Alunos e professores das 54 graduações da Universidade de Pernambuco (UPE) retomaram nesta terça-feira (08) as aulas, após quase seis meses de suspensão das atividades presenciais, desde 16 de março, por causa da pandemia de covid-19. Mas corredores e salas continuam vazios pois todas as aulas são remotas, até novembro, quando acaba o semestre extra. O desafio, durante o período extraordinário, é oferecer equipamentos para os cerca de 2.400 estudantes que não dispõem de dispositivos adequados para acompanhar o ensino remoto. A internet está assegurada por meio do Programa Conecta Aí, do governo estadual. O primeiro semestre letivo de 2020 continua suspenso, com previsão de reinício somente em 2021.
Dos 14 mil graduandos matriculados na UPE, 11.813 (82,39%) se inscreveram para cursar alguma disciplina no período extraordinário (a participação foi facultativa). Estão sendo ofertadas 1.197 disciplinas e 60 cursos, segundo a Pró-reitoria de Graduação, com adesão de 98% dos docentes. "Disponibilizaram pacote de dados. Mas o problema é que muitos alunos não têm computador, tablet ou celular para assistir às aulas com qualidade. O semestre extra foi aprovado no final de julho. O governo poderia ter se organizado para oferecer os equipamentos juntamente com a internet. É ruim começar o semestre sem ter as condições mínimas", ressalta o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Hélio Monteiro.
Pesquisa realizada pela entidade revelou que 23% dos universitários da UPE não possuem computador (de um universo de 7 mil que responderam). Aluno do 7º período de enfermagem, Hélio até tem um notebook, mas está quebrado. Assistiu às primeiras aulas de ontem pelo celular emprestado da mãe. "O meu telefone está com problema. O pior é que minha mãe é estudante, começou o curso de serviço social, com atividades online. Meu irmão caçula também está tendo aula remota. Está um caos para conseguir estudar. Quando havia aula presencial eu usava bastante os computadores da biblioteca da UPE", lamenta Hélio.
Suzana Melo, do 3º período de ciências biológicas, câmpus Garanhuns, no Agreste, também relata a dificuldade em não dispor de computador. "Meu celular não é tão novo. Dá para ler um texto, abrir um arquivo em pdf. Mas algumas aulas necessitam de aplicativos que não consigo baixar", diz Suzana. A família depende do dinheiro do Bolsa Família e do auxílio emergencial do governo federal.
Somente ontem, após reunião com a Secretaria da Fazenda, o reitor Pedro Falcão teve autorização para destinar R$ 500 mil do orçamento da UPE para que alunos comprem dispositivos tecnológicos. "Vamos contemplar 500 estudantes com um auxílio de R$ 1 mil para cada aluno para que possam comprar algum equipamento", informa o dirigente da UPE. Ele espera lançar o edital ainda esta semana e liberar o recurso até o fim do mês. "Infelizmente não temos como atender todos os alunos pois já foi uma verba que estou relocando do orçamento da universidade, que já é muito apertado", ressalta Pedro Falcão. "Contemplar só 500 alunos não é o ideal. Por isso precisamos continuar na luta até que todos os estudantes consigam realizar o Período Letivo Suplementar de forma plena", comenta o presidente do DCE.
Enquanto alunos da Universidade de Pernambuco (UPE) sentem falta de computadores, os estudantes mais carentes das Universidades Federal (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) reclamam por não terem internet de qualidade para assistirem às aulas dos semestres extras. O Ministério da Educação (MEC) é que vai fornecer o pacote de dados, por meio de chips com 20 GB. Mas a previsão é que os dispostivos só cheguem no final deste mês. As aulas remotas na Rural começaram em 17 de agosto e as da UFPE uma semana depois, em 24 de agosto. As duas instituições deram dinheiro para os alunos comprarem equipamentos (R$ 1.380 na UFRPE e R$ 1.400 na UFPE).
"A conexão na minha casa é muito ruim. São cinco pessoas comigo usando a internet. Muitas vezes cai no meio da aula, é um desafio grande. Com o auxílio que recebi, comprei um tablet, mas alguns parentes ajudaram a complementar pois faltaram quase R$ 1 mil. A universidade se preparou mas infelizmente o governo federal não acompanhou", diz o estudante Júlio Lima, 21 anos, do 5º período de licenciatura em biologia na UFRPE.
Na Rural serão contemplados 7.658 alunos com os chips do MEC. Na UFPE, 977. As duas universidades planejam distribuir o material por meio de Sedex para agilizar a entrega. "Ainda em agosto o MEC fez uma licitação. Mas a empresa que ganhou não tinha cobertura para a região Nordeste. Por isso foi preciso fazer uma nova licitação, o que atrasou um pouco o processo", explica o pró-reitor de Assistência Estudantil da UFPE, Fernando Nascimento. Ele estima que 6.966 necessitem de apoio para internet, mas para esse semestre extra só 977 pediram.