Dois gestos provocados pelo próprio presidente podem ajudar a entender a altíssima aposta que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez nas manifestações deste 7 de setembro. Os sobrevoos que pediu para os helicópteros fazerem em Brasília e São Paulo.
O presidente vai dormir com elas e absolutamente certo de que elas representam um atestado de seu prestígio e de sua força política junto à população brasileira.
O presidente sabe o esforço pessoal e a disposição de recursos que precisou colocar para produzi-las e isso é muito importante para que lhe assegure sobrevida política até as próximas eleições.
Na campanha, o deputado não reunia mais que grupos de apoiadores nas chegadas dos aeroportos e manifestações. Nada como os eventos produzidos nesta terça-feira (7). Bolsonaro sabe que juntar o povo custa caro.
Mas não sejamos hipócritas. As imagens são muito fortes. Claro que em Brasília, a Esplanada dos Ministérios espalha. Uma gestão mais profissional teria deixado concentrados os apoiadores num espeço menor. Mas como exigir isso de quem estava pela primeira vez ocupando espaços que há décadas só são visitados pela esquerda e o PT?
Em São Paulo, o esquema parece bem mais profissional. A contenção da Avenida Paulista e a possibilidade de imagens aéreas tem muito mais impacto visual e isso deve ter impressionado muito ao presidente. Pela primeira vez ele estava ocupando um espaço que até agora só fora ocupado pelas esquerdas e o PT. Isso como diz aquela propagando do Mastercard "não tem preço".
O desafio agora é o que Bolsonaro vai fazer com elas? O que junto as demais nas 100 cidades entre elas 18 capitais ele avalia como apoio ao seu governo. E o que essas visões lhe dão de cacife para pressionar o Congresso, o STF e as Forças Armadas para suas intenções em relação a 2022.
O presidente está indo dormir nesta terça-feira sentindo-se muito poderoso. E talvez em algum momento acredite que reverteu a curva de desaprovação junto as pesquisas.
O problema é que infelizmente para Bolsonaro a eleição não é neste domingo. Ele ainda tem exatos 480 dias para governar e o mundo real não lhe permite dormir até mais tarde com seus sonhos de "Mito, Mito, Mito".
O dia a dia do governo e do embate no Congresso e nos demais tribunais, da mesma forma que permite continuar os ataques que fez nas manifestações, não lhe asseguram uma mudança da melhoria da rotina de governo.
As "fotos" não vão lhe ajudar a aprovar a MP que enviou na última segunda-feira e que corre o risco de ser devolvida pelo Congresso. Elas não vão mudar o animo do STF para ajudar numa solução para os precatórios. Não vão ajudar no projeto do Imposto de Renda no Senado. E não vão ajudar na melhoria das investigações da CPI da Covid. Essa rotina vai continuar com forte pressão dos demais tribunais contra sua administração.
As "fotos" também têm o potencial de acirrar como acirrou os embates políticos nas demais esferas de poder. E na verdade o distanciam de qualquer processo de encaminhamento de questões importantes para a continuidade do Governo.
O problema é que tudo isso vai custar caro ao país. Inflação alta é ruim para qualquer governo, Juros altos é péssimo para qualquer economia. Desemprego é uma desgraça para qualquer presidente. E tudo isso está no pacote contratado para 2021 e 2022.
Não parece racional que Jair Bolsonaro imagine que as "fotos" possam lhe cacifar para discutir todos esses temas. Mas quem duvida que ele acredite que elas o autorizam a assumir o comando geral?
E o problema é se Bolsonaro passar a acreditar que suas "fotos" podem resolver tudo.