Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Empresas ainda nivelam inserção da mulher no trabalho às práticas de responsabilidade social e marketing

Do total de 165 empresas pesquisadas no Brasil, há apenas 115 mulheres nos conselhos. Apenas 4,4% delas ocupam a cadeira da presidência do conselho

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Fernando Castilho

Publicado em 08/03/2022 às 11:30 | Atualizado em 08/03/2022 às 12:01
Dia Internacional da Mulher - Reprodução/Internet

No Dia Internacional da Mulher, as empresas aproveitam para distribuição de uma “tempestade” de informações nas redes sociais e plataformas digitais sobre o que estão fazendo para tornar mais inclusiva a presença das colaboradoras diante dos seus clientes.

O gesto é importante, mas o que a mulher menos precisa é que na empresa onde trabalha se diga que está criando políticas de acesso sem que isso, efetivamente, seja uma prática.

Uma psicóloga com especialização em gestão de negócios que assumiu a missão de liderar a companhia em toda a América do Sul. Uma diretora de startups que conecta empresas e profissionais que buscam oportunidades de trabalho. Uma influencer que compartilha e troca experiências com outras mulheres acima do peso convencional. São alguns exemplos de histórias divulgadas pelas empresas.

Também há empresas que revelam nas suas redes sociais a história de uma mulher que decidiu empreender por propósito depois de atuar em algumas multinacionais. Ou uma executiva que deixou um cargo de diretora em uma das maiores empresas de cibersegurança da América Latina, após ajudar a empresa a alcançar um dos principais objetivos, o de escalar no mercado americano.

São belas histórias, mas é inegável que cada vez mais empresas estão se esforçando para dizer ao mercado que têm alguma política de empoderamento feminino sem que isso, necessariamente, seja uma decisão da companhia.

INSERÇÃO NÃO É MARKETING

Dia da Mulher. Empoderamento feminino. Destaque para Priscila Correia(Roupa Florida) com sua mãe e suas duas filhas. - Guga Matos/JC Imagem

E isso abre uma enorme possibilidade da questão da inclusão da mulher no mercado de trabalho sair do departamento de Recursos Humanos para se abrigar no setor de marketing e comunicação coorporativa.

Isso já aconteceu com outros temas. O caso da profusão de informações de empresas assumindo estarem tendo responsabilidade social por terem feito uma doação para uma ONG, participarem de um movimento de limpeza de praia e mangues. Ou de ajudar uma creche próxima à sua unidade industrial sem ter políticas de inclusão das mães da comunidade vizinha.

Responsabilidade social é a empresa pagar salários em dia, recolher seus impostos ao governo e práticas de produção sustentáveis.

Mas a questão que vários empresários se perguntam é: Que envolvimento mais direto essas empresas têm com seus funcionários e com o entorno de suas empresas? E que tipo de políticas de acesso mantêm para que jovens estejam mais protegidos? Esse é o que tecnicamente se chama de compromisso social.

A questão deixou de ser “se” a mulher pode ou não desempenhar a mesma função do homem na companhia para saber “quando” a empresa vai reduzir e eliminar a diferença. E esse é, de fato, um desafio, porque exige compromisso do controlador.

DISCRIMINAÇÃO ATÉ NO TEMPORÁRIO

Feira de empreendedorismo do Instituto Negra Linda para negócios do Grande Recife e Floresta - DAY SANTOS/JC IMAGEM

Existem dados curiosos como, por exemplo, na contratação de funcionários temporários. Cresceu percentualmente 40%, em 2021. O problema é que o mercado contratou 500 mil homens contra 200 mulheres. Ou sobre a presença delas em assentos nos Conselhos de Administração, que cresceu 20%. Muito bom. Só que, neles, as mulheres só ocupam 30% das cadeiras.

Uma pesquisa realizada pela Deloitte revela que do total de 165 empresas pesquisadas no Brasil, há apenas 115 mulheres nos conselhos. Apenas 4,4% delas ocupam a cadeira da presidência do conselho.

Houve queda nesse índice, que era de 6,5% na edição anterior. Em 2016, no entanto, esse número era muito menor (1,5%). A pesquisa revela, ainda, que 1,2% das mulheres ocupam cargos de CEO no País.

Tem mais: o prazo médio que as mulheres ficam como membros de conselho é de 4,4 anos; já os homens ficam, em média, 5,8 anos. Na presidência do conselho, o tempo médio para mulheres também é de 4,4 anos - ante 5,7 anos para homens.

É um processo. E vamos precisar do século XXI para acelerar essa participação. A inércia foi quebrada no século XX, mas questões de gênero ainda são um desafio para pequenas e médias empresas.

MULHERES NA BOLSA DE VALORES

QUARTA Na véspera da proposta de reforma, B3 fechou em pequena baixa - FERNANDO PEREIRA/AGÊNCIA ESTADO/AE

No Brasil, em abril do ano passado, as mulheres bateram pela primeira vez a marca de 1 milhão de investidoras, e até dezembro a B3 já contava com 1,114 milhão de CPFs femininos em seus cadastros. Isso, no entanto, ainda está muito longe dos 2,9 milhões de homens.

“O mercado de capitais ainda é predominantemente masculino, mas está mudando, evoluindo. Quando as mulheres se posicionam e mostram conhecimento, conseguem quebrar qualquer barreira”, diz Melissa Angelini, Diretora de RI da Procaps Group, multinacional da área da saúde que passou a ser listada na bolsa NASDAQ, de Nova York, em setembro do ano passado.

Elas, de fato, se provaram mais capacitadas na pandemia e fizeram mais entregas quando exigidas, especialmente no teletrabalho. Mas é importante, neste 8 de março, que as empresas saiam da caixinha de tentar mostrar políticas inclusivas. Os números divulgados só mostram o longo caminho a percorrer. Todos os dias.

Um levantamento feito pela consultoria Ativa apontou ainda que a maioria das clientes da corretora têm perfil conservador (51,3%), seguido de moderado (32,5%) e agressivo (16,2%). O destaque do levantamento fica por conta dos produtos preferidos por elas. Trinta e cinco por cento investem em ações, 31% em renda fixa, 17,5% em fundos e 6% no Tesouro. Vale lembrar que um produto não exclui o outro, por isso, o percentual de produtos passa de 100%.

ADIMPLENTES E EMPREENDEDORAS

Feira de empreendedorismo do Instituto Negra Linda para negócios do Grande Recife e Floresta - DAY SANTOS/JC IMAGEM

O empreendedorismo feminino foi responsável por 66% do total aplicado pelo programa Crediamigo, do Banco do Nordeste, ano passado. Elas contrataram quase três milhões de operações, tomando R$ 8,5 bilhões em empréstimos.

Percebendo esse potencial e a alta adimplência, o BNB lançou no ano passado uma linha exclusiva para as mulheres com condições mais favoráveis ao empreendedorismo, também através do Crediamigo, que em um ano movimentou R$ 1 bi em 380 mil operações.

Dados da consultoria Grant Thornton International mostraram no relatório Women in Business 2020 que no Brasil há 34% mais cargos de liderança representados pelas mulheres em empresas de médio porte, ficando acima da média mundial.

E isso se reproduz mesmo nas áreas mais dinâmicas e modernas. Um levantamento do programa YouthSpark apontou que apenas 18% dos brasileiros graduados em ciência da computação são mulheres e somente 25% delas são contratadas para trabalhar em áreas técnicas de TI.

No início, a área era dominada por mulheres e a primeira pessoa programadora do mundo foi Ada Lovelace. No Brasil, na década de 70, as turmas de bacharelado em ciência da computação contavam com mais 50% de alunas, chegando até 70%, e hoje, infelizmente, esse número caiu drasticamente.

O mais interessante é que, de acordo com os dados da Softex, a falta de profissionais na área pode ultrapassar os 408 mil postos de trabalho até 2022. Isso quer dizer que existem muitas oportunidades para todo e qualquer profissional, independente do gênero.

ACESSO DIFICULTA EMPREGOS MELHORES

O problema está mesmo no andar de baixo. A Associação Brasileira de Motéis (ABMOTÉIS), fundada em 2012, revelou que o setor gera cerca de 300 mil postos de trabalho diretos e a mesma quantidade de indiretos no País e movimenta R$ 4 bilhões por ano, empregando 80% de sua mão de obra com mulheres.

Um estudo do Instituto Rede Mulher Empreendedora (Irme) revelou que 70% entrevistadas avaliam que só se tornaram total ou parcialmente independentes financeiramente graças a seus negócios e que 26% iniciaram seu negócio atual durante a pandemia.

Pesquisa da Associação Brasileira dos Salões de Beleza aponta dificuldades para manter equipes de profissionais nos salões, já que muitos na pandemia passaram a atender clientes em domicílio, inicialmente, e criaram suas próprias carteiras de clientes.

De acordo com o levantamento, que comparou informações de 2021 e 2019, cerca de 52% dos profissionais que atuavam em salões passaram a atender clientes em domicílio. Para 66% dos empreendedores entrevistados, houve uma redução no número de pessoas que atuam nos salões de beleza em relação a 2019. Isso já impacta no faturamento integral de 2021 também obteve um resultado abaixo do registrado em 2019, segundo o levantamento da ABSB.

Mulheres também inovam. Na contramão do mercado de trabalho, as lideranças femininas têm cada vez mais construído as investidas de sua própria inclusão para conquistar seu espaço, fato que se intensifica ainda mais em nichos como tecnologia, inovação e serviços. No entanto, a discrepância ainda assusta.

No setor de venture capital, que inclui os fundos que investem em startups, por exemplo, empresas lideradas por mulheres receberam apenas 2,7% do total investido em 2019, segundo a Fortune.

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