Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Falando com mais autoridade que Bolsonaro, Artur Lira pede vacina a embaixador da China

Presidente da Câmara passa por cima do Governo e escreve diretamente ao representante do governo chinês num tomo que nem o ministério da Saúde fez.

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Fernando Castilho

Publicado em 09/03/2021 às 14:10 | Atualizado em 09/03/2021 às 15:46
Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) - MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Imagine Zhang Dejiang, presidente do Congresso Nacional do Povo ou Assembleia Popular Nacional, um dos sete membros do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, escrever uma carta a qualquer pessoa no mundo que começasse assim “O governo chinês não é apenas o Executivo, mas também o Legislativo e o Judiciário. Portanto, também em nome do governo, como presidente da ANP...”?

Certamente seu nome seria apagado da história, mesmo depois de ter entrado na estrutura de poder em 1998 e chegado ao topo da carreira integrado do grupo de sete membros que, de fato, controla a China liderados por Xi Jinping.

 

Mas, no Brasil, o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, começou uma carta embaixador da China, Yang Wanming desse jeito e, afirmando a seguir, que “em nome do governo brasileiro, como presidente da Câmara, gostaria de reafirmar os compromissos permanentes com o governo da República Popular da China.”

Não se sabe como Wanming reagiu a um pedido de ajuda embora tenha gostado do trecho em que Lira diz que os interesses permanentes dessas duas grandes nações nunca foram nem poderão ser afetados pelas circunstâncias, pelas ideologias, pelos individualismos.

Individualismo é uma palavra cara a Wanming depois que ele respondeu ao deputado Eduardo Bolsonaro, que culpou a China pela pandemia, resultando num problema diplomático que exigiu uma enorme articulação para ser resolvido.

E também entendeu o dramático tom do presidente da Câmara quando diz que se dirige ao governo chinês "neste momento de grande angústia para nós brasileiros", para que nossos parceiros chineses tenham um olhar amigo, humano, solidário e nos ajudem a superar a pandemia, oferecendo os insumos, as vacinas, todo o apoio que este grande parceiro da China precisa neste grave momento.

Wanming é uma estrela dento do Partido Comunista Chinês. Seu prestígio com XI Jinping é conhecido e, se quiser, pode ajudar muito. Como, aliás, já ajudou quando destravou as remessas de vacina encalhadas em Pequim depois das agressões de Bolsonaro e seus filhos e que atrasaram a produção dos imunizantes pelo Butantã e pela Fiocruz.

Em novembro, Eduardo Bolsonaro falou no Partido Comunista da China como "inimigo da liberdade" e insinuou invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas. O embaixador respondeu no mesmo tom dizendo que elas eram “infundadas” e “solapam” a relação entre os dois países.

Nesta terça-feira (9), Lira apelou até para a condição de principal parceiro econômico a escrever que era preciso que “salvemos vidas de brasileiros, brasileiros que alimentam e salvam vidas de chineses com nossa produção agrícola”.

Não de sabe ainda como o governo brasileiro vai reagir ao tom do pedido e do jeito que foi feito, inclusive, porque Lira pediu uma conversa com o embaixador Wanming na tentativa desesperada de avançar a obtenção de vacinas.

Mas a articulação do presidente da Câmara teve ainda um outro tom no “mercado interno”. Foi quando ele assinou um outra carta com o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, dando uma "enquadrada" no ministro Eduardo Pazuello.

Os dois intimaram o ministro a fornecer informações a respeito do cronograma de produção nacional de vacinas pela Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ e pelo Instituto Butantã, como quais seriam as datas para o envio de vacinas, pelas referidas instituições, ao Governo Federal?

Lira junto com Pacheco fizeram mais. Deram 24 para o ministro fornecer informações sobre a aquisição de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), há calendário para sua aquisição, por parte do Governo Federal, de outros países? Há risco de falta dos referidos insumos? Quais os maiores entraves que o Ministério tem visualizado para a sua aquisição e importação?

O que chama a atenção é que nem Bolsonaro até agora falou nesse tom com Pazuello, embora tenha desautorizado em agosto a compra das vacinas do Butantã que, efetivamente, são as que estão sendo aplicadas.

Isso revela que Lira não está disposto a ficar calado enquanto os governadores e deputados o pressionam.

Nesta terça-feira, ele mandou essa duas cartas. E não será nenhuma surpresa se amanhã cobrar atitudes mais firmes sobre as vacinas do próprio Jair Bolsonaro. Quem duvida?

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