Ficou pronto o relatório da SDS sobre os números da violência em Pernambuco, no qual se pode ler que, nos dois primeiros meses do ano, 617 pessoas foram assassinadas. Um aumento de 11,2% comparado ao mesmo período de 2021, com 555 registros.
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O dado assustador é o fato de que na Região Metropolitana do Recife houve aumento de 22,8%, puxado por alguns municípios onde a disputa pelo domínio do tráfico de drogas resulta em guerra entre facções.
Já se disse que o crime é um negócio e a polícia é o risco. A frase serve para o governo começar a repensar sua presença nos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes e Ipojuca, onde parece claro que se estabeleceu uma Central de Distribuição de drogas, que já motiva disputas por território.
Qualquer delegado sabe que quando esse tipo de negócio evolui para uma CD, é porque estabeleceu-se na região estruturas mais robustas, o que normalmente leva a conflitos. Há indicações que isso aconteceu ali e que a polícia não pode continuar a tratar o território só como uma área violenta como as demais.
Tem que botar gente, melhorar a estrutura e o equipamento. Além de chamar o pessoal da área de cidadania para ajudar no desenvolvimento de cultura de paz.
Isso vai exigir uma mudança de patamar do governo, o que até agora não ocorreu.
Basta dizer que na Lei Orçamentária Anual (LOA 2022), a SDS tem um volume de investimento de apenas R$ 42,29 milhões dentro de uma despesa de 3,61 bilhões, das quais R$ 687 milhões são de despesas correntes que pagam os custos de funcionamento. Quase R$ 3 bilhões são de pessoal e encargos.
É verdade que manter a polícia custa caro e em 2022 ela vai custar quase R$ 700 milhões para se manter. Mas como explicar que uma pasta desse tamanho não tenha orçamento de menos de R$ 50 milhões por ano?
O problema talvez esteja no fato de Pernambuco ter se acostumado como os números de mortes ou CVLIs.
Portanto, a questão é: o governo do Estado interpreta a situação assim? Ou prevalece o conceito de apenas crescimento de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), um eufemismo criado para denominar assassinato?
Em 2021, tivemos 3.369 assassinatos (ou CVLIs), com uma média de 9,23. Mas de janeiro a dezembro, foram registradas 1.169 mortes apenas durante os dias de sábado e domingo. Isso quer dizer que 34,7% das ocorrências são nos dias da semana.
O número vem caindo desde 2017, quando chegamos a 5.428 assassinatos.
Porém, os 3.369 de 2021 ainda mostram uma média de 9,23% ao dia. Tem mais: diariamente, 40,3% das ocorrências ocorreram no turno da noite, onde as vítimas estão entre os que têm 18 e 30 anos (50% dos casos) e onde 3.124 (92,7%) são homens.
O relatório de 2021 também aponta caminhos que devem ser observados nas regiões de Jaboatão, Cabo e Ipojuca. Ano passado, a polícia apurou que 2.275 dos mortos estavam envolvidos em atividades criminais (68%), que morreram essencialmente por armas de fogo (81,4%). Do total, exatamente 2.275 pessoas.
Outro dado assustador: 91,5% eram pardos, 3.018 pessoas.
E como se observa, não há direcionamento de recursos expressivos para segurança no Plano Retomada, anunciado pelo governador Paulo Câmara ano passado.
Mas ainda dá tempo. Basta ver março de 2007, quando foi a elaboração do Plano Estadual de Segurança Pública (PESP-PE 2007), do qual saíram 138 projetos estruturadores e permanentes de prevenção e controle da criminalidade.
A meta básica é reduzir em 12% ao ano as taxas de mortalidade violenta intencional em Pernambuco.