Presidente lacração, Bolsonaro não abre mão se ser protagonista na covid-19

Bolsonaro continuará fazendo o "estilo lacração" até o último dia do seu mandato em 2022. E esse comportamento é cobrado pelos seus seguidores nas redes sociais
Fernando Castilho
Publicado em 11/12/2020 às 10:40
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil. Foto: Reprodução/Instagram


Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios do Jornal do Commercio

Por alguma razão que ainda não está bem explicada, boa parte da população, jornalistas e até mesmo cientistas políticos, acreditam que o presidente Jair Bolsonaro, em algum momento, se renderá ao bom senso e se alinhe com um pensamento mundial. Seja sobre meio ambiente, multilateralismo e covid-19. Não o fará.

O presidente não trabalha com a ideia de estar alinhado com que a civilização pacificou como boas práticas globais e buscará sempre o confronto com o que politicamente é considerado correto ou pacificado. Até porque, como revelam os seus seguidores nas redes sociais, existem milhões de pessoas que pensam como ele.

A afirmação de que a convid-19 “está no finalzinho” é mais uma senha para que essas pessoas se sintam confortadas com o que pensam. E é importante não esquecer. Da Alemanha, de Ângela Merkel, aos Estados Unidos, de Donald Trump, esse comportamento tem alguma aderência e, portanto, a partir da segunda década do século XXI teremos que conviver com esses grupos.

Bolsonaro vai continuar fazendo o "estilo lacração" até o último dia do seu mandato em 2022. O conceito de que a covid-19 é “uma gripezinha” foi apenas a atualização da sua posição original do posicionamento que ele defendeu como estratégia de convivência com o coronavírus com as atividades funcionando. E ele continua acreditando nisso.

Porque o número de mortes é irrelevante. Por acaso alguém acredita que Jair Bolsonaro se assustou com o número de mortes, em maio, quando chegou a 1.000 por dia? Alguém pode achar que ele está interessado no detalhamento do programa de vacinação que o Ministério da Saúde está -bem o mal- organizando?

O presidente tem suas pautas e a covid-19 não está entre elas. Alias ela só entrou na lista de preocupações quando Pazuello cometeu o erro que anunciar, em outubro, que poderia compras vacinas do Butantã, que João Dória teria nas mãos.

Bolsonaro acredita que Dória é candidato competitivo e por isso tenta impedir que ele decole.  Fora disso, alguém acredita que Bolsonaro quer saber como será a distribuição das vacinas ou o custo disso? Que Bolsonaro pediu detalhes das potencialidades das demais vacinas?

O presidente tem pautas próprias como a questão das armas, ainda que tenha frustrado a Taurus que apostou alto no seu apoio e viu que o presidente tem compromissos mais firmes com os Estados Unidos.

Assim como tem pautas com os madeireiros - que se alinhou com o pessoal do garimpo ilegal e que invade as terras indígenas. O presidente, como tem demonstrado, acredita firmemente que é melhor ter terra desmatada que ter “espiões de ONGs” desvendando os segredos da Amazônia. Isso justifica seu silencio sobre as queimadas entre setembro e outurbro.

Esse pensamento de que a Amazônia é o foco de potencias internacionais interessadas em assumir o controle é da década de 70. Quando os militares criaram o Projeto Rondon cujo lema era “Integrar para não entregar”.

Claro que, 50 anos depois, o conceito está obsoleto. Mas vai dizer isso ao grupo de militares que o cercam? E aí entra um outro fator sobre o conceito de presidente lacração.

A perspectiva de estar próximo do presidente encanta muita gente. Pessoas sérias, com histórico de atuação no setor público, mas que aceitam suas ideias. Muito, inclusive, atuando, mas na perspectiva de servir ao pais que ao presidente. É fácil listar uma dúzia de auxiliares que estão no governo com essa proposito e que tentam fazer o seu trabalho contornando suas ideias.

Bolsonaro tem razão quando diz que o Brasil foi um dos países que mais botaram dinheiro na economia para evitar o caos econômico. Foi mesmo! Isso nos custou 17% do PIB de 2020.

Claro que ele não tinha ideia, e nem tem do impacto disso no futuro. Ou alguém acredita que ele perguntou a Paulo Guedes o que representa gastar R$ 800 bilhões num ano nos próximos orçamentos?

Então não existe surpresa nas frases do presidente lacração sobre o "finalzinho da pandemia" no Brasil. Bolsonaro não está preocupado se até março o país terá mais 60 mil mortes. Estará preocupado (muito) com o que poderá fazer, para manter o confronto. Seu governo, na sua interpretação, precisa disso.

Em algum momento, se for obrigado a comprar as vacinas do Butantã pelo STF, vai dizer para os seus seguidores cumpre decisão judicial. E vai continuar dizendo que o Brasil não vai obrigar a nenhum pessoa a tomar a vacina.

E ele não dará nenhum gesto que estimule o isolamento. O presidente acredita que ele próprio teve uma gripezinha e vai continuar lacrando e achando que as 240 mil mortes que podermos contar até março serão os chamados “danos colaterais” expressão usada pelos militares para justificar as vidas de civis.

Pode ser chocante para muitos, mas esse é o pensamento do presidente do Brasil até 31 de dezembro de 2022.

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