Estátua de Ariano Suassuna é alvo de vandalismo no Centro do Recife

A obra, que mede 1,80, é assinada pelo artista plástico Demétrio Albuquerque e integra o Circuito da Poesia da capital pernambucana desde 2017
JC
Publicado em 21/09/2020 às 7:47
A escultura do escritor foi danificada por ação de vândalos no dia 21 de setembro Foto: BETO DLC/JC IMAGEM


A escultura do escritor paraibano Ariano Suassuna, que fica na Rua da Aurora, no Centro do Recife, foi alvo de vandalismo na madrugada desta segunda-feira (21). A obra, que mede 1,80, é assinada pelo artista plástico Demétrio Albuquerque e integra o Circuito da Poesia da capital pernambucana desde 2017. Quem passa pelo local pode observar que a estátua foi derrubada e se encontra com os pés e as pernas quebradas.

O Circuito da Poesia contempla esculturas em tamanho real, que homenageia artistas da música e da literatura. Além de Suassuna, o projeto possui estátuas de Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira. A obra em homenagem ao escritor paraibano foi colocada em frente ao Teatro do Arraial, inaugurado por Ariano em 1997 e que, desde 2004, leva o seu nome. 

Ariano Suassuna

Nascido no ano de 1927, na cidade de Taperoá, no interior da Paraíba, Ariano radicou-se em Pernambuco ao ponto de se intitular "o paraibano mais pernambucano que existe". Era torcedor ferrenho do Sport e costumava frequentar a Ilha do Retiro para ver jogos do time do coração.

Dentre as suas obras mais conhecidas estão O Auto da Compadecida, publicado em 1957, e A Pedra do Reino, de 1971. Os dois viraram séries na Rede Globo. Em 2015, desenhos criados por Ariano em 1970 foram descobertos. Eram mapas, brasões, bandeiras, personagens.

 

 

Ariano faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Hospital Português, onde estava internado após sofrer um acidente vascular cerebral. Foi sepultado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife. Quando ainda estava internado, o ator Mateus Nachtergaele, que interpretou João Grilo, escreveu uma carta para Ariano.

Ariano era, tanto quanto um escritor célebre, um filósofo em essência: pensava sobre a vida e o homem, desgostos e sonhos, rumos e permanência. Entre tais reflexões, estava a sua diferenciação sobre ‘êxito’ e ‘sucesso’: afirmava que só o tempo era capaz de dimensionar e validar o êxito de uma obra de arte. Para exemplificar, dizia que Lady Gaga era sucesso; o Dom Quixote conquistara êxito. O Auto da Compadecida é êxito inconteste.

 

Confira os homenageados pelo Circuito da Poesia, no Recife

Antônio Maria (1921/1964)
Poeta, compositor e um dos maiores cronistas brasileiros de sua época. É dele a famosa frase: “Se você me encontrar dormindo, deixe; morto, acorde”. A escultura do artista está na Rua do Bom Jesus, chamada no tempo de ocupação flamenga (1630/1654) “Rua dos Judeus” por abrigar estabelecimentos comerciais judaicos e a Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira das Américas, hoje Centro Cultural Judaico de Pernambuco.

Ascenso Ferreira (1895/1965)
Poeta da primeira geração do Modernismo e autor de obras como “Catimbó”, “Cana Caiana” e “Xenhenhém”, tem sua produção estudada por grandes nomes da crítica e literatura brasileiras. No Cais da Alfândega, como a contemplar o rio Capibaribe, está a escultura do poeta. Ainda na área, o Paço Alfândega, centro de compras, cultura, lazer e gastronomia que funciona em prédio histórico datado de 1732.

Capiba (1904/1997)
Foi um dos maiores compositores que Pernambuco já conheceu. Autor de memoráveis frevos que animam o Carnaval do Recife, está imortalizado às margens do rio Capibaribe, na Rua do Sol, cenário da reta final do monumental desfile carnavalesco do Galo da Madrugada.

Carlos Pena Filho (1928/1960)
Pela delicadeza da sua obra, Gilberto Freyre o comparou a um pintor de palavras. Poeta, jornalista e advogado, faleceu aos 32 anos. A escultura do poeta está na Praça da Independência, espaço comercial do Recife desde o tempo dos holandeses em Pernambuco (1630/1654). Diante da Praça funcionava a sede do mais antigo jornal em circulação na América Latina, o “Diario de Pernambuco”, do qual Carlos Pena Filho foi colaborador.

Chico Science (1966/1997)
Compositor e criador do manguebeat, movimento musical que nasceu no Recife na década de 90 e que mistura ritmos regionais com rock, hip hop, samba-reggae, funk e rap. Sua escultura ocupa um espaço na Rua da Moeda, no Bairro do Recife, polo original dos eventos relacionados ao manguebeat.

Clarice Lispector (1920/1977)
Escritora ucraniana que passou parte de sua infância no Recife, onde aprendeu a amar os livros e ensaiar as suas primeiras incursões pela vida literária. Sua escultura foi colocada na Praça Maciel Pinheiro, cujo entorno revela interessantes atrativos como a Rua da Imperatriz, com seu comércio popular; a Matriz da Boa Vista da Irmandade do Santíssimo Sacramento; o Teatro Parque; e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

João Cabral de Melo Neto (1920/1999)
Um dos maiores poetas brasileiros e autor da antológica obra “Morte e Vida Severina”, é homenageado na Rua da Aurora. João Cabral de Melo Neto foi diplomata, membro da Academia Brasileira de Letras e, por sua atividade literária, recebeu diversos prêmios, a exemplo do Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro “Crime na Calle Relator” (1988).

Joaquim Cardozo (1897/1978)
Poeta e engenheiro civil, trabalhou com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Sua obra poética, filiada à segunda geração do Modernismo, tem como temas constantes o Recife e a região Nordeste. É considerado um dos maiores poetas do século XX. A Ponte Maurício de Nassau, situada no local onde existiu a primeira ponte do Brasil, abriga a escultura do Poeta.

Luiz Gonzaga (1912/1989)
Conhecido como “O Rei do Baião”, ganhou fama com músicas que retratam o modo de ser e de viver do nordestino. Sua escultura está situada na Praça Visconde de Mauá, diante da antiga Estação Central do Recife (1888) e da Casa da Cultura de Pernambuco, centro de comercialização artesanal instalado em prédio onde funcionou a antiga Casa de Detenção do Recife.

Manuel Bandeira (1886/1968)
Precursor do movimento Modernista, é homenageado na Rua da Aurora, considerada por Gilberto Freyre “a mais recifense de todas as ruas”. Nesta via, especiais encantos: antigos sobrados e casarões do século XIX, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM, os prédios da Assembleia Legislativa e do tradicional Ginásio Pernambucano, a monumental figura do caranguejo, retratada através da escultura coletiva “Carne da Minha Perna”, uma homenagem ao movimento manguebeat, e o Cais da Aurora.
Em suas obras, Manuel Bandeira abordava temáticas cotidianas e a capital pernambucana foi uma delas, como em Evocação do Recife. Além de poeta, ele foi jornalista, cronista, ensaísta, tradutor, professor de Literatura e membro da Academia Brasileira de Letras.

Mauro Mota (1911/1984)
Jornalista, poeta e ensaísta, autor de obras como “Elegias”, “Imagens do Nordeste” e “Canto ao Meio”. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. A Praça do Sebo, tradicional local de venda de livros raros e usados, recebeu sua escultura.

Solano Trindade (1908/1974)
Poeta, pintor e folclorista foi, segundo Carlos Drummond, o maior poeta negro do Brasil. Também cineasta e teatrólogo, fundou o Teatro Experimental do Negro e o Teatro Popular do Brasil. Sua escultura está no Pátio de São Pedro, um dos mais importantes polos de animação do Recife. Na área, são destaques as edificações do século XVIII, a Concatedral de São Pedro dos Clérigos (1728/1782) e os múltiplos espaços culturais.


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