Somos 130 milhões de brasileiros caminhando todos os dias - 40% da população que se desloca apenas a pé somada aos 28% que utilizam também o transporte coletivo. O caminhar faz bem para as cidades e para quem o pratica, tanto para a saúde quanto para a mente. Embora não permita percorrer longas distâncias, está sempre na primeira ou na última milha de quem utiliza o transporte coletivo e/ou a bicicleta, por exemplo. Mas o caminhar segue negligenciado no Brasil. Já o era no pré-pandemia. E continua sendo. Nenhuma política voltada para a mobilidade a pé foi anunciada no Brasil durante a crise sanitária provocada pelo coronavírus. E não há qualquer previsão de que o será em breve. Andar a pé não é, para a maioria das pessoas, motivo de orgulho. Por isso, indivíduos têm dificuldade de se identificar como pedestre.
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O caminhar ainda é visto como algo menor. Diferentemente do uso da bicicleta, por exemplo, não está no imaginário das pessoas como um modo de se deslocar “jovem” e “cool”. Essa última frase, que resume bem a percepção que a maior parte da sociedade tem da mobilidade a pé, é da publicação Andar a pé eu vou - Caminhos para a defesa da causa no Brasil, projeto do ComoAnda, coletivo da sociedade civil organizada que promove a mobilidade a pé no País. Nasceu em 2016, numa parceria entre as organizações de São Paulo Cidade Ativa e Instituto Corrida Amiga, com apoio institucional-financeiro do Instituto Clima e Sociedade (ICS). E tem como objetivo dar voz às necessidades da mobilidade a pé. Fazer valer a importância de andar a pé para a sociedade, para as cidades e para o meio ambiente - não à toa tem o ICS como fomentador.
E não é para menos. Todos somos pedestres, mesmo aqueles que usam o automóvel até para ir à padaria, por exemplo. Embora a mobilidade a pé responda por 68% dos deslocamentos do País - somando o caminhar com o uso do transporte público, como indica a mais recente atualização do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP) - os veículos motorizados individuais predominam na ocupação dos espaços dos centros urbanos. Na maioria das cidades ocupam mais de 80% do sistema viário para circular e estacionar. Diante desse histórico descaso com o caminhar que surge a publicação Andar a pé eu vou. Para mostrar que é preciso dar menos prioridade ao transporte individual motorizado (carro e moto, principalmente), que geram a morte de 40 mil pessoas por ano, deixam 500 mil mutilados e geram um custo superior a R$ 36 bilhões anuais à saúde pública.
“Desde que a Política Nacional de Mobilidade Urbana foi aprovada em 2012, tornou-se claro que a mobilidade a pé deve ser priorizada em relação aos demais modos de transporte. É sabido que caminhar, muitas vezes, não é suficiente para cumprir uma viagem inteira, mas sem dúvida é uma parte importante desse deslocamento. Repensar hábitos e exigir que o poder público dê o devido tratamento para a mobilidade a pé é fundamental para que tenhamos cidades mais dinâmicas e sustentáveis”, defende Marcel Martin, coordenador do Portfólio de Transportes do ICS.
“A publicação mostra que ainda há muitos passos a serem dados, mas que muitos grupos já estão em marcha. A partir dos estudos de caso apresentados em detalhes, pessoas interessadas podem se apropriar e identificar táticas e ferramentas e como aplicá-las em ações de defesa da mobilidade a pé em suas cidades. Também abre possibilidades concretas de construirmos melhores condições e visibilidade para as pessoas que se deslocam — e ocupam as cidades — a pé. Fortalecer essa sinergia é essencial para os próximos passos rumo a um movimento mais forte, unido e que consiga atingir seus objetivos”, vibra Silvia Stuchi, diretora do Corrida Amiga.
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ILUMINAÇÃO FOCADA NO PEDESTRE
O Recife tem avançado na questão da iluminação focada no pedestre e, não mais, na rua, no automóvel. O Ilumina Recife já permitiu a implantação de 60 mil luminárias com tecnologia LED e a meta é a substituição de 80% de toda a iluminação pública até outubro de 2020. Corredores viários da cidade importantes para o transporte público e redutos de pedestres estão na lista do projeto, como a Avenida Agamenon Magalhães, A Avenida Norte e, recentemente, a Avenida Conde da Boa Vista, recém qualificada.
Segundo a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), as luminárias usadas possuem curvas fotométricas que favorecem esses resultados porque as luminárias voltadas para as vias contribuem muito com a iluminação do passeio, elevando os resultados fotométricos e, na maioria das vezes, dispensando iluminação somente pedonal. Assim, ela se torna uma iluminação eficiente, confortável e atrativa não só para o tráefgo dos veículos, mas também voltada para pedestres e ciclistas.
PROGRAMA DE CALÇADAS
A capital também tem avançado na requalificação e implantação de calçadas e travessias elevadas. A Avenida Conde da Boa Vista, mais uma vez, é um corredor que representa parte dessas melhorias, com a implantação de 15 travessias elevadas ao longo dos 2,6 quilômetros da via. Em relação às calçadas, o Projeto Calçada Legal, executado desde 2017 pela Autarquia de Urbanização do Recife (URB), tinha requalificado 25,4 quilômetros de calçadas no Recife até o dia 10 de agosto. A iniciativa beneficia os principais corredores viários e será executada em todas as Regiões Políticas Administrativas (RPA’s). Até o final de 2020 mais 23,2km de passeios públicos serão requalificados por meio do projeto, totalizando 48,6 km de vias beneficiadas.