No final do ano passado, quando o Congresso Nacional se preparava para votar o orçamento, o presidente Jair Bolsonaro entendeu de enviar por iniciativa pessoal uma proposta equivocada de aumento apenas para servidores federais da área de segurança.
Certamente, o presidente ouviu da assessoria parlamentar que estava cometendo um equívoco. Não há na tradição do Executivo o gesto do presidente autorizar um reajuste a uma categoria sem contemplar as demais.
Além disso como não dar um reajuste depois de tudo que o mesmo Bolsonaro repassou ao Centrão? Na pratica, o presidnete o perdeu argumento de austeridade com servidor público no seu Governo.
Mas o presidente preferiu seguir seus apoiadores e autorizar o reajuste apenas da categoria que ele acredita que lhe dá apoio integral no governo.
Pura ilusão. Servidor público, na questão de salário, apóia o governante da vez. Não tem compromisso com ninguém. E sempre acha que o Estado muito e não lhe valoriza.
Isso vale para os demais poderes. Do juiz ao auxiliar de serviços administrativos. Do diretor geral do Congresso ao garçom. Servidor público está sempre interessado em cobrar defasagem de salário, assegurar tempo de serviço para promoção e incorporação de vantagens no salário mirando a aposentadoria.
A União tem 584.545 servidores ativos (o menor contingente desde 2011) e menor que total de aposentados e pensionistas (656.621). O aumento proposto beneficiaria apenas 45 mil policiais.
O presidente acha que policiais federais vão pedir votos para ele se der um reajuste em ano eleitoral. Pode ser. Mas as vezes as pessoas se auto-enganam. Acham que tem apoio e alianças ideológicas eternas.
Mas a verdade histórica é que, na hora do salário, o servidor quer que “se exploda” quem não lhe deu aumento. É da natureza.
O que os auxiliares do presidente não lhe disseram foi que o Congresso também não ajuda ninguém que não entende os interesses das corporações.
Quando os deputados (que são profissionais) viram a bomba de efeito retardado que o presidente estava propondo aprovaram o texto sem mudar uma vírgula.
Alguém viu o presidente da casa, Arthur Lira ponderar o risco potencial da proposta?
Lira não fez nada e seguiu a pauta. Ele é do ramo e sabia do que vinha pela frente e deixou para ver no que dava.
Não deu. Bolsonaro conseguiu juntar a "requinha" toda dos servidores contra ele. E nem mesmo os policiais que poderiam receber vão lhe defender se não tiverem oi aumento. Imagina os que ficaram de fora vão lhe poupar.
Nós últimos anos, os servidores federais estão, de fato, numa pindaíba dos diabos em termos de salários.
Poucos lembram, mas na crise de 2015 e 2016, Michel Temer honrou o compromisso da presidente e pagou o reajuste de algumas categorias que tinham negociado com Dilma. Depois disso, nada.
Quando Bolsonaro assumiu, em 2019, o setor civil percebeu que ele estava ajudando aumento apenas aos militares. Mas começou a pressionar.
Na prática, já faz cinco anos que não acontece um “fato novo” no contra cheque dos servidores federais do Executivo. Então, quando Bolsonaro falou em reajuste de policiais o bicho pegou.
Tem mais: Para 2022, a projeção do Ministério da Defesa apontava que o aumento, com os adicionais de disponibilidade militar e habilitação, ajuda de custo e aumento de soldo custariam mais R$ 9,37 bilhões.
Curiosamente, essa bronca era para ter explodido em 2020. Pode-se dizer que o que salvou o Governo Bolsonaro foi a pandemia. Essa pressão que pode se transformar numa greve de servidores federais era para acontecer em março de 2020.
O governo foi salvo pela lei que proibiu os reajustes por dois anos. O problema de Paulo Guedes achou que o pessoal não ia cobrar cinco anos de deserto e não colocou um real de reajuste.
Isso revela uma total falta de sensibilidade do ministro e da sua equipe. Não é razoável que os técnicos da área de planejamento não previssem que os servidores filiados a CUT em dezenas de sindicatos de servidores não viessem com tudo para cima do governo.
E foi esse aumento zero para todo mundo em todo o Governo Bolsonaro que virou tema de mobilizações. Mais ainda depois das noticias sobre as emendas de relator.