atualizada às 17h05
Mesmo com a proibição de barracas na Praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco, algumas estruturas foram vistas montadas na areia, com os tradicionais guarda-sóis coloridos e cadeiras, nesta quarta-feira (19). Devido à pandemia do novo coronavírus, os barraqueiros estão proibidos de retomarem as atividades. A movimentação pode ser notada por imagens registradas e divulgadas por comerciantes e frequentadores do balneário, considerado um dos principais cartões-postais do Estado.
Um comerciante que preferiu não se identificar disse que a categoria não obteve a resposta do governo de Pernambuco sobre a volta às atividades que estava prevista para a última terça-feira (18). "Eles estão parados há cinco meses e frustrados com o retorno de vários segmentos, como restaurantes, bares, lojas, passeios de jangada e buggy. Só eles e o mergulho não voltaram", alegou.
>> Saiba como é embarcar no Aeroporto do Recife durante a pandemia
>> Como é a experiência de se hospedar em um resort de Porto de Galinhas ainda na pandemia
Segundo a assessoria da Prefeitura de Ipojuca, as associações dos ambulantes e barraqueiros foram notificadas para que eles tivessem ciência de que estão descumprindo a determinação da gestão Estadual. A prefeitura alega que não pode realizar a fiscalização do cumprimento dessas medidas porque o decreto é Estadual, então a responsável por isso seria a Polícia Militar, e não a Guarda Municipal.
De acordo com Everlando José, representante da Associação dos Barraqueiros de Porto de Galinhas, a atitude tomada pela categoria seria em resposta à falta de resposta por parte do governo de Pernambuco sobre o retorno das atividades. "No dia 20 de julho, o Governo do Estado disse que a gente voltaria com os bares, restaurantes e similares (barracas de praia e comércio de ambulantes na faixa de areia), mas não permitiram que a gente voltasse", explicou ao JC.
Quando aconteceu a primeira mobilização, no dia 20 de julho, Everlando afirmou que uma comissão representante da categoria foi recebida pelo secretário executivo da Casa Civil, Eduardo Figueiredo, que prometeu dar uma resposta à categoria, mas isso não teria sido cumprido, segundo ele. "Fizemos uma manifestação em Boa Viagem (na Zona Sul do Recife), e o governo disse que nos daria uma resposta ontem [terça, 18], dizendo a data do nosso retorno. Não estávamos preocupados com a data em si, mas queríamos uma resposta. A gente disse a Eduardo Figueiredo na reunião que, se o governo não cumprisse com sua palavra no dia 18, nós iríamos cumprir com a nossa, e voltar à faixa de areia, seguindo os protocolos apresentados pela Prefeitura de Ipojuca ao governo, no dia 20, mas não foi autorizada a conduzir a reabertura das barracas e volta dos ambulantes na praia", acrescentou.
Quanto à notificação por parte da Prefeitura à Associação dos Barraqueiros, Everlando disse que não tem como esperar mais tempo. "São 127 barracas e 750 ambulantes em Porto de Galinhas. Essas pessoas só não estão passando fome porque estão recebendo um auxílio de R$ 500 da Prefeitura. O valor não atende todas as necessidades, mas ajuda. Ficaremos esperando uma posição do governo até quando?", questionou.
Durante entrevista aos jornalistas Felipe Vieira e Wagner Gomes, no programa Balanço de Notícias, da Rádio Jornal, o secretário de Defesa Social de Ipojuca, Osvaldo Morais, informou que a prefeitura foi "surpreendida" com a presença dos ambulantes e barraqueiros, no entanto, "optou por não entrar em confronto por saber da necessidade deles. São pessoas que precisam trabalhar". Para não entrar em conflito, o secretário informou que a opção foi a Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano do município notificar as duas associações.
"Eles (os trabalhadores) estão vendo os restaurantes funcionando na praia, hotéis, pousadas, e se perguntam por que não eles já que os registros da covid em Ipojuca estão com números muito bons. Nós estamos há 29 dias sem uma morte. Então, como forma de protesto, eles invadiram a praia e foram comercializar, comentou o secretário.
Segundo Morais, caso os barraqueiros e comerciantes voltem às praias, haverá outras notificações. "A gente entende a necessidade deles, mas entende também que o decreto está em vigor", comentou.
Para o secretário de Defesa Social, o governo de Pernambuco precisa dar uma resposta sobre a volta das atividades dos barraqueiros e comerciantes o quanto antes. "Eu acho que o que falta é responder: 'ó, não vai ser essa semana. Vai ser semana que vem por causa disso, disso e disso'. E eu acho que isso os barraqueiros e ambulantes vão entender, mas eles não podem ficar sem uma resposta. Por isso que eles tomaram uma atitude desesperada e foram para a praia", disse.
O secretário-geral da Associação dos Artesãos e Vendedores Ambulantes de Artigos Diversos em Ipojuca (AVADIR), Bira Coutinho, também conversou com a reportagem do JC e falou sobre como a categoria está vivendo em meio à pandemia, financeiramente falando. "A situação dos nossos companheiros na praia é precária. É uma situação, eu posso dizer com certeza, que é de fome. Porque já fazem 150 dias que nós estamos sem trabalhar. Tivemos uma ajuda por parte da Prefeitura, por meio de uma ação que contemplou quatro mil famílias com quatro parcelas de R$ 500. Então nós estamos tendo um suporte deles, mas o que a gente quer realmente é voltar a trabalhar. A gente quer nosso direito de trabalhar retomado", destacou.
"Infelizmente, o governo não nos dá uma data. Na semana passada, eles disseram que iriam se pronunciar, passando para a gente um novo protocolo, que seria um protocolo simples. A Prefeitura [de Ipojuca] se antecipou. Já fez treinamentos com barraqueiros, garçons e com ambulantes antes mesmo disso, mas, mesmo assim, eles não cumpriram", alegou.
Bira revelou que a categoria deverá continuar na faixa de areia trabalhando novamente. "Se o governo não se pronunciar, amanhã nós estaremos na praia novamente. Amanhã, inclusive, mais trabalhadores voltarão", acrescentou. Infelizmente, está havendo um descaso enorme por parte do Governo. Voltou tudo, voltou Feira da Sulanca, e não nos colocam em nenhuma fase de abertura, isso é o que nos deixa muito tristes e chateados. Paulo Câmara não está cumprindo o que ele prometeu".
Ainda de acordo com Bira, a categoria não pretende voltar ao Palácio do Governo para fazer uma outra manifestação, como aconteceu no dia 20 de julho. Isso só acontecerá se não houver uma resposta por parte do governo.
Procurado pela reportagem, o governo de Pernambuco informou, por meio do Gabinete de Enfrentamento ao Coronavírus, que "analisa constantemente os indicadores de saúde para deliberação sobre a flexibilização dos protocolos de segurança e higiene. Com relação ao retorno do comércio na faixa litorânea, a Empresa de Turismo de Pernambuco informa que está finalizando os últimos ajustes do protocolo específico que vai contemplar as diversas peculiaridades do segmento, além do período oficial da retomada".
Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) informou que, "a PMPE, por meio do 18° Batalhão, apoia a Prefeitura de Ipojuca, representada pela guarda municipal e órgão de Controle Urbano, nas fiscalizações de medidas sanitárias".
"Ações estão em curso para garantir o cumprimento dos decretos estaduais. A população pode ajudar, não apenas denunciando irregularidades, através do 190, mas atuando como fiscal, ajudando as autoridades a coibir práticas que coloquem em risco a saúde da população como um todo", concluiu a SDS.
Ipojuca integra a Macrorregião 1 de Pernambuco, que compreende o Grande Recife e as Zonas da Mata, e que está na etapa mais avançada do Plano de Convivência com a Covid-19 de Pernambuco. No dia 30 de julho, houve a liberação da volta dos jangadeiros no litoral de Ipojuca. Segundo a determinação do município, só está permitido a atividade com 50% do número de jangadas e 4 pessoas por embarcação (antes eram 6 por passeio), além da obrigatoriedade de se fazer uma higienização entre um passeio e outro.
As praias do litoral ipojucano estão abertas exclusivamente para práticas esportivas individuais com permissão para o banho de mar das 4h às 16h, sendo proibido o uso de cadeiras, guarda-sóis, collers e comércio à beira-mar. O uso de máscara é obrigatório na faixa de areia.
Na fase 7, shoppings, centros comerciais e serviços de alimentação, como restaurantes e lanchonetes, passaram a funcionar até as 22h. Antes, o funcionamento estava restrito até as 20h. Além disso, clubes esportivos passaram a promover competições. Os torneiros, no entanto, não podem contar com o público.
Igrejas e templos também aumentaram a capacidade de funcionamento, Aquelas que possuem espaço para até 999 fiéis podem receber 30% da sua capacidade total, enquanto as instituições com área para mais de mil fiéis podem funcionar com 20% da capacidade. Por fim, os cursos livres presenciais também retornaram na última segunda-feira (17). Nessa fase, estão autorizados apenas estudantes a partir de 18 anos de idade e as instituições de ensino só poderão receber até 25% da capacidade. Não estão autorizados os cursos preparatórios para o ENEM, SSA e outros vestibulares ou disciplinas específicas. Seguem fechados os museus e cinemas, parques de diversão, zoológico e serviço público.
Segundo o boletim divulgado pela Prefeitura de Ipojuca nessa terça-feira (18), o município registrou 750 casos confirmados, sendo 536 leves e 214 graves, e 90 óbitos. Além disso, 540 casos suspeitos foram descartados, 104 estão em investigação com isolamento, e 613 pessoas se recuperaram.
Em Pernambuco, os dados mais atualizados foram divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) no final da manhã desta quarta-feira (19). Segundo o boletim, o Estado confirmou, nas últimas 24 horas, mais 1.429 novos casos da covid-19. Entre os confirmados, 77 são casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e outros 1.352 (95%) são leves. Com isso, Pernambuco totaliza 115.217 casos confirmados desde o início da pandemia, sendo 24.953 graves e 90.264 leves.
Além disso, foram confirmados 28 óbitos ocorridos desde o dia 15 de maio, totalizando 7.280 mortes provocadas pelo novo coronavírus desde março.