Desde que a primeira filha nasceu, hoje com 8 anos, a artesã Tatiane Santos Silva, 35, tenta matriculá-la em uma creche municipal. O problema é que, na comunidade onde mora, Passarinho, não há instituições do tipo. E, na mais próxima, as vagas estão sempre preenchidas. O drama se repetiu com a segunda filha, de 2 anos. “Todo santo dia tenho que acordar a pequenininha cedo para sair com ela para aulas e formações que dou em artesanato, sacrificando o conforto dela, enquanto ela podia estar guardada, aprendendo”, disse. A região é uma das que devem ser contempladas por nova creche, segundo planejamento da Prefeitura do Recife, mas enquanto não são entregues, a população segue se virando para batalhar e cuidar dos filhos - tudo ao mesmo tempo.
No final de agosto, a gestão municipal anunciou o “Infância na Creche”. Com um investimento de R$ 150 milhões da própria prefeitura, o programa prevê 7 mil novas vagas para a educação pré-escolar até 2024, fim do mandato do prefeito João Campos (PSB), além da requalificação de estruturas já existentes, parcerias com instituições sem fins lucrativos, atuando em conjunto com unidades comunitárias vinculadas a ONGs, Fundações e Cooperativas Educacionais; e estudos para parceria público privada (PPP),
A Secretaria de Educação do Recife informou ao JC que há cinco instituições em construção (em Santo Amaro, Imbiribeira, Guabiraba, Caranguejo Tabaiares e Estância), outras 13 sob ampliação (2 em Santo Amaro, 2 na Guabiraba, 2 em San Martin, uma nos Coelhos, Ilha de Joana Bezerra, Madalena, Alto José do Pinho, Afogados, Ibura, Areias), seja em obras ou em processo de licitação, e outras 11 tendo o projeto estruturado (2 na Várzea, San Martin, Pina, Linha do Tiro, Água Fria, Caxangá, Várzea, Passarinho, Coqueiral, Monteiro, Ilha de Deus).
Atualmente, a cidade dispõe de apenas 7.1 mil lugares para crianças em suas 75 instituições pré-escolares. Com uma população total de cerca de 1.6 milhão de pessoas, o Recife deixava de atender cerca de 57% das crianças de 1 a 3 anos em 2018, segundo pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal divulgada em 2020. O estudo concluiu, ainda, que a capital pernambucana era a quarta com maior demanda por vagas do país, mesmo que a matrícula nas unidades não seja obrigatória, e sim uma opção dos responsáveis pela criança.
Para Tatiane, seria essencial. “Cuido delas sozinha durante o dia, e não lembro a última vez que me cuidei, porque não tenho tempo. Eu desisti de procurar vaga para minha segunda filha, porque já sabia da dificuldade, já que tentei muito para a minha de 8 anos quando ela era pequena e me respondiam que a demanda era muito grande e que eu tinha que aguardar. Eles abrem agendamento antes, e para 2022 já deve estar lotado. Aqui na comunidade, só consegue creche quem já tem um filho nela, porque tem preferência, mas a maioria das pessoas não conseguem”, relatou.
A dificuldade é a mesma para a dona de casa Monique Maria, moradora de Joana Bezerra, que diz se sentir "vulnerável" ao não conseguir um emprego por não ter onde deixar o filho de 2 anos. "Ele não tem onde ficar, e a dificuldade é justamente essa. Para poder trabalhar, eu teria que pagar alguém para ficar com ele, mas está tudo caro e difícil. Quando vou tentar matricular, me dizem que não tem vaga, que é para eu procurar na secretaria, mas vou desde que ele tem 10 meses de vida, e está na lista de espera até hoje", relatou.
O Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial de Recife (Simpere) estima que haja pelo menos 3 mil crianças a procura de vagas em creches na cidade, e denuncia também a dificuldade das famílias em matricular seus filhos. "Elas são feitas online, e, sobretudo na pandemia, as famílias tiveram dificuldade de garantir acesso à internet. Isso também é bastante impeditivo para elas conseguirem vagas. A falta do ensino pré-escolar é um problema muito grave que a prefeitura ainda não resolveu", afirmou Cláudia Ribeiro, coordenadora geral do Simpere.
Por nota, a Secretaria de Educação do Recife esclareceu ter aumentado “10% na oferta de vagas em creches, mesmo diante de um cenário pandêmico”, entre o final do ano passado, quando havia 6.500 vagas, e este ano, com 670 novas vagas. Ainda, pontuou que a “expectativa é que 1800 novas vagas sejam ofertadas no próximo ano”.
EM CONSTRUÇÃO
Creche Escola Deputado Alcides Teixeira (Santo Amaro)
Creche Municipal da Imbiribeira
Creche Municipal do Brejo da Guabirada
Creche Municipal Caranguejo Tabaiares
Creche Municipal da Estância
PROJETOS DE AMPLIAÇÃO (EM OBRAS E A LICITAR)
Creche Francisco do Amaral (Santo Amaro)
Creche Vovô Arthur (Coelhos)
Creche Mãezinha do Coque (Ilha de Joana Bezerra)
Creche Escola Ana Rosa Falcão de Carvalho (Santo Amaro)
Creche Escola Celeste Vidal (Guabiraba)
Creche Escola Alcides Restelli Tedesco (Madalena)
Creche Escola Dona Carmelita Muniz de Araújo (Guabiraba)
Creche Unidos Venceremos (Alto José do Pinho)
Creche Escola de Afogados
Creche Futuro do Amanhã (San Martin)
Creche Escola Recife do Ibura
Creche Recife 2000 (Areias)
Creche Escola Recife Esperança (San Martin)
PROJETOS DE CONSTRUÇÃO (EM LICITAÇÃO)
Creche Municipal da Várzea
Creche Municipal de San Martin
Creche Municipal Aeroclube (Pina)
Creche Municipal da Linha do Tiro
Creche Municipal do Córrego do Deodato (Água Fria)
Creche Municipal Vila Felicidade (Caxangá)
Creche Municipal Cosme Damião (Várzea)