A discussão necessária sobre os patinetes elétricos

Publicado em 08/05/2019 às 8:40
Foto: NE10


Patinetes elétricos estão se tornando perigosos porque não têm estrutura adequada para circularem, colocando em risco a segurança de quem conduz e de pedestres. Foto: Divulgação/Grin  

 

Os relatos de quedas e atropelamentos com patinetes elétricos que começaram pelo País chegaram ao Recife. Pelo menos três pessoas foram atendidas nas últimas semanas do mês de abril nas unidades hospitalares que compõem a Rede D’Or São Luiz, que inclui os Hospitais Esperança Recife e Olinda, o Memorial São José e o São Marcos. Os equipamentos, que estão na cidade desde fevereiro deste ano – ao lado das bicicletas amarelas da empresa Yellow –, caíram no gosto popular principalmente por serem dockless (sem estação). Mas, por desenvolverem até 25km/h estão acendendo o alerta sobre os cuidados necessários para utilizá-los. Não apenas como, mas, principalmente, onde usá-los, já que não existe infraestrutura adequada.

Sem ciclovias e ciclofaixas – as mesmas reivindicadas pelas bicicletas –, as pessoas têm usado os patinetes elétricos nas ruas, ao lado dos veículos motorizados, ou sobre as calçadas. Na primeira opção, colocam em risco a própria segurança porque os patinetes são frágeis, com rodas pequenas. Essa, na avaliação de quem vivencia o trânsito e a chamada micromobilidade, é a principal dificuldade porque, ao encontrar um pequeno obstáculo no caminho, o patinete é mais instável do que uma bicicleta, necessitando de uma infraestrutura ainda melhor do que as existentes atualmente para as bicicletas. Não esquecendo que o equipamento também exige bom equilíbrio do piloto devido à velocidade e a pouca segurança.

  Na segunda opção, quando o patinete é usado nas calçadas, o risco vai além da pessoa que o utiliza. Alcança o pedestre. Casos de atropelamentos, por exemplo, já aconteceram nessas mesmas cidades e no mundo, exatamente porque estão sendo pilotados nas calçadas e calçadões, o que é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A única exceção é se estiverem sendo empurrados. Por tudo isso, a polêmica que está ganhando força onde os equipamentos chegaram deve ser usada para reivindicar infraestrutura ciclável. É o que defende a arquiteta e urbanista Meli Malatesta, presidente da Comissão Técnica de Mobilidade a Pé da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).

 

“Precisamos ter cuidado com a discussão que tem sido travada em relação aos patinetes elétricos. A grande questão é que o perigo existe porque, assim como a bicicleta, eles não têm a estrutura adequada para circular. Mais uma vez o conflito esta na injusta divisão do espaço público entre os modais ativos e os motorizados. Por isso, a briga não pode ser resumida a patinetes elétricos X pedestres. Olhar a polêmica apenas sobre a ótica do acidente é uma percepção limitada, pobre. Está na hora de as cidades investirem em infraestrutura cicloviária e no acalmamento do tráfego. Só assim a gente conseguirá ter cidades humanas, para as pessoas, onde o condutor do carro respeite os outros tipos de modais, principalmente os não motorizados”, alerta a urbanista.

 

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Recife, por exemplo, tem uma infraestrutaura ciclável irrisória quando comparada com a malha viária. Avançou nas últimas gestões do PSB – isso é fato –, mas continua sendo muito pouco (48 quilômetros) quando comparado com o exigido pelo Plano Diretor Cicloviário (PDC), que previa 591 quilômetros na Região Metropolitana, dos quais 250 quilômetros na capital até 20024. Atualmente, apenas 16% do plano foi executado. No fim das contas, a ausência de infraestrutura potencializa o perigo dos equipamentos. E ele é real. “O risco do patinete elétrico é semelhante ao da moto. É um equipamento rápido, já que desenvolve 20/25 km/h, que não tem proteção e, o que é mais preocupante, conduzido por pessoas que não têm conhecimento das regras de trânsito. Existe o risco da queda e do atropelamento. Já atendemos pacientes com escoriações e até fraturas de punho. Pessoas que caíram e uma que foi atropelada. Por isso é tão importante o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs), como capacete, joelheira e cotoveleira, que deveriam ser disponibilizadas pelas empresas que oferecem os patinetes”, alerta o ortopedista Ricardo Monteiro.

 

2 - Foto: Filipe Ribeiro/JC Imagem
6 - Foto: Roberta Soares
3 (2) - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

As pessoas precisam entender que o patinete elétrico não é um brinquedo. É um veículo elétrico individual. Essa é a premissa básica do pessoal da Loop Mobilidade Urbana, uma empresa recifense que chegou recentemente ao mercado e, diferentemente da Yellow, oferece apenas patinetes elétricos com estação. “Nós oferecemos o capacete e não alugamos para menores de 18 anos. Muitos pais até ficam chateados, mas explicamos que esse equipamento é um veículo de locomoção. Não é um brinquedo”, ensina Allison de Lima, dono da empresa. A Loop ainda possui apenas duas estações no Recife (no Hotel Radisson, em Boa Viagem, na Zona Sul, e no Parque da Jaqueira, na Zona Norte). Os patinetes têm um dispositivo que, quando acionado, limitam a velocidade a 18 km/h.

Atenta à polêmica criada, a Yellow – que conta atualmente com mais de 135 mil patinetes e bikes em sete países, tendo realizado 2,7 milhões nos últimos seis meses e gerando 1,1 mil funcionários junto com a Grin, empresa que oferece o mesmo produto – alerta que as duas empresa têm seguro contra acidentes para os clientes e estar em busca de soluções de segurança para a micromobilidade. “Em primeiro lugar, quero deixar claro para todos que a segurança é uma prioridade para nós. Temos intensificado as orientações de segurança não só no app, mas principalmente nas redes sociais. Alertando que apenas maiores de idade devem usá-lo, que a velocidade das ciclofaixas e ciclovias é de 20 km/h e de 6 km/h nas calçadas. E que o pedestre tem prioridade sempre, sempre. Também temos participado das discussões junto ao poder público sobre a regulamentação do serviço, como tem acontecido em algumas cidades”, garante Marcel Bely, gerente de relações públicas da Yellow.

 

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8 - Fotos: Divulgação
Yellow2 - Foto: Roberta Soares

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Ainda não aconteceu na prática, mas o Recife deu os primeiros passos para disciplinar a chegada das empresas de compartilhamento público de bicicletas e patinetes elétricos dockless (sem estação). Portaria baixada no início de abril pela Secretaria Executiva de Licenciamento Urbanístico (Selurb) pretende colocar ordem e fazer exigências para garantir um bom funcionamento.

De uma forma geral, as regras são boas para todos, mas especialmente para os usuários das bikes e dos patinetes elétricos dockless porque exigem contrapartidas para a exploração do serviço, como paraciclos, e a expansão pela cidade, numa tentativa de reduzir o caráter elitista que o modelo ainda possui. A portaria tem exigências também para os sistemas com dock (com estação), mas o alvo principal são as dockless.

Entre as exigências, o acesso do município aos dados das empresas, a orientação intensa aos usuários para não estacionar os veículos ativos nas calçadas ou em locais de passagem de pedestres, e a responsabilidade sobre qualquer prejuízo provocado ao patrimônio público. É determinado, também, que sejam criadas áreas específicas ou vagas rotativas para acomodar os patinetes e as bikes, e que elas tenham uma distância máxima de 500 metros das rotas cicláveis existentes na cidade.

O uso dos paraciclos é, sem dúvida, a exigência que mais vai beneficiar a população porque, segundo a portaria, para cada nova estação ou vaga rotativa solicitada pela empresa, a Prefeitura do Recife definirá outro local da cidade para serem instalados paraciclos na mesma dimensão.

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