A expectativa pelo retorno das aulas presenciais nas escolas, fechadas há quase três meses, é grande. Em Pernambuco, colégios, faculdades e universidades estão proibidos de ministrarem atividades nos estabelecimentos de ensino desde 18 de março, por meio de um decreto estadual, por causa da pandemia do novo coronavírus. A saída foi adotar aulas remotas. Não há previsão ainda de quando o governo vai autorizar, no Estado, a retomada das aulas presencias. A gestão estadual diz que somente quando houver segurança, do ponto de vista sanitário, é que será permitido.
Presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Pernambuco, José Ricardo Diniz diz que já é tempo de as escolas começarem a se organizar, mesmo sem haver ainda data estipulada para retomada das atividades presenciais. Afirma que as escolas privadas devem acabar o ano letivo de 2020 em janeiro de 2021 e aponta alguns cuidados que deverão ser tomados pelas unidades de ensino. Defende ainda que o retorno comece pela educação infantil e pelas turmas de 3º ano do ensino médio.
No Estado existem cerca de 2.400 colégios particulares, onde estudam 400 mil alunos e lecionam 20 mil professores. Dois terços dessas escolas são de pequeno porte. Veja, a seguir, entrevista com José Ricardo.
JC - O senhor tem ideia de quando as aulas presenciais vão voltar?
José Ricardo - É natural que, com a publicação recente, pelo governo do Estado, do Plano de Retomada das Atividades em Pernambuco, em meio ao período marcado pela pandemia da covid-19, surja uma grande expectativa em relação à volta das atividades presenciais no espaço escolar. Não se tem data. Mas é muito importante que o assunto comece a ser tratado pelas escolas e partilhado com a comunidade escolar, para que se elabore um planejamento amplo, fundamentado no princípio maior de preservação da vida, bem como do bem-estar físico e emocional da comunidade escolar, e, como efeito prático, do estrito cumprimento dos protocolos de segurança que vêm sendo usados em todo o mundo.
JC - A volta dos estudantes, quando ocorrer, será com todos os alunos de só vez?
José Ricardo - Não. O retorno terá de ser gradativo, para que se mantenha o controle rígido da sanitização, faça-se o devido acolhimento às crianças e adolescentes, com o correspondente acompanhamento socioemocional, a cargo dos psicólogos e orientadores da escola, como também os ajustes de ordem pedagógica, que se farão necessários, como, por exemplo, o ensino híbrido, ou seja, a combinação de atividades remotas e presenciais para pavimentar esse caminho de retomada, tendo à frente as equipes técnica e docente.
JC - Esse retorno gradual ocorreria a partir de que segmento?
José Ricardo - A volta progressiva se iniciaria com os extremos da educação básica: o 3º ano do ensino médio e a educação infantil, como ocorreu em países que já estão vivenciando esse processo, Portugal e França, para citar alguns. A razão da série final do médio é sobretudo por conta do Enem e vestibulares, no final do ano. Para as turmas do infantil, há dois fortes motivos: o primeiro é devido ao fato de as crianças pequenas terem mais dificuldades em desenvolver as atividades não presenciais, precisando da presença do adulto ao lado; o segundo é de ordem prática: seus pais , na grande maioria, estarão retornando aos seus locais de trabalho e terão a real necessidade de levá-las à escola, claro que dentro dos protocolos de segurança estabelecidos.
JC - Quais os cuidados básicos que cada escola deverá ter nesse retorno gradual?
José Ricardo - Temos três matrizes bem definidas para um retorno seguro: o distanciamento físico, tendo por base o padrão geral de 1,5m entre as pessoas, que terão de usar os itens de prevenção individual (máscara, álcool em gel, dentre outros); a sanitização regular do espaço escolar; e o monitoramento das ações desenvolvidas. A adequada comunicação da escola com sua comunidade, a partir desses pontos, será fundamental para empreender esse regresso às atividades presenciais. Para evitar aglomerações e cumprir a distância determinada, em sala de aula, por exemplo, poderá ocorrer a divisão dos alunos de uma mesma turma, e surgir daí a modalidade híbrida, aqui já referida, ou o rodízio entre os grupos discentes.
JC - Como ficam as avaliações escolares?
José Ricardo - Essa é uma questão muito sensível. O parecer nº 5/2020, do Conselho Nacional de Educação , que valida e traz orientações sobre as atividades não presenciais, durante o período de pandemia, fala da necessidade de uma Avaliação Diagnóstica de Retorno, onde o mais importante é verificar o que foi efetivamente aprendido pelos estudantes na forma remota e, então, reelaborar o planejamento pedagógico, atentando para as possíveis defasagens existentes, e, a partir daí, montar propostas de reconstrução da aprendizagem. Esse será um grande desafio para as escolas.
JC - Alguma previsão de quando o ano letivo de 2020 deve acabar?
José Ricardo - A medida provisória 934, recentemente prorrogada por mais 60 dias, mitigou os 200 dias letivos previstos na LDB, mantendo, porém, a obrigatoriedade das 800 horas de atividades anuais. Esse fato e a validação legal das horas letivas advindas das atividades remotas, com certeza,possibilitarão que as escolas cumpram o que está determinado em lei. Em Pernambuco, a escola particular deverá concluir o ano letivo de 2020 até o final da primeira quinzena de janeiro de 2021.