Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Para evitar desabastecimento, Brasil já discute com Rússia importação de diesel. Dificuldade é como pagar

A dificuldade é em função do boicote internacional depois da guerra da Rússia com a Ucrânia. E receber pagamentos de operações pagas à vista por parte de empresas do Brasil

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Fernando Castilho

Publicado em 28/06/2022 às 11:40 | Atualizado em 28/06/2022 às 13:00
Refinarias de Petróleo da Rússia podem abastecer o Brasil - Divulgação Tyumen Rússia

Com o risco de desabastecimento de combustíveis, o Governo Federal colocou o Ministério das Relações Exteriores no circuito para conseguir importar diesel da Rússia. Hoje, só a Petrobras está importando da Índia, que recebe petróleo da Rússia.

O Itamaraty está ajudando para que empresas privadas se credenciem para a importação em tratativas com a Abicom.

Mas há dificuldades. O problema é que nenhum banco quer abrir carta de crédito para operações de importações da Rússia, temendo represálias em função do boicote internacional depois da guerra da Rússia com a Ucrânia. E nem receber pagamentos de operações pagas à vista por parte de empresas do Brasil.

Na prática, isso quer dizer que a embaixada do Brasil em Moscou já trata dessas possíveis importações da Rússia e está atuando em nível da diplomacia para que os agentes consigam autorização para fechar a importação, como foi feito com a compra de fertilizantes.

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O Brasil vai precisar importar, por mês, entre 228 milhões e 454 milhões de litros de diesel S-10 (2,37 bilhões de litros, no segundo semestre). Esse é o volume a mais do produto, além do que a Petrobras produz e do que vai importar. No total, o déficit de diesel estimado de julho a dezembro é de quase 3 milhões de metros cúbicos.

Na verdade, segundo acerto da Petrobras com o ministério das Minas e Energia, a estatal se comprometeu a importar de julho a dezembro 2.925 mil metros cúbicos de combustíveis. Nos meses de setembro e outubro, ela vai importar 1.225 mil metros cúbicos.

Entretanto, ainda assim, sua produção somada à importação não será suficiente para atender a demanda.

O Brasil consome mais de 5 milhões de metros cúbicos por mês.

Numa reunião no começo do mês no ministério das Minas e Energia, da qual participaram a Petrobras e as empresas distribuidoras, ficou constatada a necessidade de o Brasil precisar importar pouco mais de 15% para atender ao mercado de diesel. Isso equivale a trazer, no semestre, o volume de 2.971 mil metros cúbicos, que representam 55% da média de 5.334 mil metros cúbicos consumidos por mês.

Com a defasagem dos preços em relação ao mercado internacional (antes do aumento anunciado dia 14), nenhuma importadora privada quis se comprometer em importar diesel.

Mas depois do reajuste, a nova realidade de preços provocou uma articulação do Governo junto à Rússia para que ela ajude nessa compra.

Para isso, existem dois fatores a favor do governo brasileiro. O primeiro, o alinhamento de Bolsonaro com Putin em relação à guerra. O segundo - não menos importante - é que a Rússia tem preços menores que os demais países, a exemplo da Índia, que vende para a Petrobras, mas cobra preços internacionais.

Em visita oficial à Rússia, nesta quarta-feira (16/02), o Presidente da República, Jair Bolsonaro, se reuniu, com o presidente do país, Vladimir Putin. - Foto: Alan Santos/PR

Dessa forma, ainda que o preço no mercado interno ainda esteja defasado (a Abicom estima esse percentual em 8% sobre o diesel), a importação da Rússia ainda seria competitiva para as empresas privadas. E nessas condições, elas topam trazer o diesel da Rússia.

Do ponto de vista financeiro e operacional, a importação de quase 3 milhões de toneladas de diesel da Rússia entre julho e dezembro não teria problemas. A questão é como pagar esse petróleo, já que a Rússia está fora do mercado financeiro internacional.

E existe ainda a questão mais geopolítica internacional, já que importar da Rússia é brigar com os demais países como Estados Unidos, além da União Europeia.

De qualquer forma, o Brasil se alinhou aos países do BRICS, onde está China, Índia, África do Sul e Rússia, no sentido de defender o fim da guerra para reduzir os impactos econômicos no mundo. E trabalha dizendo que até países que estão na União Europeia continuam importando gás da Rússia.

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