COLUNA MOBILIDADE

Pedestres e ciclistas mais seguros no Recife. Não há como negar

CTTU comemora redução de 21% no número de mortes de pedestres e ciclistas na capital, embora os adeptos da mobilidade ativa ainda representem quase metade de todas as mortes

Roberta Soares
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Roberta Soares
Publicado em 30/09/2022 às 14:00 | Atualizado em 30/09/2022 às 21:51
DIEGO NIGRO/ARQUIVO JC IMAGEM
A entrada do Recife no seleto grupo de cidades assessoradas pela Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIRGS) tem sido fundamental - FOTO: DIEGO NIGRO/ARQUIVO JC IMAGEM
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Não há como negar que o Recife tem avançado nas soluções de proteção dos pedestres e ciclistas no trânsito. É fato que ainda não evoluímos para uma discussão ampla sobre a necessidade de reduzir a velocidade máxima das vias nas áreas urbanas - de 60 km/h para 30 km/h, como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) -, mas estamos melhorando.

Ao circular pela cidade, principalmente em grandes corredores viários que recebem um alto volume de transporte público, é possível identificar equipamentos e intervenções urbanas que garantem um pouco mais de segurança para quem está a pé. Veja o caso das áreas de acomodação de pedestres criadas na Avenida Conde da Boa Vista, Avenida Norte e em trechos da Avenida Agamenon Magalhães.

Não é mais acidente de trânsito. Agora, a definição é outra nas ruas, avenidas e estradas do Brasil

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A implantação das áreas de tráfego calmo - mesmo que sem a fiscalização eletrônica para forçar o motorista a respeitar a redução da velocidade - ajuda. No caso dos ciclistas, a malha cicloviária faz esse papel - ainda está longe da amplitude que deveria ter, mas o Recife já conta com quase 200 quilômetros de ciclofaixas. E segue com a promessa de ampliar com novos equipamentos.

EXEMPLOS de urbanismo tático na cidade:

DIVULGAÇÃO/PCR
Urbanismo tático na Cohab, Zona Sul do Recife - DIVULGAÇÃO/PCR
DIVULGAÇÃO/PCR
Urbanismo tático na Cohab, Zona Sul do Recife - DIVULGAÇÃO/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático chega ao Largo Dom Luiz, na Zona Norte do Recife. - Daniel Tavares/PCR
DANIEL TAVARES/PCR
Urbanismo tático ampliado no Recife - DANIEL TAVARES/PCR
DANIEL TAVARES/PCR
SEGURANÇA VIÁRIA Na Rua Frei Cassimiro, em Santo Amaro, técnica foi utilizada para ordenar o trânsito e dar mais segurança nas travessias - DANIEL TAVARES/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático ampliado no Recife - Daniel Tavares/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático ampliado no Recife - Daniel Tavares/PCR

Assim, os resultados começam a aparecer. Segundo o Relatório de Segurança Viária 2021, divulgado pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) durante a Semana Nacional de Mobilidade 2022, a capital pernambucana tem conseguido reduzir as mortes de pedestres e ciclistas.

Entre 2020 e 2021 houve uma redução de 21% no número de vítimas fatais entre usuários da mobilidade ativa. Embora os pedestres e ciclistas sigam sendo o lado mais frágil do trânsito quando o recorte é sobre as mortes. Mesmo com a redução, das 89 vítimas fatais registradas em 2021, 41 eram pedestres e ciclistas, o que representa 46% do total de vítimas.

E das 41 vítimas fatais, 33 eram pedestres e 8 eram ciclistas. 

É fato que a pandemia de covid-19 contribuiu para essa redução, puxando para baixo os registros de sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se diz, por determinação da ABNT. Entenda) desde 2020. Mas os números deixam claro que as políticas públicas adotadas pelo município estão no caminho certo.

A entrada do Recife no seleto grupo de cidades assessoradas pela Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIRGS) também tem sido fundamental.

EXEMPLOS de urbanismo tático na cidade:

PCR/DIVULGAÇÃO
INVERSÃO Na Rua da Palma, no Centro, pedestres passaram a ter 60% do espaço, antes destinado aos veículos - PCR/DIVULGAÇÃO
PCR/DIVULGAÇÃO
42 vagas de estacionamento rotativo para carros foram retiradas da Rua da Palma - PCR/DIVULGAÇÃO
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Restauração e lojas na rua da Palma no bairro de Santo Antonio, centro do Recife. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
MARCOS PASTICH/PCR
O movimento defende limites de 30 km/h (#Love30) como norma em vias onde as pessoas e o tráfego de veículos mais se misturam - MARCOS PASTICH/PCR
Samuel Caetano/PCR
Segundo a OMS, velocidades superiores a 30 km/h potencializam as chances de mortes no caso de colisões no trânsito. Por isso a importância de destacar o espaço do pedestre, principalmente na travessia - Samuel Caetano/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático tem crescido no Recife, assim como o Programa Calçada Legal. Mas investimentos ainda não muito menores do que os feitos para recuperar ruas para carros - Daniel Tavares/PCR
DANIEL TAVARES/PCR
Urbanismo tático no Recife - DANIEL TAVARES/PCR
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Ilhas criadas na Avneida Cruz Cabugá ajudam o pedestre na travessia - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

URBANISMO TÁTICO

Essa redução do número de vítimas do trânsito entre pedestres e ciclistas na cidade tem relação direta com a ampliação e consolidação das áreas de tráfego calmo sinalizadas com o urbanismo tático - técnica que usa a sinalização horizontal para criar espaços de proteção para os adeptos da mobilidade ativa, especialmente os pedestres.

Desde 2019, o Recife implantou 44 áreas de trânsito calmo. Quase metade delas de 2021 até agora. E todas têm resultados positivos. Pesquisas realizadas com os pedestres antes e depois da implementação comprovam.

Mais de 70% das pessoas ouvidas afirmaram se sentir mais seguras após a implantação do urbanismo tático. Antes, esse percentual não ultrapassava os 30%. Outra mudança fundamental é em relação à velocidade. Foi verificado em algumas áreas uma redução de 75% dos veículos (carros e motocicletas) excedendo a velocidade de 30km/h.

““Além de efetivamente reduzir o número de registros de sinistros envolvendo pedestres e ciclistas, o urbanismo tático também sensibiliza a população, especialmente o condutor. Ele muda a visão sobre a mobilidade ativa, chama atenção para a importância de proteger seus usuários. Isso é muito importante. Leva tempo, mas cria uma cultura”, avalia Beatriz Rodrigues, coordenadora local de desenho urbano da GDCI. A GDCI é parceira da Iniciativa Bloomberg.

Beatriz ressalta, entretanto, que o esperado é que o urbanismo tático seja consolidado pelas gestões públicas, como vem acontecendo no Recife. “O urbanismo tático não pode ser visto como um fim nele mesmo. faz parte de um projeto. Até porque ele é barato num primeiro momento, mas se você tiver que renovar a sinalização várias e várias vezes, ele deixará de ser econômico. Por isso a importância da consolidação dos projetos”, diz, lembrando que, onde há urbanismo tático, as chances de redução em até 3% os sinistros com feridos e entre 4% e 5% os com mortes são reais.

EXEMPLOS de urbanismo tático que foi consolidado:

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
E, o que é melhor: a capital começa a transformar os espaços antes pintados em estruturas permanentes, premissa do conceito de urbanismo tático - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Desde 2019, o Recife conta com 40 áreas e mais de 14 mil metros quadrados com urbanismo tático para proteger não só pedestres, mas também ciclistas - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Novas áreas de pedestres nas imediações do Largo da Paz em Afogados - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Novas áreas de pedestre nas imediações do Hospital da Restauração HR - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Segundo a CTTU, a sinalização das áreas de urbanismo tático está sendo refeita em toda a cidade desde setembro, após o fim do período das chuvas. E em pelo menos quatro áreas a consolidação do urbanismo tático aconteceu. Ou seja, as áreas que antes eram indicadas apenas com tinta, passaram a receber obras físicas focadas nos pedestres. Foi o caso dos projetos das Avenidas Conde da Boa Vista e Agamenon Magalhães, da Rua do Hospício e do Largo da Paz, mudança que é viabilizada com o Programa Tá Aprumado, em parceria com a Emlurb.

ALERTA

Os números do Relatório de Segurança Viária 2021 também comprovam que o desligamento da fiscalização eletrônica de velocidade nas ruas do Recife é um equívoco. Para quem não sabe, todos os equipamentos de fiscalização eletrônica da capital (não só os de velocidade) não multam há 16 anos por determinação da Justiça de Pernambuco numa ação movida pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

O relatório confirma que a noite e madrugada têm interferência direta nos registros de sinistros de trânsito que matam pedestres e ciclistas. 32% das mortes de pedestres e ciclistas aconteceram no período da noite (das 18h à 0h). Quando se soma as mortes da madrugada (0h01 à 5h59), o percentual chega a 47%, ou seja, quase 50% das mortes. O período da tarde (12h às 17h59) ainda lidera com 34% dos registros.

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Algumas áreas onde o urbanismo tático foi implantado, entretanto, precisam de manutenção no Recife - GUGA MATOS/JC IMAGEM
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Algumas áreas onde o urbanismo tático foi implantado, entretanto, precisam de manutenção no Recife - GUGA MATOS/JC IMAGEM
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Algumas áreas onde o urbanismo tático foi implantado, entretanto, precisam de manutenção no Recife - GUGA MATOS/JC IMAGEM
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Algumas áreas onde o urbanismo tático foi implantado, entretanto, precisam de manutenção no Recife - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Confira os ganhos de alguns projetos de urbanismo tático no Recife:

Rua da Palma (Santo Antônio, Centro do Recife)

* Quão seguro você se sente ao atravessar a rua?

Antes: 21% se sentem seguros

Depois: 71% se sentem seguros

* Antes da intervenção, apenas 37% dos entrevistados consideravam que o deslocamento a pé era bom ou ótimo. Depois da intervenção, isso mudou para 80%.

* Redução de 75% dos veículos excedendo a velocidade de 30km/h (considerando motos e carros)

Antes: 22.4% das motos (¼ aproximadamente) trafegava acima de 30km/h

Depois: apenas 6.7% das motos trafega acima de 30km/h

Antes: 65,5% (destinado a veículos motorizados) x 34,5% (destinado a pedestres)

Depois: 40% (destinado a veículos motorizados) x 60% (destinado a pedestres)

Largo Dom Luiz (Casa Amarela, Zona Norte)

Quão seguro você se sente ao atravessar a rua?

Antes: Apenas 26% das pessoas relataram se sentirem seguras ao atravessar a rua
Depois: 75% das pessoas relataram se sentirem seguras ao atravessar a rua

Antes: 78,5% (destinado a veículos motorizados) x 21,5% (destinado a pedestres)

Depois: 47.8% (destinado a veículos motorizados) x 52.2% (destinado a pedestres) -

Antes: 7% dos veículos trafegava acima acima de 30km/h antes da intervenção

Depois: 0.7% dos veículos trafega acima acima de 30km/h antes da intervenção

- 98,6% menos pedestres caminhando pelo leito viário

- Agora, não há mais crianças caminhando pelo leito viário (71% das crianças se locomoviam pelo leito viário antes da intervenção)

Fonte: CTTU/Recife

CONFIRA o 

Relatório Mobilidade Ativa 2021 Recife by Roberta Soares on Scribd

 

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