A explosão do transporte de passageiros por motocicletas via aplicativo - Uber e 99 Moto - tem provocado impactos que vão além da segurança viária e do consequente custo à saúde pública. São impactos econômicos que, por ironia, também têm sido sentidos no próprio sistema de transporte por aplicativos.
O serviço de Uber e 99 Moto está promovendo a ‘uberização’ do próprio Uber e 99. A expressão ‘uberização’ passou a ser usada para definir a precarização dos serviços - não só de transporte, mas de outros setores também. As queixas são dos motoristas parceiros.
Quem roda com automóvel tem sentido, pelo menos no Recife, as corridas caírem em aproximadamente 30%, levadas pelas motocicletas. O motorista Wellington Silva conta que precisou pegar dinheiro emprestado para conseguir fechar o orçamento no fim de 2022, quando viu as corridas caírem.
“O impacto é grande. Tenho sentido muito a fuga do passageiro para a motocicleta. O preço mais baixo tem atraído os passageiros. E para quem roda com carro está ficando cada vez mais difícil”, lamenta.
Há motoristas, inclusive, que deixaram o carro e migraram para as motos. É o caso de John José dos Santos, que há um ano desistiu do automóvel e migrou para a motocicleta. “Quem roda com gás ainda consegue, mas na gasolina, por exemplo, fica impraticável”, reflete.
“Na motocicleta, eu ganho menos que o carro, é verdade, mas gasto menos. Com R$ 50 faço 400 km de moto. No carro, mesmo a gás, faria 200 km. Essa é a vantagem.
Menos corridas, menos lucro e mais despesas. Outro impacto da explosão do Uber e 99 Moto tem sido a precarização do serviço de carro. Há algum tempo, existe o Uber e 99 com ar-condicionado e o sem refrigeração. O Uber X ‘pode’ - como explica a Uber - não ligar o ar-condicionado. Mas o Uber Confort é obrigado.
“Tenho cancelado muitas viagens porque o motorista parceiro não aceita ligar o ar-condicionado do veículo ou, às vezes, nem tem. E roda assim mesmo. E isso tem acontecido em muitas cidades, inclusive as quentes, como o Recife”, reclama a design Karla Patrícia, que usa o serviço de carro com frequência.
Como esperado, quem também tem sentido o impacto do crescimento do Uber e 99 Moto tem sido o transporte público coletivo. Com tarifas que, conforme a distância do deslocamento, ficam quase equivalentes à corrida de moto por aplicativo, e sem a agilidade das duas rodas, o setor acendeu o alerta.
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E já conta o prejuízo, embora ainda não existam dados estatísticos sobre perdas diretas. Se tem a queda da demanda geral. “Apesar de não dispormos dos números sobre a operação do Uber e 99 Moto, sabemos que o impacto sobre o transporte coletivo é significativo”, diz Fernando Bandeira, presidente da Urbana-PE, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco.
“Os ônibus transportaram em 2022, 77% dos passageiros transportados em 2019, antes da pandemia. E no primeiro quadrimestre de 2023 a tendência continua, com queda de mais de 5% em comparação ao ano anterior”, relata.
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“Infelizmente, as empresas de aplicativos não fornecem as informações exigidas pela regulamentação local, como, por exemplo, a quantidade de viagens realizadas. Esses dados são fundamentais e a falta de transparência sobre a operação de um serviço cujo alcance só podemos supor prejudica o planejamento da mobilidade das nossas cidades. Também nos preocupa bastante o risco de aumentarem ainda mais os sinistros de trânsito envolvendo motos”, reclama.
Nacionalmente, o setor de transporte público também já faz críticas ao crescimento do serviço. “O Uber Moto não é seguro, não é um serviço de transporte público e ainda causa muitos sinistros. Mais da metade dos sinistros de trânsito envolvem motos e um terço das pessoas que morreram estavam em motos. Não queremos que o passageiro que está deixando o transporte público vá para as motos”, alerta o presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Francisco Christovam.