Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios.
Em 2015, cinco anos depois de o Ministério da Educação turbinar o Fies, programa de financiamento para estudantes do ensino superior onde gastou mais de 30 bilhões de reais para pagar as mensalidades de 1,5 milhão de estudantes, o Governo Dilma Rousseff decidiu dar uma “geral” no setor.
Ele passou a exigir uma pontuação mínima no Enem (450 pontos em 1000 possíveis). Era o fim de um programa lançado no Governo Lula que decidiu colocar dinheiro do contribuinte para levar mais alunos pobres a um curso superior pagando as mensalidades de 1,5 milhão de estudantes.
Foi um baque enorme. Mudou o cenário de empresas que com a garantia de pagamento das mensalidades, partiram para aquisições, cresceram e monetizaram o negócios com entrega de recebíveis aos bancos já que o governo garantia de recebimento.
A nova realidade pegou as empresas de surpresa como Kroton, Estácio e Ser e elas precisaram se reinventar. No caso do pernambucana Ser foi um desafio para a empresa que fizera a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em outubro de 2013.
Ela tinha forte atuação no Norte e Nordeste sendo a maior organização privada no setor de ensino superior nas regiões em número de unidades e no Pronatec.
Foi um período difícil. Gigantes como a Laureate passaram a assediar as empresas brasileiras e, durante todo o ano de 2015, o controlador da companhia, Janguiê Diniz recebeu sondagens de discretos emissários interessados numa possível aquisição.
Na época, fontes do mercado chegaram falar em proposta de, pelo menos, R$ 500 milhões pelo Ser. Diniz - que vendera 42,55% da companhia para investidores como Oceana AVCM, entre outros, em 2013 - decidiu ficar no negócio.
Ele reinvestiu no capital na empresa, redefiniu sua atuação e manteve o programa de crescimento orgânico com aquisições até que, no começo desse ano, surgiu a oportunidade de dar o seu maior passo: a aquisição da operação Brasil da gigante Laureate.
A Laureate é negociada na Nasdaq (NASDAQ: LAUR) com operações no México, Honduras, Peru, Austrália, Malásia, Reino Unido além dos Estados Unidos a partir de Baltimore.
Neste domingo, o Ser pôde comunicar a compra da operação no Brasil da Laureate que tem um total de 267 mil alunos matriculados pagando US$724 milhões equivalente as R$ 3.862 bilhões.
O grupo Ser vai pagar R$ 1,7 bilhão mais R$ 623 milhões em dívidas a serem recebidos pelo empresa americana e entregou de 44% das ações ordinárias nominativas para a empresa americana.
O contrato tem uma cláusula interessante: a Laureate não poderá votar com ações da Ser representativas de mais de 7,5% do capital social total da Ser.
Dessa forma, Janguiê Diniz deterá aproximadamente 32,1% das ações do capital social da Ser, continuando a exercer o seu direito de voto como acionista controlador.
Ou seja, ele vai continuar liderando a empresa no Brasil. Da mesma forma a empresa americana agora tem no seu portfólio as ações da companhia brasileira.
Ter um sócio como a Laureate coloca o empresário em novo patamar no mercado de educação superior no Brasil. Mas a Laureate lhe dará uma presença colossal em São Paulo onde controla o Centro Universitário FMU, no Rio Grande do Norte a Universidade Potiguar além da Centro Universitário Guararapes (UniFG).
A Laureate também controla o Business School São Paulo e o Cedepe Business School focadas em cursos de pós-graduação em negócios.
Nada mal para quem, ao entrar na B3, tinha, em junho de 2013, apenas 23 unidades e 76 mil alunos matriculados e, este ano, declarou ter 180 mil estudantes dos cursos presenciais e EAD das suas marcas seis marcas (Uninassau, Unama, Ung, Uninorte, Uninabuco e Univeritas) distribuídos pelo o Brasil.
A partir de agora, além de estar ligando a uma empresa com ações na Nasdaq, Janguiê Diniz agora lidera uma rede de 450 mil alunos.