ELEIÇÕES 2022 - DESAFIOS

UPE precisa de mais atenção do governo de Pernambuco

Mesmo com aumento do orçamento, UPE ainda precisa de mais investimentos. Construção de prédios, ampliação de espaços e fortalecimento da assistência estudantil devem estar na pauta do próximo governo

Margarida Azevedo
Cadastrado por
Margarida Azevedo
Publicado em 26/08/2022 às 7:00 | Atualizado em 26/08/2022 às 17:17
GABRIEL FERREIRA/ JC IMAGEM
IMPORTÂNCIA Instituição de Ensino Superior tem câmpus em 10 cidades de Pernambuco, com cerca de 15 mil estudantes de graduação e 3 mil de pós-graduação - FOTO: GABRIEL FERREIRA/ JC IMAGEM
Leitura:

Única instituição estadual de ensino superior pública, a Universidade de Pernambuco (UPE) precisa ser mais valorizada por quem assumir o comando do Estado a partir de 2023. Nos últimos anos, as dificuldades para pagar as contas e realizar investimentos foram motivos de preocupação do comando da universidade. Também de protestos dos alunos. Ano passado, em maio, os estudantes fizeram um ato em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Poder Executivo Estadual que fica no bairro de Santo Antônio, área central do Recife, para cobrar mais atenção da gestão.

É verdade que o orçamento da universidade vem recebendo um aporte maior de recursos do governo estadual. Para investimento e manutenção ganhou R$ 24,6 milhões em 2020, R$ 84,9 milhões ano passado e a previsão para 2022 é R$ 85,8 milhões (não entram despesas com as unidades de saúde e pagamento de pessoal). Um do motivos do crescimento foi a ampliação da arrecadação do Estado. Mas nos bastidores a percepção de diretores das unidades acadêmicas é que esse incremento ocorreu também por causa das eleições deste ano.

"O aumento foi importante para recompor o que perdemos, uma vez que de 2013 a 2020 não houve acréscimo no orçamento da UPE devido ao contingenciamento de gastos. Mas o crescimento desse orçamento, embora significativo, é insuficiente para recompor oito anos que passamos sem receber dinheiro para investimentos. Em função do sucateamento que a UPE passou nesse período, o próximo governador ou governadora tem que investir muito mais na universidade para que possamos recuperar esses prejuízos", alerta um dos gestores.

A UPE está presente em todas as regiões geográficas do Estado, com câmpus em 10 cidades pernambucanas. Tem cerca de 15 mil estudantes de graduação e 3 mil de pós-graduação. Soma 1.078 professores e 4.565 servidores. Para o próximo ano está prevista expansão com implantação de mais dois câmpus, nos municípios de Surubim, no Agreste, e Ouricuri, no Sertão.

Possui ainda três unidades de saúde que servem como campo de formação para futuros profissionais de saúde: o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e o Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (Procape), ambos em Santo Amaro, e o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), na Encruzilhada, todos no Recife.

"Houve uma grande conquista quando em 2010 a UPE virou gratuita, a partir de um decreto. Em 2020, o não pagamento de mensalidade se transformou em lei. Comemoramos muito. O problema é que o orçamento, apesar de ter aumentado, não acompanha as necessidades da universidade", diz o estudante João Vítor Mamede, 21 anos, aluno de direito e membro do diretório acadêmico do curso.

CONSTRUÇÃO DE PRÉDIOS

Além do orçamento limitado, a UPE tem duas questões urgentes que vêm sendo postergadas: a melhoria da estrutura predial e a ampliação da assistência estudantil.

O câmpus de Caruaru, no Agreste, foi criado 17 anos atrás, em 2005, e o de Palmares, na Zona da Mata, instituído nove anos passados, em 2013. Ambos ainda não têm sede própria.

O prédio da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP), que funcionava em Camaragibe, no Grande Recife, foi desativado em dezembro de 2019 por causa de riscos estruturais. Desde então, os futuros dentistas assistem às aulas em três locais diferentes no Recife: o Itep, na Cidade Universitária; o Cisam, na Encruzilhada; e Huoc, em Santo Amaro.

VEJA MAIS DESAFIOS NA EDUCAÇÃO

Lethícia Leão, 22, cursa o 5º período de odontologia. É da turma que não estudou no câmpus da FOP em Camaragibe. Desde que iniciou a graduação, em 2020, tem aulas nos prédios provisórios. "Vamos completar três anos nessa correria entre Itep, Cisam e Huoc e sem previsão de mudança. O deslocamento é complicado, tanto pela distância quanto pelo custo. No Itep, recentemente atendi um paciente com uma goteira bem em cima da minha cabeça. Nem sempre todas as cadeiras odontológicas funcionam. A segurança nos preocupa. A situação é muito ruim", afirma Lethícia.

Há um projeto para construção de um prédio no câmpus Santo Amaro para abrigar a FOP, mas por enquanto não saiu do papel. Foi inclusive promessa do governador Paulo Câmara, em um post que fez no Instagram no mesmo mês que a faculdade foi desativada em Camaragibe. A ideia é usar o dinheiro que o governo vai ganhar com a venda do terreno, cujo valor foi estimado pela gestão em R$ 29 milhões.

No câmpus Santo Amaro, uma das dificuldades é acomodar os alunos. Na Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG), uma das unidades acadêmicas do local, há nove salas de aula. Tem dias que não são suficientes para todas as turmas. A saída é colocar uma delas para assistir às aulas no auditório.

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Em 2005, a UPE foi pioneira ao adotar cotas nas graduações para egressos de escolas públicas (nas universidades federais foi somente em 2012). Começou com 20% das vagas e ano passado ampliou para 30%. Para 2023 serão ofertadas 1.800 vagas.

Mas a assistência estudantil é muito precária. Não há restaurante universitário em nenhum dos 10 câmpus. O número de graduandos que recebe alguma bolsa para se manter, deslocar ou ter conectividade é baixo: somente 842, equivalente a 5% do total de alunos. E com a pandemia de covid-19, a situação financeira de muitos discentes piorou, colocando em risco a permanência deles na faculdade.

Aluna de curso de saúde, Maiara Marques, 27, do 6º período de enfermagem, fica os dois turnos na UPE. Ingressou como cotista. Ela leva almoço de casa porque não consegue arcar com R$ 10 por dia para comprar o alimento. "Não temos restaurante universitário e a quantidade de bolsas é pouca", lamenta Maiara. "Meu marido é policial militar e temos um filho. Com muito sacrifício ele me ajuda. Mas o ideal era ter algum apoio da universidade", comenta a estudante.

"A UPE precisa superar a questão do subfinanciamento, ampliando a capacidade de investimentos, para fazê-la crescer em consonância com os desafios do mundo pós-pandemia. É urgente inserir a universidade nos diversos engenhos produtivos do Estado, internalizando as novas tecnologias do ensino. E investir no capital humano, melhorando o plano de cargos e carreiras dos professores e servidores", destaca o diretor da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), Durval Lins.

Comentários

Últimas notícias