A mobilidade urbana tem ocupado um bom espaço nos programas de governo de alguns dos candidatos a prefeito do Recife. Não de todos, é fato. Mas da maioria. E, o que é melhor: predominantemente, as propostas falam no passageiro do transporte público, no ciclista e no pedestre. O automóvel segue tendo vez e voz em algumas candidaturas - inclusive com promessas de desligar e auditar a fiscalização eletrônica para combater o que chamam de indústria da multa -, mas não é mais dominante como o foi em muitas e muitas eleições.
A Coluna Mobilidade reuniu as propostas dos sete candidatos a prefeito do Recife que têm representatividade na Câmara Federal para ajudar os leitores a conhecer um pouco mais sobre os planos daqueles que pretendem comandar o Recife, uma capital metropolitana sob todos os aspectos, ainda mais na mobilidade urbana. Entre as propostas, a promessa de empenho para dar velocidade e qualidade ao transporte por ônibus e até de articulações para ampliação da malha do metrô, assunto que há décadas não é mais tratado na Região Metropolitana do Recife. Ou, ainda, a defesa de ações que promovam a segurança viária nas ruas da cidade.
O fato de o transporte público coletivo, a mobilidade ativa e a segurança viária ganharem protagonismo nos planos, no entanto, não significa que serão protagonistas na prática, quando o futuro prefeito ou prefeita assumir. Afinal, no discurso, a mobilidade sustentável e coletiva funciona bem. Executá-la sempre foi e segue sendo o maior desafio. Mas saber que o planejamento dessas candidaturas está enxergando-as é um bom sinal. A cidade do Recife agradece. E, de toda forma, conhecendo as propostas, o cidadão poderá cobrá-las no futuro.
João Campos (PSB)
João Campos promete humanizar a mobilidade da cidade e coloca pedestres, ciclistas e passageiros de transporte coletivo como prioridade. Fala, inclusive, na criação de uma gestão específica para cuidar do que chama mobilidade humana. As propostas, no entanto, não são detalhadas. A única exceção é a promessa de ampliação em 100 quilômetros da malha cicloviária do Recife. João Campos se apoia nos avanços que a gestão do PSB conseguiu à frente da prefeitura por oito anos e promete ampliar as ações exitosas, como as faixas exclusivas para ônibus. Ainda na ciclomobilidade, diz que vai implantar estruturas em grandes eixos viários e conectá-las, algo que até agora o PSB não conseguiu realizar na capital.
Em relação ao transporte público, não fala em retirar o Recife do Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM). Ao contrário, promete ter uma participação maior para exigir mais qualidade do serviço. Também diz que vai ampliar o programa de requalificação das calçadas que a prefeitura realiza (Programa Calçada Legal, que desde 2017 pretende recuperar e implantar 134 km de calçadas) e investir em engenharia de tráfego. Mas não detalha.
Promete finalizar o Plano de Mobilidade Urbana (PMU), há oito anos em execução pela prefeitura, e, a partir da indicação de estudo técnico, transferir o planejamento da mobilidade da CTTU para o Instituto da Cidade Pelópidas da Silveira (ICPS). A CTTU faria apenas a orientação, fiscalização e sinalização do trânsito, seguindo o planejamento do ICPS. Em relação ao transporte público, promete validar a licitação da maior parte das linhas de ônibus, que foi realizada, mas até hoje não entrou em vigor. E, ainda, rediscutir o modelo de remuneração das empresas operadoras.
Promete concluir o Plano de Mobilidade e trazer um conceito desenvolvido no plano pelo PT, mas que foi rejeitado pelo PSB: incentivar a construção de edifícios-garagem conectados com o sistema de transporte. Também fala, sem detalhes ou fontes de recursos, em modernização semafórica, construção de um novo acesso viário ao bairro do Ibura (periferia da Zona Sul do Recife), triplicação da BR-232 na saída e entrada da capital, e viabilizar a retomada da construção da Ponte Iputinga-Monteiro, paralisada desde 2014.
Promete, sem detalhar quilometragem, por exemplo, criar um amplo programa de construção e recuperação de calçadas. Além de criar o Plano de Mobilidade do Ciclista para ser implementado prioritariamente nos corredores de transporte.
Em relação à ciclomobilidade, promete investir em ciclovias, garantindo que as de sua gestão “não serão como as atuais, que levam do nada para lugar nenhum”. Aposta nelas como transporte para desafogar o trânsito. Mas também não dá detalhes de quanto, como e quando seriam implementadas. E, por fim, promete melhorar o trânsito do Recife. Garante que será prioridade.
O candidato Charbel Maroun segue a lógica do seu partido, o Novo, e defende as parcerias com a iniciativa privada para melhorar a mobilidade urbana, inclusive a infraestrutura viária. Promete acabar com o que chama de “cartel do transporte coletivo liderado pelo governo estadual” e permitir a entrada de outros modelos de transporte, como os serviços sob demanda, com regras básicas universais a serem seguidas.
Também fala em combater o que chama de indústria da multa. Para isso, defende o fim do uso da arrecadação com multas de trânsito para compor o orçamento municipal. Ao mesmo tempo, diz que vai realizar auditoria técnica em toda a fiscalização eletrônica de velocidade da cidade e suspender o uso dos radares móveis.
Promete, ainda, ampliar ciclovias e criar rotas que liguem grandes corredores e também atendam aos bairros. Mas não dá detalhes do que planeja. Fala em inversões de tráfego nos horários de pico, regulamentação de mototáxis, incentivo aos aplicativos de transporte individual de passageiros - como Uber e 99 - e à carona coletiva.