METRÔ DO RECIFE

EXPLOSÃO NO METRÔ: Deus é brasileiro, pernambucano e, com certeza, anda no Metrô do Recife

Metrô do Recife ficou 12h sem operar depois que parte da rede aérea explodiu no fim da manhã da terça-feira (20/6)

Roberta Soares
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Roberta Soares
Publicado em 21/06/2023 às 12:22 | Atualizado em 21/06/2023 às 12:25
Thiago Lucas
Episódio das explosões da rede aérea, único nos 38 anos do Metrô do Recife, é mais um para não ser esquecido e reflete a difícil situação financeira e operacional do sistema pernambucano - FOTO: Thiago Lucas

O que temos visto acontecer com o Metrô do Recife nos últimos anos, incluindo a explosão de parte da rede aérea do sistema na terça-feira (20/6), levando pânico aos passageiros, não deixa dúvidas: Deus é brasileiro - como todo brasileiro já afirma -, mas também é pernambucano e, principalmente, é usuário do Metrô do Recife.

Caso contrário, os episódios de insegurança operacional que acontecem quase que semanalmente no sistema pernambucano já teriam feito várias vítimas. Temos muita sorte. Os passageiros do metrô têm muita sorte e o poder público tem ainda mais. Não há como negar isso.

Porque, diante do que temos visto acontecer com o Metrô do Recife, só um milagre divino explica não termos passageiros e operadores feridos ou até mesmo mortos. Milagre, inclusive, que também é mérito do empenho dos metroviários para fazer o impossível com a desestruturação do sistema nos últimos dez anos - potencializada nos governos dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

Só quem usa o sistema vai entender a indignação contida neste texto. Ou quem teve que correr desesperado enquanto a rede aérea explodia sobre suas cabeças, temendo ser um tiroteio na área interna do metrô ou, ainda pior, serem explosões num sistema movido a energia elétrica.

Só quem ficou preso nas composições, sem refrigeração, sob risco e passando mal de calor, vai entender. E, ainda, todos que pagaram R$ 4,25 para passar por isso.

QUEBRAS DO METRÔ DO RECIFE E VIDA QUE SEGUE

A Linha Centro do metrô - a mais importante do sistema metroferroviário e que responde pelo transporte de 80% da demanda de 200 mil passageiros - ficou 12 horas sem operar entre o fim da manhã da terça e as 5h desta quarta (21). Como já é praxe, as explicações sobre as causas dos problemas são sempre superficiais, o que é até compreensível porque existem procedimentos de investigação que precisam ser respeitados.

Mas elas terminam se perdendo no tempo, esquecidas de serem cobradas pela imprensa, que tem a atenção desviada pelas paralisações subsequentes, como acontece nos últimos anos. E, assim, a vida segue.

PERIGO NA ESTAÇÃO DE METRÔ DO RECIFE: rede de transmissão cai e assusta passageiros

Mas, o episódio desta terça, único nos 38 anos do Metrô do Recife, é mais um para não ser esquecido. Assim como a colisão entre duas composições ocorrida em fevereiro de 2020, mais uma vez na Linha Centro, que deixou 70 pessoas e, por muita sorte, não provocou mortes. Tudo, direta ou indiretamente, resultado do sucateamento do sistema.

METRÔ DO RECIFE PRECISARIA DE R$ 3,8 BILHÕES PARA SER TOTALMENTE REESTRUTURADO

O Metrô do Recife virou um sistema abandonado, sem recursos sequer para garantir uma boa operação diária. Sem falar em investimentos, que inexistem há pelo menos cinco anos. Precisaria de R$ 3,8 bilhões para ser totalmente reestruturado e acumula um déficit anual somente de custeio (despesas básicas) de R$ 300 milhões.

E são muitas as consequências do abandono. Mas a principal delas é a quebra e a consequente paralisação do sistema, prejudicando os passageiros que dependem do serviço. Já foram 400 mil pessoas transportadas por dia, nas duas linhas principais do sistema: Linhas Centro e Sul. Agora, são menos de 200 mil passageiros diários (algo próximo a 160 mil).

A crise econômica aliada ao aumento de mais de 180% no valor da passagem - que subiu de R$ 1,60 para R$ 4,25 num período inferior a dois anos - e as quebras provocadas pelo sucateamento espantaram o usuário.

ESTADUALIZAÇÃO DO METRÔ DO RECIFE ENGAVETADA

Sem recursos para nada, o Metrô do Recife também segue sem perspectivas, o que é o mais angustiante. Foi ignorado nos quatro anos do governo Bolsonaro, mas também segue sem prioridade no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que após seis meses de gestão não socorreu o sistema e ainda mantém a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Plano de Parcerias para Investimentos (PPI).

DIVULGAÇÃO

Passageiros caminhando na linha férrea depois que rede aérea do Metrô do Recife explode - DIVULGAÇÃO

Ou seja, a possibilidade de o Metrô do Recife vir a ser privatizado segue sendo real. Apesar de o estudo de uma possível estadualização e futura gestão privada ter sido engavetado pessoalmente pelo ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB) antes das Eleições 2022. E, até agora, não ter sido retomado pelo governo federal e estadual.

Enquanto isso, o metrô segue operando com menos de 50% dos recursos mínimos necessários para garantir uma operação segura. E vendo sua tragédia ser assistida, da platéia, por políticos e gestores públicos quase inertes.

ENTENDA O ESTUDO DE CONCESSÃO DO METRÔ

O processo de estadualização e concessão pública do Metrô do Recife seria iniciado ainda em maio de 2022. A modelagem e os valores foram apresentados ao Ministério da Economia no fim de 2021 e já tinham sido validados pela equipe técnica que está à frente dos estudos - da União e do Estado.

O governo de Pernambuco seria o gestor do futuro contrato de concessão pública do sistema, um pacote que representaria o montante de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões seriam aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação.
Sendo, R$ 3,1 bilhões mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E, dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União (Ministério da Economia), R$ 1,4 bilhão seriam recursos que ficariam guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.

O R$ 1,4 bilhão seria a reserva para garantir o equilíbrio econômico financeiro do contrato, já que os estudos realizados em dois anos já apontaram que a receita gerada pela demanda de passageiros do Metrô do Recife não seria suficiente para cobrir o custo de operação.
O modelo a ser adotado pelo governo do Estado seria de concessão pública simples, sem contrapartida financeira ao longo do contrato.

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