No meio do debate sobre a privatização (capitalização) da Eletrobras, que originou lei específica sobre o tema, existe uma determinação de resolver um dos maiores problemas relacionados à Transposição do Rio São Francisco: o fornecimento da energia necessária ao projeto, tema que assusta governadores dos Estados por onde as águas vão rolar.
Hoje, a União compra energia no mercado livre para tocar o empreendimento. Mas a solução já foi definida na Lei 14.182/21, que elegeu a Chesf como fornecedora da energia elétrica necessária à operação, ao preço de R$ 80 MWh.
Como o preço hoje está na faixa R$ 215, o que seria uma obrigação pode ser uma solução pelo potencial de geração que o programa de integração do Rio São Francisco tem pela extraordinária potencialidade, segundo a Chesf.
No primeiro momento, admite o diretor de Engenharia da companhia, Reive Barros, existe a perspectiva de geração de 300 MWmed, de energia solar suficiente para atender ao projeto (72,22 MWmed) e vender o excedente.
Isso quer dizer que, ao longo do PISF se pode incorporar uma produção de energia solar estimada em 3,5 GW de se forem aproveitadas todas as suas margens.
A Chesf encara isso como um novo negócio. A começar por mais 335 MW que podem ser gerados sobre os canais, outros 1,760 MW ao longo dos canais e mais 1.450 MW sobre flutuantes dos reservatórios.
A companhia já trabalha para junto com a Codevasf, que será a gestora do empreendimento, por parcerias para essa geração pois elas já têm licença ambiental e documentação legal.
Talvez a grande vantagem da Lei 14.182/21, que define a Chesf como a fornecedora, seja a experiência da companhia em projetos de energia renováveis e que a levou a desenvolver tecnologia para gerar energia solar em painéis flutuantes sobre o lago de Sobradinho.
A companhia está desenvolvendo agora um projeto definitivo depois da conclusão da pesquisa. Assim, sobre os reservatórios das águas da transposição, seria possível gerar energia equivalente a uma grande usina hidroelétrica da própria Chesf.
Naturalmente, a modelagem e definição de custos de projetos para essa energia ainda dependem de decisões dos conselhos da Chesf e da própria Eletrobras, mas o fato é que na Transposição existe a perspectiva de um novo complexo de geração.
Reive Barros chama atenção para a importância da ocupação estratégica das margens dos canais por unidades fotovoltaicas. Dispostas ao longo dos canais, elas seriam inibidoras do furto de água ao longo deles, como já foi detectado.
O diretor de construção da Chesf lembra que a escolha da empresa foi pela conexão que seu sistema de transmissão de energia tem ao longo dos eixos, o que significa conexão com as linhas de transmissão para a distribuição da energia gerada pelas placas solares.
Finalmente, a perspectiva de geração de até 3,5 GW representa um novo parque de geração da Chesf, que anunciou um programa de modernização de suas usinas de R$ 1,5 bilhão, ampliando a robustez da empresa quando da capitalização da Eletrobras.