Descaso, teu nome é o Corredor de BRT Norte-Sul

Publicado em 14/03/2017 às 8:00
Foto: NE10


  Você acredita que isso é um corredor de BRT? O trecho da PE-15 fica em Jardim Fragoso. Fotos: Ricardo B Labastier/JC Imagem   No discurso político, o governo de Pernambuco se prende à frieza das estatísticas e anuncia, sempre que questionado, estar com 99% do Corredor Norte-Sul pronto, um dos dois sistemas de transporte por BRT implantados na Região Metropolitana do Recife, copiados da capital paranaense Curitiba. Mas essa não é a verdade. O Norte-Sul deveria ter, pelo projeto original – idealizado pelo então governador Eduardo Campos, do PSB, mesmo partido do governo atual –, mais um ramal, o da Agamenon Magalhães, e chegar à estação do metrô de Cajueiro Seco, no sul do Grande Recife. Ou seja, ser bem maior do que é. E, além de incompleto, sofre com o abandono. Excluindo os 90 veículos BRTs em operação e o Terminal Integrado de Abreu e Lima, o corredor é o retrato da degradação e da falta de cuidado na implantação de um projeto que custou, até agora, quase R$ 220 milhões de investimentos em infra-estrutura e equipamentos. Em resumo: descaso, teu nome é Norte-Sul. E antes mesmo de completar três anos de vida.  
  A foto principal que ilustra essa reportagem resume bem a situação do corredor. O pavimento praticamente destruído fica no trecho da PE-15, no bairro de Jardim Fragoso, em Olinda. E não é a primeira vez que a situação naquele ponto chega a esse extremo. Aliás, a cada ano a cena se repete e ilustra outras reportagens, sem que nada seja feito, além de recuperações paliativas. O Norte-Sul sofre com a falta de infraestrutura adequada e também com a ausência de manutenção dessa pouca infraestrutura. Em Olinda e em Paulista, o lixo e a vegetação alta são vistos por toda a extensão. Em Paulista, ao menos o corredor é exclusivo – apesar das constantes invasões de veículos particulares sem que haja fiscalização punitiva. Em Olinda nem isso acontece. Além de ter trechos de tráfego misto, o BRT sofre com a degradação não só das estações, mas do entorno delas.  
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  Quando chega ao Recife, a situação complica e o Norte-Sul perde totalmente o caráter de corredor exclusivo. Vira um mero ônibus misturado a outros coletivos e, o que é pior, aos veículos particulares, inclusive caminhões. “Infelizmente, somente no trecho da Avenida Cruz Cabugá temos uma grande perda de velocidade, além de outros riscos, como as colisões com os carros, por exemplo. Nos horários de pico, quando o transporte se faz mais necessário para a população, os BRTs saem de 23 km/h para 5 km/h. E isso é uma pena porque o corredor é o melhor de toda a Região Metropolitana”, relata Gibson Pereira, do Conorte, consórcio responsável por operar o Norte-Sul e que reúne as empresas Itamaracá, Cidade Alta e Rodotur. LEIA MAIS Corredor Norte-Sul – um BRT novo com cara de velho Corredor Norte-Sul totalmente pronto somente em julho. Leste-Oeste ainda sem previsão. Assim caminha o BRT pernambucano     INSEGURANÇA Não é só a falta de infraestrutura que rebaixa o Norte-Sul, por exemplo, em relação ao Leste-Oeste, o segundo corredor de BRT do sistema de transporte. A insegurança é outra fraqueza, alimentada exatamente pelo abandono das estruturas do corredor. “Tenho evitado usar o BRT, apesar do conforto dos ônibus, com medo dos assaltos. Os ladrões entram sem dificuldade pelas estações e como os ônibus não abrem as portas em qualquer lugar, apenas nas estações, ficamos expostos”, lamenta a vendedora Maria Aparecida da Silva, que vem trocando o BRT pelo ônibus comum no percurso de casa, em Paulista, para o Centro do Recife. Na verdade, o corredor sofre por cortar cinco cidades e depender, em variados setores, da gestão de diferentes prefeituras (Igarassu, Abreu e Lima, Paulista, Olinda e Recife) e órgãos (Grande Recife Consórcio de Transporte, Secretaria Estadual das Cidades e DER-PE). Cada um tem uma responsabilidade diferente. Por isso a dificuldade em obter respostas sobre os problemas do poder público. Por nota, a Secretaria das Cidades reafirmou que o corredor está 90% concluído, faltando apenas a construção de duas estações (em Paulista e em frente ao Centro de Convenções), e que está cobrando a recuperação do pavimento do Consórcio Emsa/Aterpa, responsável pela obra. Já o GRCT afirmou que o ganho de velocidade dos BRTs depende da recuperação da infraestrutura do corredor e da segregação viária no Recife, principalmente na Avenida Cruz Cabugá.     Veja a resposta oficial do governo do Estado via nota enviada pela Secretaria das Cidades * As obras do Corredor Norte-Sul continuam sendo executadas pelo Consórcio Emsa/Aterpa e estão com 90% concluídas. Já foram investidos R$ 156 milhões; 28 estações eram previstas no projeto e 26 encontram-se em operação;       Obras em andamento: * Estação BRT em Paulista - No último dia 02 de fevereiro teve início a construção da estação próxima à Faculdade Joaquim Nabuco e ao Shopping North Way, no município de Paulista. A obra está no estágio de fundação. A estação não estava prevista no projeto original do corredor BRT Norte-Sul, mas foi decidida a sua execução em função da demanda da comunidade, da Prefeitura de Paulista e da análise dos técnicos do Grande Recife Consórcio de Transporte. O prazo de execução da obra é estimado em seis meses. O valor do investimento é de 2,5 milhões. A estação seguirá o mesmo padrão das demais do Sistema BRT. De acordo com o departamento de Planejamento do Grande Recife Consórcio de Transporte, quando a estação for concluída, a expectativa é que atenda a uma demanda de 3.100 pessoas/dia. * Estação Centro de Convenções – As obras começaram em outubro de 2016. A estimativa é que a execução dure sete meses. O valor previsto é de R$ 2 milhões. * Pavimento do Norte-Sul – O Consórcio Emsa/Aterpa está negociando com empresas locais os reparos que não foram concluídos no pavimento. * Sobre a sujeira, degradação e a vegetação alta falar com o DER-PE
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