Por João Ker
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse nesta terça-feira, 15, ter sido escolhido para o cargo por estar de acordo com "valores" e "princípios" propostos pela gestão Jair Bolsonaro, mas afirmou estar aberto ao diálogo com secretários estaduais e municipais. A declaração foi dada na coletiva de imprensa de divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019, que mostram avanço inédito do ensino médio, mas desaceleração do crescimento dos anos finais do fundamental. No evento, o ministério informou que ainda estuda como avaliar impactos da pandemia na aprendizagem dos alunos do Brasil.
"Claro que temos uma linha e um propósito com relação à educação e isso deve prevalecer." Ainda segundo Ribeiro, sua indicação não teve viés político, uma vez que ele não é afiliado "a nenhum partido nem grupo religioso, tampouco os evangélicos". "Tenho conversas com eles, mas não os represento", afirmou ele, que além de ter sido vice-reitor da Universidade Mackenzie também é pastor presbiteriano. "Ele (Bolsonaro) pagou o preço de colocar alguém que nem conhecido era. Um pastor, como sou. Embora eu não esteja aqui fazendo pregação no MEC. Minha visão é outra sobre meu trabalho. Ele se expôs politicamente ao me colocar aqui", disse ele, em fala que durou menos de dez minutos, antes de deixar o evento.
Na quinta-feira, 10, Ribeiro foi criticado após afirmar que os jovens são "zumbis existenciais" por não acreditarem em Deus ou na política, durante evento no Palácio do Planalto. "Temos hoje no Brasil, motivados, creio eu, por essa quebra de absolutos e certezas, verdadeiros zumbis existenciais. Não acreditam mais em nada, desde Deus e política, não têm mais nenhuma motivação."
Na apresentação, gestores do MEC destacaram o avanço do ensino médio, que vinha de anos de estagnação, mas destacaram o desafio nesta etapa e também nos anos finais do fundamental, etapa que o ministério promete olhar com mais atenção. Sobre os impactos da pandemia e do fechamento de escolas na aprendizagem dos alunos, ainda não há plano traçado para fazer um diagnóstico. Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes afirmou que o órgão está "vendo a possibilidade de fazer avaliações amostrais" sobre esses efeitos, mas seriam para estudos internos; e não avaliações em larga escala.
Segundo educadores, a pandemia vai trazer desafios extras para a educação nos próximos anos. O periodo prolongado de fechamento das escolas deve aumentar a defasagem de aprendizagem de grande parte dos alunos, especialmente os mais vulneráveis, e também eleva o risco de evasão. Além disso, o poder público terá dificuldades para implementar medidas sanitárias para reduzir o contágio do novo coronavírus, como reduzir o número de estudantes por turma, em um cenário de maior restrição orçamentária.
Izabel Pessoa, secretária da Educação Básica, anunciou que o governo federal vai destinar R$ 525 milhões para ajudar as escolas que decidirem retomar as aulas presenciais ainda este ano. O aporte será transferido pelo Programa Dinheiro Direto na Escola, que ainda inclui apoio técnico e orientações a protocolos de biossegurança para 116.767 escolas de 5.100 municípios em todo o País, impactando 36,8 milhões de estudantes