Após oito meses convivendo com a maioria dos amigos e professores de forma virtual, entre março e novembro, estudantes das séries iniciais do ensino fundamental podem voltar a partir desta terça-feira (17) para o ensino presencial nas escolas particulares de Pernambuco. Entre muitas famílias há o dilema entre permitir o retorno, já que muitos alunos estão cansados das atividades remotas e com prejuízos emocionais, e o medo que a exposição aumente o risco de contaminação da covid-19. Colégios garantem que estão preparados para cumprir o protocolo sanitário específico da educação. O desafio será conseguir que crianças com idades que variam entre 6 e 10 anos consigam ficar o tempo todo de máscara, não abracem os coleguinhas e tenham brincadeiras e circulação limitadas, entre outras regras exigidas nesse cenário de pandemia.
"A volta às aulas precisa ser feita com segurança. Defendi que agosto teria sido o mês ideal para esse retorno porque o momento epidemiológico era de curva da transmissão em declínio e persistente. Agora em novembro, com aumento significativo de casos, embora não tenhamos o mesmo nível de maio, o cenário é outro. Não dá mais para ter uma orientação única", observa o vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco, Eduardo Jorge Lima. "A avaliação dos riscos e benefícios tem que ser de cada família. É uma decisão individual. A criança está aprendendo no ensino a distância? Está emocionalmente estável? Convive com avós ou outras pessoas que são dos grupos de risco? São questões que devem ser observadas antes de decidir mandá-la para a escola", complementa o pediatra.
De cada três alunos, somente um deve retornar ao ensino presencial, estima o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco (Sinepe). "Estamos nos aproximando do final do ano letivo. Acreditamos que neste primeiro momento 30% dos alunos voltarão, mas esse índice deve crescer com o passar dos dias", afirma o vice-presidente do Sinepe, Arnaldo Mendonça. A sugestão foi que os colégios colocassem no máximo metade dos estudantes em cada classe. "O protocolo não determina a quantidade de alunos e sim a distância mínima de 1,5 metro entre eles. As turmas nos anos iniciais do ensino fundamental têm em média 25 alunos. Como só um terço deve voltar, serão até oito alunos por sala", diz Arnaldo.
Como muitas escolas funcionaram como locais de votação para as eleições municipais do último domingo, o dia ontem foi de limpeza para garantir a segurança aos estudantes e professores que chegarão hoje para o primeiro dia de aula presencial desde que as atividades foram interrompidas, por determinação do governo estadual, em 18 de março. No Colégio Adventista do Arruda, funcionários se empenharam na higienização dos espaços.
"Vamos receber todas as séries do fundamental, do 1º ao 9º ano, nesta terça-feira. Poderíamos ter voltado com os anos finais na semana passada, mas tínhamos organizado provas de forma remota. Investimos bastante para preparar a escola para cumprir o protocolo e proporcionar o ensino híbrido. Como fazemos parte de uma rede de escolas em todo o Brasil, a experiência em outras escolas ajudou", afirma o vice-diretor do colégio, Rafael Costa.
Embora esteja com vontade de voltar para escola, Tarsila Campelo, 9 anos, aluna da 3ª série do fundamental do Colégio Dom, em Olinda, permanecerá acompanhando as aulas remotas, assim como sua irmã Maysa, 14, do 8º ano. "Não sinto segurança para voltar. E elas não têm maturidade como um adulto. Quando saímos percebo que não aguentam ficar muito tempo de máscaras. Trabalho em um hospital pediátrico e infelizmente está aumentando o internamento de crianças com problemas respiratórios. Também não vou deixar que retornem porque tenho uma tia idosa que mora conosco", explica a mãe delas, a assistente social Flávia Campelo.
A engenheira ambiental Roberta Falcão diz que se dependesse só da vontade dela não mandaria os filhos Rafael, 9 anos, aluno do 4º ano, e Alice, 6, do 1º ano, alunos do Colégio Damas, para as aulas presenciais. Mas depois de conversar com uma pediatra da família e avaliar com o marido, decidiu liberar. "Saímos pouco de casa, estamos mantendo as restrições. Mas eles estão saturados. E saber da própria escola que poucas crianças vão voltar me dá um pouco de tranquilidade pois serão menos alunos nas salas", comenta Roberta. "Vou mandar meus filhos pelo bem que esse retorno fará à saúde mental deles. Estão contando os dias para voltar para escola. Eu estava em home office e percebi como foi bom voltar ao trabalho. Por isso acho que eles merecem também", diz a engenheira ambiental.