O estado de degradação do Centro do Recife não é bem uma novidade. Aliás, perpassa gestões municipais com uma espantosa regularidade, como se o abandono do pedaço mais rico em história da capital fosse inevitável como a força da gravidade.
Enquanto mais uma corrida pela prefeitura bate à porta, hora de perguntar aos postulantes: qual é o seu plano para recuperar o Centro do Recife? Quem não o tiver simplesmente não pode sequer cogitar almejar a cadeira. E não adianta vir com maquetes mirabolantes feitas em computação gráfica e que, vez por outra, ficam pelo caminho (como mostramos na edição passada): é preciso foco e pés no chão, dados os desafios econômicos do futuro pós-pandemia. Algo que se possa realizar - ou ao menos deixar bem encaminhado - nos quatro anos de mandato.
Há os grandes desafios, como a criação de um modelo sustentável que incentive a moradia, recupere o hoje moribundo comércio do local e atraia novos investimentos em serviços, lazer e entretenimento.
Mas pode-se começar com o mínimo de cuidado com o ambiente. O Centro do Recife é, hoje, um verdadeiro lixeiro a céu aberto. Ao longo da semana passada, por três dias, percorremos vários locais e o sentimento de abandono é latente. Há dejetos espalhados por muitas vias, pequenas ou grandes. Parte da culpa, não custa lembrar, é da própria população, que é quem joga o lixo nas ruas. Mas, fosse o ambiente diferente, bem cuidado e agradável, aconteceria a mesma coisa?
Prédios pichados, luminárias arrancadas, paradas de ônibus sem abrigo, fiação elétrica perigosamente pendendo sobre as cabeças dos pedestres...andar pelo Centro, principalmente nos bairros de Santo Antônio e São José, está longe de ser uma experiência agradável.
Ainda faltam chegar por lá as experiências que fizeram do Bairro do Recife um exemplo de local minimamente destinado ao turismo e a algumas atividades, mais notadamente no setor de tecnologia da informação.
O Plano Diretor do Recife, que traria diretrizes para futuras intervenções no Centro, se arrasta sem uma definição. O Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI), espécie de norma para as 14 cidades da RMR, também está em fase de elaboração. Ou seja, mesmo os nortes para as futuras políticas ainda vão demorar para sair.
Até lá é preciso de um mínimo de cuidado. A atual gestão foi mais uma que sairá sem conseguir avanços significativos na área. Em oito anos, a principal obra no Centro do Recife veio no apagar as luzes: a requalificação da Avenida Conde da Boa Vista.