Posição do Brasil na tecnologia 5G será determinante no mercado global de telecomunicações

O 5G é um ecossistema completo que envolve antenas inteligentes, agregação de operadoras, entre outras tecnologias
Fernando Castilho
Publicado em 06/12/2020 às 21:00
No Brasil, a Huawei e a Ericsson têm cerca de 40% de participação do mercado seguido da Nokia, com 20%. Foto: NICOLAS ASFOURI/AFP


Por Fernando Castilho, da Coluna JC Negócios do Jornal do Commercio 

A menos que a Ericsson, Nokia e Samsung consigam montar um pacote de tecnologia competitivo, as chances de o Brasil adotar a tecnologia desenvolvidas pela Huawei para o 5G são cada vez maiores.

E não vai adiantar muito o governo Bolsonaro se enrolar na bandeira americana para defender o pacote das três marcas que, aliás, nem são americanas.

O que o governo brasileiro não entendeu - porque não consultou os operadores que atuam no Brasil - é que a maior parte dos sistemas de 3G e 4G que rodam no Brasil já são da Huawei.

Antes de chegar no 5G, a companhia chinesa se tornou um fornecedor competitivo de partes dos sistemas de retaguarda e redundância. Não faz isso só no Brasil, mas em dezenas de países. Inclusive nos Estados Unidos como suporte ao 4G onde, ao contrário do Brasil, lá funciona muito bem.

Isso explica por que as associadas à Conexis Brasil Digital (nova marca do SindiTelebrasil) divulgaram uma carta lembrando que todos os fornecedores globais já atuam no país nas tecnologias 4G, 3G e 2G. No fundo, o que elas dizem é que possuem expertise técnica e grande experiência nos mais elevados e críticos quesitos de privacidade e segurança de rede, e podem contribuir com soluções técnicas eficazes nas discussões que envolvem toda nossa cadeia de produtos e serviços, preservando a segurança do país. Lembram ainda que representam cerca de 4% do PIB e que já investiram no país mais de R$ 1 trilhão de reais desde a privatização.

A posição de Bolsonaro em apoiar a decisão americana foi tomada na perspectiva de Trump vencer as eleições e governar por mais quatro anos. Biden não vai apoiar a Huawei. Os Estados Unidos vão continuar a pressão. Mas o problema é que as empresas que vão operar a 5G, aqui, já usam o modelo Huawei.

O que pouca gente percebe é que 5G quer dizer uma série de outras tecnologias envolvidas, o 5G é um ecossistema completo que envolve antenas inteligentes, agregação de operadoras, entre outras tecnologias.

Tudo isso tem a ver com um negócio chamado Latência - termo técnico para identificar o tempo de resposta de uma rede, a partir do momento em que o usuário faz uma solicitação (como, por exemplo, acessar uma página ou baixar um arquivo).

É como se fosse o tempo de reação de uma rede – da mesma forma que o cérebro humano reage a algo que vê ou sente. Na média, a latência de uma rede 4G gira em torno de 50 milissegundos (MS). Já a latência prevista para as redes 5G é de 1 ms. 

Os repórteres Bruno Capelas, Marcela Coelho, William Mariotto e Marcos Muller do jornal o Estado de S. Paulo produziram uma matéria onde estimam que, no potencial máximo, a tecnologia 5G seja capaz de atingir velocidade de download de 10 gigabits por segundo (Gbps) – dez vezes mais do que o máximo possível de ser alcançado por uma rede 4G.

O 5G também vai beneficiar sistemas como casas conectadas e cidades inteligentes. A meta de fabricantes é de que os sensores tenham baixo consumo de energia, o que permitiria que qualquer máquina tenha um sensor.

A Huawei, que investiu globalmente cerca de US$ 4 bilhões em 5G entre 2009 e 2019, planeja fabricar localmente a nova tecnologia em uma de suas duas unidades de produção. Atualmente, cerca de 40% dos componentes ofertados no Brasil já são manufaturados em Sorocaba (SP) e em Manaus (AM).

Antes de chegar na ponta, um monte de equipamentos precisam ser ligados e conectados. Huawei, Ericsson, Nokia e Samsung são os principais fabricantes de infraestrutura no mundo, o que inclui 4G e 5G. No Brasil, a Huawei e a Ericsson têm cerca de 40% de participação do mercado, seguido da Nokia, com 20%. Isso explica o aviso de que podem ir ao STF.

A visão do governo pró-Estados Unidos condena as empresas brasileiras a comprar, mais caro, a tecnologia da Ericsson, Nokia e Samsung que sequer têm um pacote pronto. Desde de 2019, que os EUA se mostraram contrários a qualquer tipo de expansão da Huawei e ganhou atenção quando se trata de ações da empresa no Brasil.

O governo dos EUA intensificou o lobby contra a entrada da empresa no mercado brasileiro do 5G. De qualquer forma eles obtiveram uma vitória. O leilão da nova tecnologia está previsto para o segundo semestre próximo ano.

Hoje, 46 países já operam o sistema ou efetuam testes. Desses, 23 já estão usando a 5G. Quinze estão fazendo teste de campo. E sete, México, Panamá, Argentina, Paquistão, Índia, Bangladesh e o Brasil, estão fazendo testes.

Mas o Brasil é importante porque depois da Índia é o mercado de maior potencial. O Brasil é um país extremamente conectado por celulares: há hoje 230 milhões de celulares ativos no país. Já o número de computadores, notebooks e tablets em uso no Brasil é de 180 milhões. Ou seja, o Brasil está pendurado no smartphones.

Só no ano passado, houve um aumento de 10 milhões no número de smartphones ativos em relação a 2018, revela a 30ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).

Para onde o Brasil pender, penderá o mercado. Mas, no fundo, a questão é preço. O resto é conversa do presidente para massagear o ego de seus seguidores.

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