Para reduzir custo, BRT pernambucano é substituído por ônibus comum com ar-condicionado

Publicado em 06/01/2020 às 19:14
Foto: NE10


Consórcio Conorte foi autorizado pelo governo de Pernambuco a fazer a substituição em algumas linhas que tiveram queda de demanda. 40 veículos foram comprados. Fotos: Conorte/Divulgação  

Depois das catracas escuras e altas para evitar invasões nas estações, o Sistema BRT (Bus Rapid Transit), batizado de Via Livre na Região Metropolitana do Recife, sofre mais uma descaracterização. E que dessa vez mexerá ainda mais com o conforto dos passageiros do sistema. No lugar dos imponentes veículos BRT, algumas linhas do Corredor Norte-Sul, que tem 33 quilômetros e liga o Recife ao município metropolitano de Igarassu, vão operar com ônibus comuns. É importante destacar que são coletivos novos, com ar-condicionado, suspensão a ar, com catracas e com cinco portas (três do lado direito e duas do lado esquerdo), o que permitirá ser utilizado não só nas estações elevadas, mas também na operação comum. Mas a diferença para os tradicionais BRTs é grande.

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As três linhas que inicialmente irão receber os novos veículos são a 1900 – PE-15 (PCR), 1915 – PE-15 (Dantas Barreto) e a 1970 – TI Pelópidas-PE15. Os BRTs que hoje operam nessas linhas deverão ser remanejados, segundo o Conorte, para as linhas 1909 – TI Pelópidas/TI Joana Bezerra e 1977 – TI Pelópidas/Conde da Boa Vista", diz André Melibeu, diretor de Operações do GRCT

 

Busólogos (estudiosos e apaixonados por ônibus) ouvidos pela reportagem atestam isso. Enquanto os BRTs tradicionais do Consórcio Conorte – que opera o Norte-Sul – têm 21 metros de comprimento, motor central ou traseiro, suspensão a ar com regulagem de plataforma e câmbio automático, os “novos BRTs” oferecem bem menos. Têm pouco mais de 13 metros de comprimento, o motor é dianteiro, a suspensão a ar é fixa (o que significa menos impacto ao passar por desníveis, por exemplo) e o câmbio é manual. Alem disso, são carros bem menos potentes. Terão entre 240 e 260 cavalos de potência, enquanto os BRTs convencionais têm 340 cavalos, o que impacta no desempenho do veículo. Apesar de serem informações bastante técnicas, na prática significa veículos com menos espaço e, portanto, com menor capacidade e menos confortáveis quando estiverem lotados. E mais: não podem sequer ser chamados de BRTs porque não são classificados assim nem mesmo pelas fabricantes.

 

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Antes de mais nada, o setor empresarial e o governo de Pernambuco – gestor do sistema de transporte, quem autorizou e está supervisionando a mudança – se apressam em garantir que o passageiro não será prejudicado, que os veículos serão utilizados em linhas ociosas e substituindo coletivos convencionais, e que a nova operação vai reduzir os custos do sistema. Consequentemente, reduzirá o valor do subsídio injetado pelo governo nos lotes operados pelo Conorte e a MobiPE, de aproximadamente R$ 250 milhões por ano. Esse, inclusive, é o grande motivador das alterações. “Em primeiro lugar é importante deixar claro que não estamos falando apenas de veículos novos. Os ônibus adquiridos são menores que os BRTs, de fato, mas são veículos modernos, com ar-condicionado, suspensão a ar e potencia de quase 300 cavalos. São bem diferentes dos ônibus utilizados na operação comum. Além disso, entrarão em operação em linhas com demanda ociosa para um BRT convencional e, principalmente, em linhas que operam com veículos convencionais sem ar”, garante o diretor de Operações do Conorte, Almir Buonora.

 

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Entre os argumentos de defesa de que a mudança será melhor para o sistema, Buonora lembra que nenhum dos 88 BRTs do Conorte será retirado da operação. Ao contrário. Serão remanejados para linhas do próprio sistema BRT que têm demanda que justifica e hoje operam com veículos convencionais. Seria o caso, por exemplo, da linha 1909 – TI Pelópidas/TI Joana Bezerra, que dispõe apenas de veículos convencionais e sem ar-condicionado.

“Nós temos linhas, por exemplo, em que a demanda teve uma grande redução e o BRT faz a viagem quase vazio. É um custo operacional desnecessário. Fizemos um levantamento de algumas linhas nessa situação para realizar a troca com aquelas que precisam de veículos maiores”, explica. O diretor também lembra que o BRT é um sistema e não apenas o veículo. "No Transmilênio, em Bogotá, por exemplo, a operação também conta com veículos menores. Há, inclusive, microônibus. É isso que estamos faxendo aqui: adotando veículos menores para linhas com  demandas menores e sem retirar da operação nenhum dos BRTs convencionais", afirma.

 

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7 - Novo BRT, com 13,8 metros
8 - Inicialmente, três linhas do Corredor de BRT Norte-Sul terão os imponentes veículos de 21 metros substituídos por ônibus novos, com ar-condicionado, mas com 13,8 metros. Fotos: Conorte/Divulgação

O governo de Pernambuco também garante que a mudança não prejudicará os passageiros e que será boa para a saúde financeira do sistema. “Autorizamos o Conorte a comprar 40 veículos para testar a nova operação, inicialmente, em três linhas que tiveram uma redução importante de demanda. Enquanto o sistema teve uma queda de 4% no número de passageiros, essas linhas tiveram de 15% em novembro de 2019 em relação a novembro de 2018, por exemplo. Além disso, como os veículos são mais baratos, haverá uma redução na remuneração das empresas. Ou seja, reduziremos o valor do subsídio que o Estado faz no sistema. Sem esquecer que os ônibus são novos, confortáveis e irão operar em substituição a ônibus convencionais”, explica André Melibeu,  diretor de Operações do Grande Recife Consórcio de Transportes (GRCT). A redução que será proporcionada com os veículos mais baratos, entretanto, ainda será calculada.

Segundo o Consórcio, as três linhas que inicialmente irão receber os novos veículos são a 1900 – PE-15 (PCR), 1915 – PE-15 (Dantas Barreto) e a 1970 – TI Pelópidas-PE15. Os BRTs que hoje operam nessas linhas deverão ser remanejados, segundo o Conorte, para as linhas 1909 – TI Pelópidas/TI Joana Bezerra e 1977 – TI Pelópidas/Conde da Boa Vista. Os “novos BRTs” custam um terço do valor dos BRTs tradicionais. Segundo o Conorte, um BRT custa, atualmente, R$ 1,4 milhão, enquanto os novos veículos adquiridos custam R$ 440 mil – ou seja, um terço do valor. Nos cálculos do GRCT, o preço de um BRT tradicional é de R$ 900 mil. Os novos veículos começam a rodar a partir da segunda quinzena de janeiro. Pelo menos por enquanto, a MobiPE, que opera o Corredor Leste-Oeste – entre o Recife e Camaragibe –, não está autorizada a fazer a mudança.

 

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