Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Guedes assume velha bandeira da esquerda ao querer tributar mais os super-ricos em lugar das grandes fortunas

Desde a Constituição de 1988 que a esquerda tem uma bandeira: a taxação das grandes fortunas. Agora é o liberal Paulo Guedes quem deseja taxar 20.858 contribuintes super-ricos

Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 14/07/2021 às 13:35 | Atualizado em 14/07/2021 às 19:24
MINISTRO Paulo Guedes e a filha, Paula Drumond, teriam fundado offshore em setembro de 2014 - MATEUS BONOMI/ ESTADÃO CONTEÚDO

Desde a Constituição de 1988 que a esquerda brasileira tem uma bandeira: a taxação das grandes fortunas. Não tem muito embasamento técnico porque a ideia pressupõe que o cidadão nessa condição deve pagar mais imposto apenas pelo fato de ter mais patrimônio.

No meio acadêmico mesmo - o de esquerda - a ideia de taxas as grandes fortunas é vista com descrédito pela dificuldade se auferir o que, num grande patrimônio, é tributável. Mas a proposta faz parte do discurso. E, vez por outra, ele volta.

A novidade no Governo Bolsonaro é o ministro Paulo Guedes ter aderido à tese, embora ele prefira chamar de taxação aos super-ricos.

Com ajuda da Receita Federal, ele até já sabe quantos são: 20.858 contribuintes num universo de 3.605.008 pessoas que ganham mais de 40 salários-mínimos por mês.

Segundo o ministro, essas pessoas têm hoje uma isenção de R$ 26,9 bilhões e ele acredita que podem pagar mais R$ 68,9 bilhões.

Cobrar R$ 70 bilhões de 20 mil pessoas é mais radical que qualquer proposta de taxação das grandes fortunas da esquerda. Mas é uma proposta de um dos economistas que chegou ao Governo se dizendo discípulo da Escola de Chicago (Estados Unidos), a Meca do liberalismo.

O problema de Guedes é que ele exagera em tudo que faz. E na reforma do imposto de não foi diferente.

Como Robin Hood, Paulo Guedes sonha voltar a ser o Cavaleiro mais importante num segundo governo Bolsonaro

Mudança na atitude de Paulo Guedes indica que governo colocou "bode" na Câmara nas alterações no Imposto de Renda

Dependência do Centrão fez Bolsonaro não chamar PF para investigar Ricardo Barros na compra da vacina indiana

Segundo o ex-secretário da Receita Federal Marco Cintra, o problema do ministro é que ele "incorporou" o espírito dos auditores mais radicais da Receita Federal e entregou um projeto ruim e equivocado.

Cintra advertiu: ministro é última instância. Não pode deixar o pessoal da Receita Federal escrever projeto. É da natureza do Fisco radicalizar.

Nesta quarta-feira, Paulo Guedes reconheceu que errou (no projeto inicial da Reforma Tributária).

Segundo ele, “no início, o setor privado ficou no alto da gangorra. De castigo. E a Receita Federal ficou do outro lado. Agora, mudamos: o setor privado sempre terá ganho de causa. Eu quero tributar os 20 mil super ricos e não as empresas. São os afluentes que vão pagar 20% de dividendos. A reforma vai ser aprovada.”

Complicado ver o representante do Governo reconhecer que errou em assunto tão importante. A conversa para valer nem começou na Câmara Federal. E o projeto do relator do projeto já deu uma torada forte no texto.

Esse é um comportamento típico de quem não tem segurança do que está propondo. E como se sabe, Paulo Guedes é conhecido no Congresso pelas "rés" que engata na hora do aperto. Foi assim em todos os embates. Basta ver o que aconteceu na Reforma da Previdência.

Mas a ideia de um ministro liberal falando em taxa super-ricos é engraçada. Embora isso seja muito sério.

O problema do conceito radical de Paulo Guedes contra exatos 20.858 contribuintes é o risco dessa lista "vazar" na internet e a gente ter um problema sério de quebra de sigilo fiscal.

Entretanto, o problema são os demais 342.325 contribuintes que, segundo o ministro, analisando dados da Receita Federal têm um potencial de pagar mais R$ 26,6 bilhões em lugar das isenções que eles têm hoje no total de R$ 5,8 bilhões. Esses contribuintes, segundo dados da Receita Federal, ganham entre 40 e 320 salários-mínimos por mês.

Para um País que se diz capitalista, é assustador que o Governo divulgue ou não conteste esse tipo de informação sobre rendimentos dos contribuintes que informaram seus rendimentos à Receita Federal. Se não divulgou, deveria se posicionar.

Mas para defender sua tese Paulo Guedes chama-os de super ricos. E o Governo não contestou a informação ou permitiu que ela fosse construída.

O problema da proposta do ministro é exatamente esse. Taxar quem ganha acima de 40 salários-mínimos. Aliás, o governo também enxerga potencial de arrecadação em que ganha até 40 salários-mínimos.

Para quem se diz liberal, o Paulo Guedes não para de surpreender.

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS