Empréstimo consignado pode ser um bom negócio? Perguntamos a um consultor financeiro

O número de reclamações em relação ao crédito consignado aumentou em quase 700% durante a pandemia mas esta modalidade de empréstimo pode ser vantajosa e segura. Basta ficar atento aos detalhes
Edilson Vieira
Publicado em 20/05/2021 às 20:40
Veja mais dicas de como fazer um bom negócio ao contratar o crédito consignado Foto: ARTES JC


Na hora do aperto, muitos consumidores apelam para o empréstimo consignado. Uma modalidade disponível para trabalhadores de carteira assinada porém, mais acessível para servidores públicos, aposentados ou pensionistas do INSS que contam com mais vantagens na hora da contratação.
Desde o início deste mês de maio os bancos estão praticando o que determina a lei 14.131/2021, que aumentou para 40% a margem de empréstimo do crédito consignado. Ou seja, o servidor público e aposentados ou pensionistas do INSS podem comprometer até 40% do seu salário, ou benefício previdenciário, com um empréstimo que sempre é vantajoso para os bancos e financeiras, afinal, o desconto é feito diretamente no contracheque, sem risco de inadimplência ou desemprego por parte do contratante.

A taxa de juros, atualmente fixada em 1,80% por mês, e o parcelamento da dívida em até 84 meses, também colaboram para atrair o consumidor para o empréstimo. E para contornar uma possível dificuldade econômica, por conta da pandemia, a lei também autorizou bancos e financeiras a concederem quatro meses de carência para contratos novos e antigos, embora mantendo os juros durante o período em que o segurado não estiver pagando as parcelas.

Mas, para quem contrata, o crédito consignado vale a pena? Em quais situações? Quais os cuidados que se deve ter antes de assinar o contrato de um consignado?

RECLAMAÇÃO

No ano passado, o número de reclamações relacionadas ao crédito consignado aumentou 683% segundo a plataforma digital consumidor.gov.br, da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça. As queixas mais comuns são “cobrança de produto não contratado” e “oferta ou informação de forma inadequada”. O número de golpes envolvendo consignado também é alto. Somente este mês o Procon estadual interditou sete empresas que ofereciam crédito consignado atrelado a um suposto rendimento mensal se o cliente investisse todo o valor do empréstimo em um aplicação que, na realidade, era fictícia. O Congresso Nacional avalia mudanças na forma de concessão do crédito justamente para evitar o superendividamento e reduzir a possibilidade de golpes.

ORIENTAÇÃO

Para o personal financeiro Leandro Trajano, o crédito consignado costuma ser um bom negócio pelas taxas de juros menores se comparadas a outras opções do mercado, como crédito pessoal, cartão de crédito ou cheque especial. “É um tipo de dívida mais barata pelo simples fato de dar mais garantias de pagamento ao banco. Agora, ele costuma ser um mau negócio se a pessoa já tem um orçamento muito apertado e inclui no mês a parcela para pagar o consignado”.

Trajano lembra ainda que, ao contrário de outros compromissos financeiros, não dá para deixar o pagamento do consignado pra depois. “Quem tem o hábito, nada saudável, de dar aquela pedalada nas contas do mês, adiando o pagamento para o mês seguinte, com o consignado isso não é possível porque ele já vem descontado na fonte, no salário”.

O consultor chama atenção para as facilidades que o governo promoveu flexibilizando a margem de comprometimento de 35% para 40% do salário ou benefício, e ampliando o prazo máximo de pagamento para até 7 anos. “A intenção do governo foi fomentar a economia, colocando mais dinheiro no mercado. Mas o servidor público ou aposentado não precisa de mais corda para se enforcar. O ideal é que o contratante coloque no papel todas as suas despesas, e analise qual vai ser o impacto daquela parcela do empréstimo no orçamento da família. Quanto ele pode pagar sem comprometer as outras obrigações com moradia, alimentação, saúde, educação e o mínimo de lazer”, ensina Trajano.

Uma dica valiosa, segundo Leandro Trajano, é não ter pressa para pagar o empréstimo. “Muita gente se compromete com uma parcela de valor elevado para poder reduzir o tempo do empréstimo. Talvez o melhor fosse assumir uma parcela menor, que cabe melhor no orçamento, por um tempo maior. Isto não quer dizer usar o tempo máximo do empréstimo mas, buscar um equilíbrio de quanto eu posso pagar sem que falte dinheiro para outros compromissos”, ensina o consultor.


Veja mais dicas de como fazer um bom negócio ao contratar o crédito consignado


1-Analise as propostas. Você não é obrigado a tirar empréstimo no banco que tem conta. Como a concorrência entre bancos e financeiras é grande, analise com calma algumas propostas e decida por aquela que for mais vantajosa para você.

2-Fuja das operadoras “piratas”. Se o empréstimo for realizado através de um correspondente bancário, certifique-se que ele é autorizado pelo Banco Central. Faça a pesquisa em www.bcb.gov.br, na aba “serviços” e “encontre uma instituição regulada”.

3-Desconfie sempre. Negócios e promessas muito vantajosas podem estar escondendo algum golpe. Se a dúvida persistir, consulte o Procon para saber se há algum tipo de reclamação contra aquela empresa.

4-Leia o contrato antes de assinar. Se não tiver familiaridade com este tipo de documento, peça a um contador ou mesmo advogado para analisar o contrato. Depois de ler, e concordar com os termos, rubrique e coloque data em todas as páginas.

5-Não fique com dúvidas. Não tenha vergonha de perguntar sobre algo que não ficou claro, e certifique-se de que tudo que foi oferecido pelo vendedor consta no contrato. Fique atento a cobrança de taxas abusivas ou ilegais.

6-Nunca assine contratos ou formulários em branco. Eles podem ser preenchidos posteriormente com dados, valores e condições que você não forneceu e nem contratou.

7- Exija uma cópia idêntica ao que você assinou no momento da contratação. É seu direito conhecer exatamente todos os termos e condições do seu empréstimo.

8-Confira o extrato bancário com o valor do empréstimo que o banco depositou para você. Se o valor foi menor, ou maior, do que consta no contrato ou se houver divergências no valor e número de parcelas, reclame ao banco ou ao correspondente bancário imediatamente.

9-Se a instituição demorar alguns dias para responder, não hesite em denunciar o caso na plataforma www.consumidor.gov.br, ouvidoria do Banco Central ou Procon de sua cidade.

10-Pondere a real necessidade de pedir o empréstimo. Ele pode ser útil para substituir uma dívida mais cara por outra mais barata (quitar o débito total de uma compra no cartão de crédito ou cobrir o cheque especial, por exemplo). E pense três vezes antes de fazer um consignado em benefício de parentes ou amigos com histórico de complicações financeiras.

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