O presidente Jair Bolsonaro sabe que existe um terabyte de distância entre o acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - que evita a instalação de novas funcionalidades na plataforma antes das eleições de outubro - e seu direito como usuário. Mas ele vai aproveitar para tirar onda.
Ele não precisa consultar seu filho Carlos para saber que, pelo seu raciocínio, o cidadão Jair Messias Bolsonaro não pode exigir da plataforma libere as novas funcionalidades. Porque assim como ele, qualquer outro cidadão pode pedir para não habilitar a possibilidade de juntar os diversos grupos num só para a partir daí criar uma mega lista de envio.
Mas ele vai aproveitar para alimentar sua rede para se queixar de o acordo do TSE com o WhatsApp é “inaceitável” e “inadmissível.
Conversa. Pelo acordo firmado com a Corte eleitoral, o WhatsApp se comprometeu a aguardar o fim do segundo turno das eleições para lançar o novo recurso é exatamente para conter a disseminação de notícias falsas que os grupos de apoiadores do presidente vêm fazendo.
O acordo foi feito com CNPJ e não com CPF.
Nas suas redes o presidente disse. “Se ele (WhatsApp) pode fazer um acordo com o TSE, pode fazer comigo também, por que não?”
Ele sabe que não é assim. A decisão de não habilitar as novas funções é uma decisão da companhia dona do aplicativo com o poder Judiciário. Em tese, o poder Legislativo e o Executivo poderiam também firmar o mesmo acordo.
Mas com as ameaças que o novo recurso pode conferir aos usuários do aplicativo e com o histórico do presidente alguém acha que o WhatsApp atenderia o pedido do cidadão Bolsonaro?
O recurso de Comunidades foi anunciado na quinta-feira (14), junto a outras novidades da plataforma. Além dele, o WhatsApp também anunciou a possibilidade de fazer chamadas de voz com até 32 pessoas; o aumento para 2GB dos arquivos que podem ser enviados e a função de reagir com emojis à mensagens enviadas em grupos.
É um avanço importante. Mas certamente a única coisa que a empresa não deseja é que os grupos de Bolsonaro e do PT saiam inundando a caixa de mensagens dos usuários.
O objetivo é transformar o aplicativo numa ferramenta de negócio. O que a Meta está mirando é o enorme potencial que a reunião de grupos num megagrupo é que empresas possa fazer negócios.
Se não mirasse nisso não teria aceitado os princípios do TSE de proteção contra a disseminação de informações confiáveis e oficiais sobre as eleições, capacitação, contenção de desinformação e transparência.
Facebook, Instagram, YouTube, Kwai, Tiktok e Twitter já fizeram isso. E até mesmo o Telegram se comprometeu a não servir de plataforma de espalhamento de fake News embora possa oferecer essas possibilidades.
Já se sabe que o acordo firmado em fevereiro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com redes sociais e aplicativos de trocas de mensagens ainda tem brechas em medidas de combate à desinformação no Brasil.
Mas o presidente vai aproveitar para alimentar suas redes e dizer que e não será cumprido. Será.
Os seus grupos vão continuar a disseminar notícias falsas. Eles não fizeram outra coisa dos últimos quatro anos e vão continuar a fazer.
O presidente diz que ocupa o cargo graças a uma "missão de Deus”. E diz que “a liberdade é um bem mais valioso do que a nossa própria vida”. E afirma que daria "a vida" para que “o Brasil, um País livre continue a ser livre”
É uma visão muito estranha do cargo de presidente. Mas ele acredita e faz muita gente acreditar nesse tipo de afirmação.
Ele pode até acreditar. Mas ele sabe que não pode fazer um acordo com o WhatsApp. Embora para manter esse embate não hesite em acionar os ministros das Comunicações e da AGU.
Não vai acontecer nada. Mas ele vai lacrar. Ah, vai