A decisão do governador Paulo Câmara em aprovar lei na Assembleia Legislativa (Alepe) dando competência ao Estado para explorar a infraestrutura e os serviços ferroviários tem o precedente nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pará e Mato Grosso - que abrigarão projetos como a Ferrogrão, entre Sinop (MT) e Itaituba (PA), num total de 933 quilômetros ao custo de R$ 13 bilhões. Pernambuco, que pretende ser cortado pela Transnordestina, quer fazer isso.
A aprovação de uma lei específica é para poder conversar com possíveis investidores interessados no negócio, uma vez que, pelo que declarou o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, a ferrovia terá apenas o circuito Eliseu Martins - Pecém, fazendo a curva em Salgueiro em direção ao porto do Ceará. Na próxima segunda-feira, Paulo Câmara tem uma conversa com o ministro para saber se ele confirma isso.
Há poucas chances de que o ministro confirme. Certamente, ele vai dizer que não é nada disso, que o projeto segue com três cabeças. Mas o governador vai dizer que, se for assim, ele vai cuidar de achar quem tope terminar a ferrovia e chegar ao município de Trindade, na divisa com Paulistana (PI), onde se encontra a mina de minério de ferro que ancora o projeto - mirando a exportação.
O montante acumulado de desembolso financeiro diretamente atribuído ao projeto Transnordestina é de R$ 6,696 bilhões, sendo R$ 145,107 milhões investidos em 2020. O avanço físico global atingiu a marca de 54% e já conta com 600 km de grade ferroviária efetivamente montada.
Apesar da proposta da CSN de levar o trem para Pecém (CE), a verdade é que hoje tem mais ferrovia pronta em Pernambuco do que no Ceará. O governador avalia que, ainda assim, é importante ter os dois ramais. E garante que vem conversando com interessados no projeto.
A articulação do ministro Tarcísio de Freitas com o empresário Benjamin Steinbruch, definindo o traçado da Transnordestina, irritou a bancada de Pernambuco. Embora, enquanto o governo do Ceará se movimentou em relação ao projeto, Pernambuco ficou na defesa do contrato sem conversar com o concessionário.
De fato, será um despropósito, depois de ter gastado R$ 6,5 bilhões e concluir trechos que já cortam metade do Estado, fazer a curva e chegar em Pecém sem que o trecho entre Custódia e Suape seja concluído.
Segundo o último balanço da companhia referente a 2020, as obras do trecho da ferrovia Missão Velha/CE - Salgueiro/ PE, com extensão de 96 km, estão concluídas. O trecho Eliseu Martins/PI - Trindade/ PE, com extensão de 423 km, está 80% pronto.
Já o trecho Salgueiro/PE – Suape/PE, com extensão de 544 km, está pronto até as proximidades de Custódia, embora exista um problema por questões ligadas ao desvio da Igreja de Custódia (tombada pelo IPHAN). Mas o Túnel de Arcoverde foi finalizado.
O orçamento do projeto, onde estima-se o valor por trecho, está assim composto: Missão Velha – Salgueiro montante de R$ 0,4 bilhão, Salgueiro – Trindade montante de R$ 0,7 bilhão, Trindade – Eliseu Martins montante de R$ 2,4 bilhões, Missão Velha – Porto de Pecém montante de R$ 3 bilhões, Salgueiro – Porto de Suape montante de R$ 4,7 bilhões, totalizando R$ 11,2 bilhões.
O projeto encontra-se em processo de readequação orçamentária; o orçamento proposto é da ordem de R$ 13,2 bilhões. Em 2014, a concessão para prestação de serviços ferroviários da TLSA foi prorrogada por mais 30 anos, podendo encerrar-se até o ano de 2057.
A ferrovia, com extensão de 1.753 km, ligará o terminal ferroviário, em Eliseu Martins (PI) aos dois modernos portos de Suape (PE) e Pecém (CE), passando pela cidade de Salgueiro (PE).
A Transnordestina Logística S.A. entende que este será um projeto estruturante que permitirá aumentar a competitividade de diversas cadeias produtivas localizadas ao longo da ferrovia. Em 2006 iniciaram-se as obras no trecho Missão Velha (CE) a Salgueiro (PE) e em 2009 iniciaram-se as obras no trecho Salgueiro (PE) a Trindade (PE).