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Metrô do Recife: sem estadualização e recursos, sistema segue sobrevivendo com 50% do que precisa. E ninguém faz nada!

Sistema tem orçamento de custeio previsto para 2022 no valor de R$ 93 milhões e, desse total, R$ 73 milhões tinham sido liberados até agora. Mesmo assim, necessitaria de ao menos R$ 120 milhões

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Roberta Soares

Publicado em 29/06/2022 às 17:57 | Atualizado em 29/06/2022 às 18:35
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Não aguentamos mais repetir: a mais recente quebra do Metrô do Recife - que provocou a paralisação da Linha Centro por mais de 20 horas nesta quarta-feira (29/6) - é mais um efeito resultante do abandono financeiro do sistema metropolitano, essencial para quem reside na Região Metropolitana do Recife. O metrô segue sobrevivendo de migalhas, sem orçamento sequer para cobrir as despesas de custeio, essenciais à operação de um sistema que precisa, antes de qualquer coisa, oferecer segurança ao passageiro.

Sem dinheiro, não há manutenção correta porque não existem mais peças e equipamentos para substituir os desgastados. Pelo menos nos últimos três anos - anteriormente também, mas numa frequência menor -, essa informação é dita e repetida às vezes toda semana, certamente uma ou duas vezes ao mês. Sem que ninguém faça nada. Absolutamente nada. 

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Segundo informações da Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife, gestora do metrô, o sistema tem um orçamento de custeio previsto para 2022 no valor de R$ 93 milhões e, desse total, R$ 73 milhões tinham sido liberados até agora. Mesmo assim, o metrô necessitaria para cobrir a operação da forma correta de ao menos de R$ 120 milhões, em média.

Para investimentos, a CBTU só tem previsto R$ 7, 6 milhões para 2022. A Companhia destaca que alguns investimentos foram feitos pela Administração Central da CBTU em Brasília, mas não informa quais.

DAY SANTOS/JC IMAGEM
Metrô do Recife quebra novamente - DAY SANTOS/JC IMAGEM

METRÔ NÃO PASSA CONFIANÇA

Quem depende, sofre e se revolta com o jogo de cena que tem cercado o sistema, sempre usado politicamente: “É dia sim, dia não. Mas toda semana. É complicado demais. E tudo isso pagando uma passagem cara. R$ 4,25 é caro, muito caro para o trabalhador. Não é justo. E não vemos ninguém brigar para melhorar”, critica o servidor público federal Carlos Eduardo Macedo, que anda de metrô diariamente para chegar ao Centro do Recife, onde trabalha.

“Os funcionários do sistema só aparecem quando têm o emprego ameaçado, depois somem. E o poder público não liga. Nem o federal nem o estadual. É preciso entender que o metrô é um problema de todos”, segue criticando.

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Metrô do Recife quebra novamente - DAY SANTOS/JC IMAGEM

QUEBRAS DO METRÔ

São muitas as consequências do abandono. Mas a principal delas é a quebra e a consequente paralisação do sistema, prejudicando os passageiros que dependem do serviço. Já foram 400 mil pessoas transportadas por dia, nas duas linhas principais do sistema: Linhas Centro e Sul. Agora está no patamar dos 200 mil passageiros diários.

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A crise econômica aliada ao aumento de mais de 180% no valor da passagem - que subiu de R$ 1,60 para R$ 4,25 num período inferior a dois anos - e as quebras provocadas pelo sucateamento espantaram o usuário.

Também de acordo com os dados encaminhados pela CBTU, foram nove quebras somente entre janeiro e abril de 2022. Em 2021, outras 22 paralisações. Algumas superiores a 24 horas de interrupção do sistema, o que comprova o grau de desmonte do metrô. A maioria com mais de 10h.

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Metrô do Recife enfrenta novo problema nesta quarta-feira (29) - DAY SANTOS/JC IMAGEM

ESTADUALIZAÇÃO DO METRÔ ENGAVETADA

Em maio, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, se comprometeu pessoalmente com os metroviários de que não iria avançar com o processo de estadualização e, posteriormente, concessão do Metrô do Recife à operação privada.

Assumiu o compromisso depois que técnicos da Secretaria de Planejamento de Pernambuco - com o seu aval - modelaram uma proposta de Parceria Público Privada (PPP) em parceria com o Banco do Nordeste, a pedido do governo federal. O Ministério da Economia decidiu conceder os sistemas operados pela CBTU no Brasil, além da Trensurb de Porto Alegre para gestão privada. E, apesar da recusa do Estado, os estudos seguem.

Os metroviários pressionaram e ameaçaram paralisar o metrô, conseguindo travar o processo pelo menos na gestão de Paulo Câmara. Agora, o sindicato da categoria diz que segue na luta para ajudar o metrô, enquanto as quebras continuam.

Segundo Luiz Soares, presidente do SindMetro, há uma expectativa de que o sistema receba um aporte de R$ 29 milhões. Mas por enquanto são apenas promessas do governo federal. “Estivemos no MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional) e nos foi garantido que em julho o Metrô do Recife receberá esse recurso. E em setembro mais R$ 30 milhões ou R$ 40 milhões referentes a uma porta orçamentária de recursos que virão de outros ministérios para o MDR. Estamos aguardando”, disse.

ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DA CBTU

Também por nota, a Administração Central da CBTU, em Brasília, confirmou que o Metrô do Recife recebeu neste mês de junho recursos adicionais do MDR para a operação do sistema, mas não informou a quantia.

Mesmo assim, reconheceu que o aporte ainda não é suficiente para todo o ano. E que, por isso, “segue em tratativas com o MDR para viabilizar a suplementação necessária para a plena operação de sistema”. Apenas.

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