Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Com uma perda de 5,35% apenas no pregão da B3 desta segunda-feira (23), o Carrefour iniciou uma forte ofensiva para tentar provar que além de uma empresa inclusiva, é uma empresa que está fortemente comprometida em rever seus processos e aprender com os erros.
Não será fácil. Nos últimos anos, problemas de agressões de funcionários a clientes entraram nas estatísticas que no máximo subiam para o diretor administrativo e jamais eram abordadas nas reuniões com o presidente. A morte de João Alberto, embora seja o fato mais trágico, veio somar-se a uma série de eventos de menor repercussão que passaram despercebidos, apesar de serem graves.
Por exemplo: Aqui no Recife, a morte de um cliente dentro da loja do bairro da Torre, não fez a unidade fechar e, para disfarçar o corpo, a empresa o cobriu com vários guarda-sóis, de modo a não perder o faturamento.
Há registros de outros casos de vítimas nas unidades das redes nos últimos anos. Isso sem falar que ainda este ano o Carrefour entrou no noticiário com o caso da morte por um seguranças de uma cadela numa de suas lojas.
Eram pequenos sinais que a disputa feroz com os demais gigantes do setor jamais seriam temas de abordagens sobre como seus serviços de seguranças estavam atuando. E foi isso que levou a tragédia de João Alberto.
Nesta segunda-feira, depois de gastar um bom dinheiro com depoimentos constrangidos de seus diretores em rede nacional, o Carrefour anunciou que está disposto a gastar mais dinheiro para corrigir suas falhas.
O grupo no Brasil afirmou que está fortemente comprometido em lutar pelo combate ao racismo estrutural no país e promover ações afirmativas para a inclusão social e econômica de negros e negras na sociedade.
E para sustentar este compromisso, a companhia anunciou a criação de um fundo que inicialmente terá o aporte de R$ 25 milhões. O valor é adicional à doação anunciada pela empresa, que reverterá todo o resultado das vendas realizadas em todos os hipermercados da rede no país no dia 20 de novembro.
É um gesto importante. Se a companhia tomar providências internas pode se recuperar e se transformar num exemplo de superação. Noël Prioux, CEO do Grupo Carrefour Brasil, aquele sujeito que apareceu no Jornal Nacional com um sotaque carregado e constrangido pedindo desculpas, disse que saber que não pode reparar a perda da vida do senhor João Alberto.
Mas é necessário que “este movimento” seja mesmo o primeiro passo da empresa para que o combate ao preconceito e racismo estrutural, que é urgente no Brasil, ganhe ainda mais força e apoio da sociedade. E disse acreditar que sua empresa pode evoluir e contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
Nos últimos dias, a empresa vem se reunindo com entidades representativas da causa e com especialistas que atuam nesta frente, visando compreender e aprender sobre como atuar de forma concreta na luta contra todo e qualquer tipo de discriminação, que inclui também outras minorias.
A empresa também disse que a partir das reivindicações anunciará na quarta-feira, 25 de novembro, os compromissos e o plano de ação do trabalho que nortearão este fundo. As iniciativas compreenderão ações internas e projetos de âmbito externo, visando promover ações que envolvam seus milhares de colaboradores e também seus públicos externos.
Tudo isso é muito bom. Talvez esse dinheiro seja maior que a maioria dos movimentos de defesa dos cidadão negros no Brasil conseguiram até agora. É possível que seu exemplo faça outras empresas a rever processos e abordagens de seus colaboradores em situação de estresse. Mas é preciso mais. Um movimento que faça seus funcionários cuidarem de si na medida em que o confronto com casos como o que levou a morte de João Alberto, na leve a serem participes de ações que não são mais toleráveis.
E parece claro que o Carrefour entendeu que é preciso entender as manifestações fúria e desordem que alguns grupos perpetram ao menos neste primeiros dias. Nisso, o comportamento da empresa se diferencia. Como que entendendo que é necessário “descarregar” essa ira ainda que de uma forma irracional.
O noticiário policial revela claramente que a morte de João Alberto aconteceu numa situação em que os problemas que ele causara na loja era uma oportunidade de dar uma espécie de corretivo. O problema é que ninguém prestou a atenção quando ele dava sinais de asfixia.
Isso é um caso que pode ajudar ao Carrefour. Como empresa de varejo ela tem uma marca de está inserida em diversas inciativas de apoio ao clima, de produzir e vender produtos sustentáveis e fazer parte de uma cadeia de suprimentos de produtos agrícolas que poucas redes do setor estão envolvidas.
O problema é que a mesma empresa que cuida do clima e de ser ambientalmente sustentável, revelou-se descuidada com a integridade de suas clientes e o mais grave, permitir que seus colaboradores se juntassem a ações de terceirizados em atos de violência.
É nisso que a empresa deve investir. Na construção de uma cultura de proteção não só a saúde do cliente, mas de sua integridade física. Tomara que possa fazer sua equipe aprende com o erro trágico do dia 20 de novembro.