Numa mudança estratégica radical, a Petrobras está analisando a volta dos investimentos em suas refinarias, a conclusão da refinaria Abreu e Lima e do polo Gaslub (antigo Comperj), em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, voltado para ampliação da oferta de óleo diesel, incluindo a produção em larga escala do Diesel R (chamado de diesel verde).
O Diesel R - nome de mercado do produto dado pela Petrobras - é um combustível produzido por coprocessamento de diesel mineral com óleo vegetal, que contém uma parcela de diesel verde (HVO, em inglês), que pode variar de 5% (Diesel R5) até 10% (Diesel R10). Se isso acontecer, apenas na Rnest deverão ser gerados 10 mil empregos no complexo na contratação de trabalhadores da construção pesada.
Os investimentos para expansão da produção de Diesel R estão sendo desenvolvidos pela Petrobras, mas pelo cronograma de investimentos atual, apenas no segundo semestre de 2023 a empresa iniciaria a comercialização na Refinaria de Cubatão (RPBC) e, ao longo dos próximos 3 anos, iniciaria vendas nas refinarias de Paulínia (REPLAN) e de Duque de Caxias (REDUC).
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Entretanto, a partir da mudança da diretoria da empresa, será proposto já na reunião do Conselho de Administração, no próximo dia 27, o início de um ambicioso plano de ampliação da capacidade de suas refinarias, entre elas a Abreu e Lima, em Suape, que terá sua planta concluída e receberá investimentos para produzir o Diesel R. O mesmo acontecerá na planta de Itaboraí, no Rio de Janeiro.
Neste domingo, ao menos dois diretores da estatal, Claudio Romeo Schlosser, diretor de Comercialização e Logística, e William França da Silva, diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, confirmaram ao jornal O Globo que as discussões do novo plano de negócios envolvem a construção de unidades 100% renováveis no Gaslub e na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca, em Pernambuco, estão sendo feitas de modo a propor mudanças no plano de investimento da companhia na reunião do Conselho de Administração do dia 27, ampliando os investimentos biorrefino, inicialmente previstos a planta de Cubatão.
Segundo a reportagem, Claudio Romeo Schlosser revelou que já nas primeiras deliberações da nova diretoria, foi feita uma revisão das propostas de diretrizes para o planejamento estratégico. “O pré-sal continua sendo o carro-chefe. Mas tudo isso está alinhado com a transição energética.”
Já o William França da Silva disse ao jornal que a principal mudança envolve a construção de unidades onde serão produzidos apenas diesel 100% renovável, o diesel verde, a partir do óleo vegetal ou resíduo animal, como o sebo.
Essa mudança decorreu de reunião no último dia 6, quando a nova Diretoria Executiva aprovou proposta de ajuste organizacional, a ser submetida ao Conselho de Administração, criando a Diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis que será dirigida pelo ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética - EPE, Maurício Tolmasquim, reunindo as atividades de engenharia, tecnologia e inovação.
A produção de Diesel R já faz parte da linha de investimentos da Petrobras no campo de pesquisa. Em fevereiro, ela recebeu certificado internacional para a unidade de coprocessamento que produz o Diesel R na Refinaria Presidente Getúlio Vargas – Repar (Araucária, PR) da ISCC (International Sustainability Carbon & Certification.
Mas para chegar à produção em larga escala, como anuncia a nova diretoria da Petrobras, será necessário ajustar com os fornecedores de óleo diesel e diversificar as outras matérias-primas para processamento nas nossas unidades de refino, o que hoje não existe.
E como afirmaram Claudio Romeo Schlosser e Claudio Romeo Schlosser, as novas unidades no Rio e em Pernambuco vão passar ainda pelas etapas de projeto conceitual, básico e de detalhamento. Só depois vai para licitação e construção.
No caso do Diesel R, a rastreabilidade das emissões é específica para a parcela sustentável presente no diesel coprocessado, considerando todos os agentes econômicos envolvidos, desde a origem da matéria-prima, passando pelo transporte e processamento, até a entrega e o uso do combustível, que já sai da refinaria associado ao diesel mineral.
Para se ter uma ideia do caminho a ser percorrido, basta dizer que o primeiro teste comercial do diesel R foi realizado em setembro de 2022, na REPAR, quando foram produzidos 1.500 m³ de Diesel R5, com 5% de conteúdo renovável. Desde fevereiro de 2023, a produção do diesel R segue sendo realizada em bateladas regulares para atender às necessidades dos clientes.
Para Pernambuco, a proposta de incluir a refinaria Abreu e Lima é a garantia de que o empreendimento receberá os recursos para sua conclusão estimados em US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões ao cambio atual), que serão usados na conclusão do segundo trem de produção que dobraria a produção de óleo/dia ao seu parque.
Por ser a mais nova unidade, a Rnest é uma das que mais rapidamente pode ser adequada à produção de Diesel R. Ano passado ela fez exportação de 25,6 mil toneladas de coque verde de petróleo para o porto de Rizhao, no sudeste da província de Shandong, na China.
O coque verde produzido na RNEST tem como grande diferencial o baixo teor de enxofre, raro em comparação ao nível mundial, sendo um produto de maior valor agregado e de menor impacto ambiental. Coque é o resíduo final do craqueamento do petróleo processado na Rnest.
A RNEST é uma refinaria especializada em produzir o produção do óleo diesel S10, o melhor produto que a Petrobras tem hoje no mercado. Mas ela produz também óleo combustível utilizado em grandes motores por setores da Indústria, termoelétricas e navios, o Bunker 2020 - combustível marítimo com baixo teor de enxofre.
No ano passado, a empresa fez uma companhia destacando essa menor pegada de carbono e maior eficiência energética com o objetivo é mostrar que os novos produtos reforçam o compromisso da Petrobras com a transição energética. Um dos destaques foi o diesel com conteúdo renovável – batizado de Diesel R , primeiro combustível da nova geração de produtos mais sustentáveis que a Petrobras começou a ofertar ao mercado.
Até 2021, a refinaria Abreu e Lima (RNEST) esteve no projeto de desinvestimento da Petrobras, mas ela nunca recebeu uma proposta de aquisição. No Governo Bolsonaro, as refinarias Alberto Pasqualini (REFAP-RS), Gabriel Passos (REGAP-MG), Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR-CE) e a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX-PR) receberam propostas. As refinarias Landulpho Alves (RLAM) e Isaac Sabbá (REMAN) foram as únicas que foram vendidas.
A RNEST é a mais moderna refinaria que já construímos e já contribui para atendermos a demanda nacional por derivados de petróleo. Dentre todas as refinarias brasileiras, ela é que apresenta a maior taxa de conversão de petróleo cru em diesel (70%), combustível essencial para a circulação de produtos e riquezas do país.
De acordo com o Plano Estratégico para o quinquênio 2022-2026, que deverá ser mudado, a Petrobras aponta que, na área de Refino, serão investidos US$ 6,1 bilhões nos próximos cinco anos, sendo US$ 1,5 bilhão na integração entre a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e o GasLub Itaboraí, para a produção de derivados de alta qualidade e óleos básicos, "a fim de aproveitar a crescente demanda do mercado de lubrificantes".
O investimento na RNEST será de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5 bilhões), para conclusão do segundo trem da refinaria, o que possibilita a ampliação de sua produção de 115 mil para 260 mil barris por dia (bpd) em 2027.