) foi reconduzido pelos colegas à coordenação da bancada pernambucana em Brasília. Ele já era o coordenador e dividia a função com o ex-deputado Wolney Queiroz (PDT), que não foi reeleito.
Inicialmente, a ideia era que o outro coordenador fosse um representante dos novos deputados. Quase metade dos novos parlamentares está no primeiro ano de mandato. Apesar disso, foi escolhido Carlos Veras (PT).
A decisão, segundo uma fonte, se deu por Veras estar no partido do governo, para facilitar a interlocução.
Durante apresentação na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados, esta semana, em Brasília, a ministra Luciana Santos (PCdoB) disse que sua pasta contribuirá para “transformar conhecimento em riquezas através da inovação, retomar o crescimento econômico, gerar emprego e renda e ampliar o acesso da população aos benefícios da ciência e da tecnologia”.
É uma visão empreendedora da ciência, que aproxima mais a academia da realidade das ruas, e que pode ser muito positiva. Resta observar como será, na prática. Um dos grandes problemas de se fazer ciência no Brasil é a burocracia do setor público. Aguardemos.