Sobrou para o consumidor. A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) os novos valores dos combustíveis: o preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86. No caso do diesel, de R$ 3,61 para R$ 4,51.
Já o preço médio do gás de cozinha passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo - equivalente a R$ 58,21 por 13 quilos, o tamanho do botijão vendido para residências.
Segundo a empresa, os reajustes refletem o preço internacional do petróleo, que disparou após o início da guerra da Ucrânia e consequente adoção de sanções contra a Rússia. Nessa quarta-feira (9), o petróleo fechou em US$ 111 o barril.
É uma grande pancada no bolso dos consumidores e mais ainda na inflação, que será fortemente impactada. Segundo o economista André Braz, da FGV, cada 1% no preço final da gasolina significa 0,04% da conta final da inflação.
Braz explica que o diesel tem um peso bem menor no cálculo do IPCA, de apenas 0,25%, contra o da gasolina, que é de 6,58%. Ele pondera que o maior efeito do reajuste dos preços não vai se dar pelo valor cobrado na bomba dos postos, e sim pela difusão do aumento na economia.
O último reajuste do gás foi em outubro do ano passado. Já o dos combustíveis foi em 12 de janeiro, portanto, há 57 dias. Segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Fertilizantes (Fecombustíveis), o aumento quer dizer que a gasolina nos postos de abastecimento deve subir para uma média de R$ 7,02 o litro no País, contra a média atual de R$ 6,57 por litro. O impacto político disso na sociedade e no Congresso ainda vamos ver, mas com a decisão da Petrobras, as propostas do Governo de intervir no mercado fazendo um congelamento devem esfriar, embora isso signifique que quem vai pagar essa conta é o consumidor, na bomba de combustível do posto da esquina. Assustado com os impactos da guerra nos preços dos combustíveis, o governo começou a discutir a ideia, que assusta muita gente dentro e fora dele. O ministro da Economia, Paulo Guedes, é contra. Sobre o assunto, declarou que “só maluco congela preço”. Pode ser. Mas dentro do Palácio do Planalto tem gente que não se julga maluco e defende a ideia por ao menos três meses. O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) e ex-diretor da Petrobras, Eberaldo de Almeida, afirmou na última terça-feira (8) que o congelamento de preços dos combustíveis no País teria um impacto de R$ 180 bilhões a R$ 200 bilhões se durasse todo o ano de 2022. Isso quer dizer que a Petrobras, de certa forma, salvou o Governo de uma decisão “maluca” - na opinião de Paulo Guedes -, embora o reajuste não elimine o debate. O problema é que o reajuste era necessário para tentar reequilibrar as contas. Segundo a Associação Brasileira da Importadoras de Combustíveis (Abicom), o mercado internacional e do câmbio pressiona os preços domésticos de modo que o preço interno fazia a Petrobras perder R$ 1,83/L se comprado à data do último reajuste. No caso do óleo diesel, a diferença era de R$ 1,17/L. A ideia de subsidiar os preços preocupa o mercado pelo rombo que isso poderia significar nas contas públicas. Segundo Eberaldo de Almeida, do IBP, “Nesse período conjuntural, você vai ter que atuar com um subsídio localizado naqueles mais necessitados. Não tem varinha mágica”, afirmou. Para ele, medidas estruturantes dependem de sinalização política. “Mas é muito melhor discutir em tempo de paz do que na guerra.” Mesmo fazendo o lobby do setor, o presidente do IBP chama atenção para um fato real. A produção das refinarias nacionais não atende à demanda brasileira, sendo necessário importar derivados, em especial óleo diesel, críticos para a economia e sociedade. Isso é um fato. Segundo nota do IBP, embora exista um grande parque de refino instalado no país, o Brasil é muito grande, com crescimento econômico promissor e com demanda energética crescente. A instituição estima que em 2022, a demanda de combustíveis importados pode chegar a mais de 25% do total em momentos de pico (1 milhão de barris equivalentes/dia de Diesel de demanda, contra cerca de 750 mil de oferta local, somadas as capacidades da Petrobrás e demais produtores).
Motoristas de aplicativos como Uber, 99 e inDriver estão preocupados com o reajuste anunciado pela Petrobras nesta quinta-feira (10). De acordo com a empresa, os reajustes de preços de venda de gasolina e diesel para as distribuidoras terão validade a partir desta sexta (11). O preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro.
“Considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro e 73% de gasolina A para a composição da gasolina comercializada nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,37, em média, para R$ 2,81 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,44 por litro”, informou o comunicado da empresa.
Presidente da Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco (Amape), Thiago Silva explica que é necessário um reajuste nas tarifas. "O principal insumo dos motoristas de aplicativos são os combustíveis. Pelo preço que está e com o novo aumento, pode ser o fim do serviço. As empresas de aplicativos precisam reajustar as tarifas de forma a equiparar as perdas. Também são necessárias políticas públicas que possam ajudar a nossa categoria, que vive um período de dificuldade, ainda mais acentuado, desde o início da pandemia. A solução é o reajuste das tarifas, pois mesmo o GNV, hoje, já está na casa dos R$ 4,00 e existem viagens de R$ 5,00. A conta não fecha. Ou a Uber, 99 e InDriver mexem nas tarifas, ou realmente será o fim", afirmou.
Thiago disse que o reajuste de tarifas, segurança e respeito aos motoristas por parte das empresas, são medidas já são cobradas há anos e nunca são atendidas. "Uma coisa que os usuários precisam entender é que as empresas aumentaram os valores pagos por eles para lucrarem mais e não repassaram este aumento para o motorista", comentou.
O presidente da Amape ainda aponta que, em Pernambuco, a isenção de IPVA para motoristas de aplicativos, além de uma linha de crédito voltada para este segmento, que realmente funcione, poderiam ajudar. Ele diz que a Copergás chegou a lançar uma linha de crédito, mas que na prática não está ajudando. "Vários (motoristas) já deixaram e aqueles que ainda resistem estão nas ruas por necessidade, trabalhando 15 horas por dia para poder tentar levar alguma coisa para casa. A maior parte do que ganham fica na bomba e com as empresas de aplicativos. E agora, a desistência tende a ser ainda maior. Tudo aumentou, menos o valor que o motorista de aplicativos recebe das empresas", pontuou. A Amape tem um projeto para essas isenções e cobra diálogo do governo estadual sobre este assunto.
Motorista de aplicativo, Diego Xavier de Oliveira, 33 anos, diz que pensa em migrar para o gás natural, mas esbara no alto valor. "Meu carro é álcool e gasolina e o preço que recebo dos aplicativos por corrida é baixo. Quando comecei a rodar, há alguns anos, o álcool estava em R$ 3,00. Hoje, é R$ 5,20. Enquanto isso, os aplicativos diminuem cada vez mais as tarifas. Em 2018 era em torno de R$ 6,50 a tarifa básica. Hoje, tem corrida em torno de cinco reais. Deveria ter uma tarifa básica maior. O aplicativo cobra menos que um litro de gasolina. Não é razoável. As pessoas estão colocando gás, eu quero colocar, mas é muito difícil para uma pessoa que vive dessa profissão, pagando aluguel, feira, água, luz e gás de cozinha, colocar um gás no carro que gira em torno de cinco mil reais. É inviável", disse.
Para o diesel, o preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras subirá de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro. “Considerando a mistura obrigatória de 10% de biodiesel e 90% de diesel A para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 3,25, em média, para R$ 4,06 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,81 por litro”, diz a nota.
Para o GLP [gás liquefeito de petróleo], de acordo com a empresa, o último ajuste de preços vigorou a partir de 9 de outubro do ano passado. A partir de amanhã, o preço médio de venda do GLP da Petrobras, para as distribuidoras, subirá de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg, equivalente a R$ 58,21 por 13kg, refletindo reajuste médio de R$ 0,62 por kg.
“Esse movimento da Petrobras vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda”, afirmou a companhia.
Apesar da disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, nas últimas semanas, como decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras informou que decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato, fazendo monitoramento diário dos preços de petróleo.
“Após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, tornou-se necessário que a Petrobras promova ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento, pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras”, disse o comunicado.