Trânsito, transportes e mobilidade urbana, com Roberta Soares

Mobilidade

Por Roberta Soares e equipe
COLUNA MOBILIDADE

Chuvas em Pernambuco: além das mortes e perdas, buracos tomam conta do Grande Recife

Em alguns pontos, inclusive, esses buracos têm sido criados pelo poder público, que argumenta precisar seguir com a manutenção dos serviços independentemente das chuvas

Cadastrado por

Roberta Soares

Publicado em 07/06/2022 às 15:29 | Atualizado em 07/06/2022 às 17:18
Uma intervenção realizada pela Compesa na Rua Dom Bosco, na Boa Vista, que paralisou a circulação de veículos - especialmente ônibus - na Avenida Conde da Boa Vista no fim da tarde desta segunda-feira (6/6) - BETO DLC/JC IMAGEM

As chuvas que atingem Pernambuco por duas semanas - especialmente a Região Metropolitana do Recife - têm criado problemas para a mobilidade urbana que vão além dos alagamentos. Assim que a água baixa, muitas avenidas e ruas das cidades têm sido tomadas por buracos e, em alguns casos, verdadeiras crateras. Todos provocados pelas chuvas ou abertos em função dela.

Em alguns pontos, inclusive, esses buracos têm sido criados pelo poder público, que argumenta precisar seguir com a manutenção dos serviços independentemente das chuvas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com uma intervenção realizada pela Compesa na Rua Dom Bosco, na Boa Vista, Centro do Recife, que paralisou a circulação de veículos - especialmente ônibus - na Avenida Conde da Boa Vista no fim da tarde desta segunda-feira (6/6).

A Conde da Boa Vista parou completamente, afetando mais de 40 linhas que circulam pela via, destino de mais de 70% das linhas de ônibus em operação no Grande Recife. Para completar, a poucos metros do local, na pista local da Avenida Agamenon Magalhães, nas proximidades do Colégio Americano Batista, em direção à Rua Fernandes Vieira, um segundo buraco estava aberto, dificultando ainda mais o que já estava difícil.

O impacto no transporte coletivo foi enorme. “Tivemos atrasos, em média, bem superiores a 1h. Chegamos a quase 2h de atraso em algumas linhas. Tivemos veículos que saíram de 16h de Camaragibe e só conseguiram retornar às 21h. Já batemos três motores por causa dos buracos e da água. Está impossível transitar com os ônibus. O pavimento está 'farinhando', além dos buracos em diversas avenidas”, relata Djalma Dutra, diretor executivo da MobiBrasil, consórcio que opera, entre outras linhas, o BRT Leste-Oeste.

O Consórcio Recife de Transporte teve 61 viagens não realizadas durante a segunda-feira. A perda equivale a 6% da operação num único dia, provocada por um único buraco - BETO DLC
FOTO: BORACOS EM SITIO NOVO - BETO DLC

Outro exemplo do estrago promovido pelos buracos no transporte público são os dados do Consórcio Recife de Transporte, que teve 61 viagens não realizadas durante a segunda-feira. A perda equivale a 6% da operação num único dia, provocada por um único buraco.

Por email, a Compesa explicou que precisou realizar uma obra emergencial de esgoto na Rua Dom Bosco para substituição de tubulações danificadas que estavam provocando alagamentos na via. E que, por causa das chuvas, a previsão é de que a intervenção só seja concluída na quarta-feira (8/6).

O segundo buraco é de responsabilidade da Prefeitura do Recife. A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) informou estar trabalhando no local para eliminar um ponto de alagamento ocasionado pelo rompimento da tubulação durante o serviço que está sendo executado por outro órgão no local - no caso a Compesa. E que o trecho só deverá ter o tráfego liberado até o fim da semana.

BURACOS POR TODA PARTE

Embora os buracos na área central do Recife ganhem mais visibilidade principalmente por causa do impacto na operação dos ônibus, várias áreas não só da capital, mas de outros municípios da RMR têm sofrido com o problema.

Na Avenida Recife, o principal corredor de conexão entre as Zonas Sul e Oeste do Recife, parte da pista cedeu, abrindo uma grande e perigosa cratera. O transtorno foi tão grande que rendeu diversos memes nas redes sociais.

 
 
 
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BURACOS E ESGOTO

Muitos dos buracos que a população tanto reclama - como é o caso do aberto pela Compesa - são resultado de uma prática comum na cidade, carente de um sistema de esgotamento sanitário decente.
Na ausência dessa rede, existente em apenas 40% da cidade, as residências e condomínios ligam seus esgotos à rede de drenagem da cidade, que não é projetada para receber esse tipo de dejetos.

“A rede de drenagem da cidade não é projetada para receber esgoto, apenas a água da chuva. O esgoto libera gases da decomposição das fezes que atacam a tubulação - de concreto com estrutura de aço -, fazendo-a ceder”, explica o vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), Stênio Cuentro.

Outro aspecto que contribui para a proliferação de buracos é o envelhecimento e a baixa qualidade do asfalto utilizado. “Quando o asfalto fica claro, mais branco e com fissuras, é porque está ficando velho. Está perdendo os solventes e a liga. É sinal de que o asfalto está no fim da vida útil”, continua.

Uma intervenção da Compesa fez a Conde da Boa Vista parou completamente, afetando mais de 40 linhas que circulam pela via, destino de mais de 70% das linhas de ônibus em operação no Grande Recife - BETO DLC/JC IMAGEM

RECIFE NO CAMINHO CERTO

Apesar de a população estar reclamando da quantidade de problemas no pavimento com as chuvas, pelo menos o Recife está no caminho certo nas ações de recuperação do sistema viário. A garantia é dada, mais uma vez, pelo Crea-PE.

O engenheiro destaca que a forma de pavimentar as ruas e avenidas vem sendo realizada da forma correta desde o início da gestão do PSB, ainda com Geraldo Julio à frente da prefeitura, e segue com João Campos (também do PSB).

“A prefeitura abandonou o tapa-buraco e passou a fazer a recuperação das vias inteiras ou de trechos dela. Isso faz muita diferença. Demonstra preocupação com a qualidade”, pontua.

Sob a gestão do prefeito João Campos, mais um avanço nesse setor. “A prefeitura está adotando uma técnica de maior qualidade, na qual reforça o pavimento nas faixas de tráfego mais pesado, exatamente onde circulam os ônibus. É um asfalto com uma composição polimérica melhor, mais resistente à água e ao tráfego”, diz Stênio Cuentro.

O engenheiro cita alguns exemplos já em prática: “Está sendo utilizado nas faixas da direita e do meio de alguns corredores de grande tráfego. Já foi aplicado na Avenida Rosa e Silva (Zona Norte) e agora está sendo usado na Avenida Domingos Ferreira (Zona Sul). O asfalto comum (CAP - cimento asfáltico de petróleo) usado na maioria das ruas há mais de 40 anos, está sendo substituído e isso é ótimo”, elogia.
Mas alerta: é preciso manter essa técnica e não voltar ao uso da velha operação tapa-buraco.

NA FOTO: BURACOS RUA DO PROGRESSO - BETO DLC
FOTO: BORACOS EM SITIO NOVO - BETO DLC

DE OLHO NOS BURACOS

A Emlurb explicou que o município possui um sistema de fiscalização para identificação dos buracos da cidade e que a ação consiste na atuação de fiscais equipados com motocicletas, que reforçam o monitoramento nas ruas da cidade, identificando e planejando os serviços de pavimentação, como recapeamentos, operação tapa-buracos e abatimentos.

Seriam seis duplas, cada uma atuando em uma Região Político-Administrativa (RPA), equipadas com câmeras fotográficas, Ipads e aparelhos de GPS, vasculhando as ruas e avenidas e identificando alguma ocorrência. “Com isso, a Emlurb obtém uma maior rapidez nos serviços, reduzindo o tempo de resposta entre a identificação e a execução, além de um acompanhamento mais eficaz das ações e uma fiscalização permanente. É importante destacar que com essa identificação também é possível dizer as ocorrências relacionadas às concessionárias de água, esgoto, gás e telecomunicações”, explicou o órgão por email.

A Emlurb também garantiu ter um levantamento das vias mais críticas e já ter solicitado às empresas contratadas o reforço dessas equipes, já que todos os dias o número de buracos e abatimentos cresce devido ao grande volume de água das chuvas e do desgaste das tubulações de drenagem.

“O levantamento é realizado de forma contínua, todos dos dias, tendo atualização constante. A autarquia já tinha a necessidade de cerca de R$ 20 milhões para fazer a manutenção preventiva, que é o recapeamento antes das chuvas, e cerca de R$ 12 milhões para tapa buracos para o ano. Com toda essa chuva, esses números devem aumentar ao menos cerca de 50%”, finalizou.

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