A transformação da mobilidade urbana nos próximos dez anos

Roberta Soares
Roberta Soares
Publicado em 02/03/2020 às 10:03
Foto: NE10


As viagens de carro particular diminuirão em 10% nas maiores cidades do mundo e 36,7 milhões de habitantes dessas mesmas cidades mudarão a maneira de viajar na próxima década. Fotos: Brenda Alcântara/JC

Em dez anos, o mundo - e o Brasil também - estarão percebendo a mobilidade urbana de uma forma totalmente diferente da atual. Nela, o transporte público será mais importante do que o uso do automóvel. As viagens de carro particular diminuirão em 10% nas maiores cidades do mundo e 36,7 milhões de habitantes dessas mesmas cidades mudarão a maneira de viajar na próxima década. Manchester, na Inglaterra, verá a maior mudança no uso de transporte, seguida por Moscou e São Paulo. E o ano de 2030 será o ponto de partida dessa mudança global da mobilidade sustentável. Duvida? Pelo menos é o que aponta o estudo Mobility Futures (Futuros da Mobilidade), realizado pela Kantar, empresa com sede no Reino Unido especializada em pesquisas de mercado, insights e consultorias, em 31 cidades mundiais ? no Brasil, apenas São Paulo fez parte.

O declínio do uso do automóvel será compensado pelo aumento do uso de transporte público, da bicicleta e da caminhada porque a população busca cada vez mais maneiras mais ecológicas de viajar. O estudo aponta que até 2030 os meios de transporte mais ecológicos representarão 49% de todas as viagens realizadas contra 46% dos carros,Estudo da Kantar

Toda essa transformação será provocada, basicamente, por quatro fatores identificados nas cidades entrevistadas:1) As pessoas estão prontas para mudar ? existe uma grande parcela da população que deseja otimizar seus deslocamentos individuais2) A escolha dos deslocamentos são emocionais ? As pessoas gostam de meios de transporte que trazem alegria para o deslocamento diário e que oferecem uma escolha de estilo de vida, não só uma forma de se deslocar3) As cidades são diferentes ? Por isso, cada uma pode ter soluções específicas e mais baratas para implantação4) Compartilhar é transformador ? As pessoas gostam e, consequentemente, as cidades podem aproveitar para inovar e ampliar o compartilhamento da mobilidade urbana. Os serviços da micromobilidade são um exemplo

Acesse o estudo da Kantar Segundo a Kantar, o crescimento da economia compartilhada, a multimodalidade e os veículos autônomos ? tudo isso agregado ao envelhecimento da população global ? reduzirão a necessidade de posse de carro. A redução na emissão de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNHs) no Brasil e o desapego dos jovens pela posse de automóveis já são reflexos desse fenômeno. E isso acontece em todas as faixas etárias, com destaque para os jovens entre 18 e 21 anos, que viram o interesse pela direção de um carro despencar 20,6% em apenas três anos.Os números do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) comprovam a mudança. O total de emissões de CNHs passou de 1,2 milhão, em 2014, para 939 mil, em 2017. Como a queda também foi verificada em outras faixas etárias, a redução foi de 3 milhões para 2,1 milhões no mesmo período. Em Pernambuco, o carro amarga uma perda de encantamento ainda maior do que no resto País. Principalmente entre os jovens. Saímos de 100 mil primeiras CNHs emitidas em 2014 para 41 mil em 2018. E a tendência de queda permanece em 2019 com apenas 14 mil emissões até o mês de abril. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE).

Ao mesmo tempo, o declínio do uso do automóvel será compensado pelo aumento do uso de transporte público, da bicicleta e da caminhada porque a população busca cada vez mais maneiras mais ecológicas de viajar. O estudo aponta que até 2030 os meios de transporte mais ecológicos representarão 49% de todas as viagens realizadas contra 46% dos carros. Atualmente, os automóveis representam 51% das viagens. Deslocamentos de táxi e compartilhamento/carona serão responsáveis pelos 5% restantes.

Opção pelo transporte público também crescerá na próxima década. O estudo aponta que até 2030 os meios de transporte mais ecológicos representarão 49% de todas as viagens realizadas contra 46% dos carros. A ciclomobilidade terá destaque no futuro. Pelo estudo da Kantar, o ciclismo caminha para ser o meio de transporte que mais cresce. Tem uma previsão de aumento de 18% até 2030. Já a caminhada e o uso de transporte público aumentarão 15% e 6%, respectivamente. Todo esse crescimento estimulado pela mudança comportamental das pessoas e pela ampliação da infraestrutura voltada para a ciclomobilidade, o compartilhamento de serviços, a mobilidade a pé e o uso do transporte público. A pesquisa da Kantar descobriu que 40% das pessoas em todo o mundo estão abertas a adotar novas soluções inovadoras de mobilidade, mas nem todas as cidades estão prontas para a transformação da mobilidade.

São Paulo foi a única cidade brasileira a participar do estudo da Kantar. Foto: Pixabay[/caption]

SÃO PAULO

São Paulo - a maior cidade da América do Sul - terá uma transformação significativa na mobilidade urbana até 2030. Haverá uma queda de 28% no uso de carros e, em contrapartida, os deslocamentos utilizando o sistema público crescerão 10%. A mobilidade a pé aumentará 25% e, por bicicletas, 47%. Lembrando que o estudo da Kantar envolveu 20 mil usuários de diferentes meios de transporte e viajantes frequentes nas 31 cidades pesquisadas.

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