O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) o pediatra e intensivista Juarez Cunha, revelou que dos 62 países que aprovaram o uso da vacina Sputnik V, apenas a Argentina e o México fazem parte do PICS (Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme), um pool de agências regulatórias do qual o Brasil faz parte.
Ele disse que a Argentina respondeu superficialmente ao pedido de registro emergencial, permitindo a análise em apenas 6 horas a partir de decisão do Ministério da Saúde.
No dia 23 de dezembro de 2020, a Administração Nacional de Medicamentos e Alimentos autorizou o uso da vacina da Pfizer-Biontech e avaliou que a Sputnik V "apresenta uma relação risco-benefício aceitável".
A vacina russa é a única que está sendo aplicada na população argentina.
Segundo ele, antes de emitir o seu parecer vetando a autorização emergencial da vacina russa, a Anvisa solicitou uma informação ao PICS (Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme).
Mas como apenas Argentina e México fazem parte do grupo, as outras não poderiam avaliar as informações da vacina. O México não respondeu à consulta da Anvisa se tinham analisado o imunizante russo.
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A decisão da Anvisa também foi defendida pela microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência ao jornal O Globo. Ela disse que “a gente não pode correr o risco de perder credibilidade em vacinas como um todo. Quando acontece um incidente com vacina, são todas as vacinas que perdem credibilidade”, explica Pasternak.
Nesta segunda-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negou, por unanimidade, e após cerca de cinco horas de discussão, o pedido de importação excepcional da vacina Sputnik V, feito por dez estados.
Foi um duro golpe na intenção dos governadores que bancaram a iniciativa. Embora o Ministério da Saúde já tivesse retirado essa vacina do cronograma, gestores apostavam nela para impulsionar a vacinação durante o mês de maio.
Os técnicos responsáveis por três áreas da agência e os cinco diretores foram contra a autorização devido à falta de dados sobre segurança e eficácia porque, segundo eles, a permissão pode colocar em risco a vida de milhões de brasileiros.
Agora, a expectativa entre os governadores do Nordeste é de que o ministro Ricardo Lewandowski autorize a compra dos imunizantes. Acham que não foi convincente a justificativa da agência.
Os governadores pediram aos diretores do Fundo Russo, que detém os direitos de fabricação da vacina, para enviarem novas informações colhidas com os russos para a Anvisa e o STF.
Não há prazo para o ministro se manifestar, mas interlocutores dele dizem que o combate à pandemia é prioridade neste momento. Lewandowski analisará com cautela argumentos dos dois lados.
Na manhã desta quinta-feira, o diretor do fundo que financiou o desenvolvimento da vacina Sputnik V, Kirill Dmitriev disse ao jornal espanhol El País que entende que a rejeição da importação do imunizante da Rússia pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é resultado de uma possível pressão política orquestrada pelos Estados Unidos para que "não deixe a Sputnik entrar no País. "
Aqui no Brasil, o coordenador do comitê científico do Consórcio Nordeste e ex-ministro da C&T no governo Dilma Rousseff, Sergio Machado Rezende, disse que os governadores estão “absolutamente convencidos de que a motivação é política! E temos duas razões: uma delas é que ela vem da Rússia, e o presidente deve achar que é um país comunista”.
Resende, que substituiu o ex-governador Eduardo Campos na pasta, disse ainda que o outro motivo é que “iniciativa de comprar essa vacina foi dos governadores do Nordeste, e desde o começo existe esse problema entre o presidente e o Nordeste, onde ele teve uma menor votação que outras regiões”.
A decisão da Anvisa foi mais uma derrota técnica da farmacêutica União Química, parceira do Fundo de Investimento Direto Russo e dono dos direitos de produção da Sputnik V, que desde o ano passado tenta, politicamente, aprovar a importação da vacina no Brasil.
O embate da União Química se dá mais no Congresso do que na Anvisa, uma vez que ela simplesmente não entregou a documentação necessária para a aprovação.
O embate se refere a um meganegócio estimado em, ao menos, R$ 4,16 bilhões - que a decisão da Anvisa travou. Apenas do pacote de 60 milhões de doses que União e Estados estão dispostos a pagar.
Mas ainda não se sabe como os estados vão arranjar tanto dinheiro (R$ 2,53 bilhões), mas a tentativa de politizar a questão - como fizeram os governadores - só faz desgastar suas imagens.