Por Fernando Castilho, da Coluna JC Negócios.
Foi assim: No exercício da Presidência da República, Marco Maciel recebeu o empresário pernambucano, Ricardo Brennand - que morreu neste sábado 25 de abril de 2020, aos 92 anos, vítima do novo coronavírus -, com um abraço e um pedido.
Ricardo, tenho uma missão para você servir a Pernambuco. Este ano, completam-se 350 anos da morte de Albert Eckhout, o governo holandês aceitou uma sugestão nossa para trazer as obras que ele pintou no Brasil. Mas exige que tenhamos uma instalação que abrigue as obras que serão expostas ao público. Preciso que você nos ajude a realizar esse evento.
"Sim, Marco Antônio", prometeu Brennand, sem ter ideia de que um ano depois gastaria U$ 1 milhão no Instituto que leva o nome de seu tio homônimo, no mesmo sítio onde estava construindo um castelo para abrigar sua coleção, que, entre outras obras, tem nada menos que 11 gravuras de Franz Post, que também esteve no Brasil e retratou o Recife. O Instituto Ricardo Brennand abrigou a exposição “Albert Eckhout Volta ao Brasil”, em 2002.
Foi assim que o discreto industrial Ricardo Brennand virou mecenas. Engenheiro de formação, apaixonado por arte, objetos medievais e um comprador voraz de telas, esculturas e até muros de castelos ingleses entrou para o cenário nacional de apoiador das artes plásticas, certamente, o maior do Nordeste.
Certa vez, numa conversa com jornalistas, Brennand confessou: Como empresário, nossa família ajudou o Brasil, eu mesmo construí fabricas e participei de grandes projetos. Mas eu nunca me senti tão reconhecido pela sociedade como depois que construí o IRB. Virei uma estrela!
O mundo artístico lhe fez justiça. O museu é formado por três edificações espalhadas em um terreno de 18 mil hectares: o Castelo São João, que abriga a coleção de armas adquiridas por Ricardo Brennand ao longo de sua vida; a Pinacoteca, com capacidade para três exibições simultâneas; e a Galeria, onde são realizadas as exposições itinerantes e eventos como casamentos.
Irreverente, gentil e educado, “Seu Ricardo” participou, primeiro ao lado do primo Cornélio, e depois como líder de um grupo que levou o seu nome depois da cisão do antigo Grupo Brennand, de projetos que vão de usinas de açúcar, cerâmica, fábrica de vidros, geração de energia e especialmente cimento uma paixão que o fez voltar ao negocio depois que terminou a quarentena exigida pelo grupo português Cimpol, que em 1987 adquiriu as fabricas do grupo.
Brennand cuidou pessoalmente da implantação das fábricas, tanto a de Sete Lagoas/MG como a de Pitimbu/PB, que entrou em operação no momento crítico da economia brasileira durante a crise de 2106 e 2016 com a marca Cimento Nacional.
Na verdade faz parte de que iniciou suas atividades com a produção de açúcar e álcool, em 1917, e décadas depois diversificou e expandiu suas atividades para a produção de cerâmica, vidro, cimento e aço, quando ainda fazia parte de um outro grupo industrial com forte atuação no Norte-Nordeste.
Mas Ricardo foi sempre um empreendedor de gestos simples embora refinado devido a educação esperada e ascendência familiar no ramo industrial há mais de 100 anos.
Amigo de personagens importantes da economia pernambucana como Amando Monteiro Filho, Jorge Baptista da Silva e Antonio Queiroz Galvão, Ricardo Brennand gostava de conversar tanto sobre energia, cimento e cerâmica vidreira como sobre arte, de cultura e livros.
Quando comprou a biblioteca do escritor José Antônio Gonsalves de Mello, com nada menos que 60 mil títulos, o renomado professor perguntou quando pretendia levá-la ao IRB. Ricardo disse: José, essa biblioteca é a sua vida. Só sairá daqui quando você não puder mais cuidar dela. Ela permaneceu com o escritor até 2002 quando ele faleceu.