Quase no fim do mês de novembro de 2023, seis anos depois do início do processo, ainda no Terminal Integrado de Cavaleiro, a integração temporal foi implantada em todos os terminais integrados de ônibus e metrô da Região Metropolitana do Recife.
A última linha a ser incluída no processo foi a 207 – TI Barro/TI Macaxeira (BR-101), no Terminal Integrado da Macaxeira, um dos mais problemáticos do sistema. O avanço da integração temporal - cobrada por muitos anos e que deveria ser comemorada -, entretanto, virou um transtorno para muitos passageiros e mais uma marca que compromete a imagem do transporte público do Grande Recife.
Isso porque o governo do Estado implantou uma integração temporal “intramuros”, ou seja, limitada em quase sua totalidade aos 26 terminais integrados da RMR. Para quem não sabe, a integração temporal é uma tecnologia que permite a circulação com o pagamento de uma única tarifa no intervalo de até 2h por sentido da viagem (ida ou volta).
Muitos passageiros têm se irritado e reclamado da operação alegando ser comum os ônibus ficarem presos em congestionamentos no percurso, expirando o prazo de 2h entre os embarques para validar a integração. Assim, quando chegam nos TIs para pegar o segundo transporte, têm uma segunda tarifa descontada.
FALTA DE PRIORIDADE VIÁRIA AO ÔNIBUS COMPROMETE INTEGRAÇÃO TEMPORAL
O prazo de 2h para chegar ao terminal de integração e conseguir pegar o segundo transporte, por exemplo, tem
É o caso, por exemplo, do estudante do Senai Tarcísio Cardoso, que usa o TI Abreu e Lima, na área Norte do Grande Recife e tem sido prejudicado pelas retenções das obras de requalificação da PE-15 e pelo tradicional trânsito da Avenida Cruz Cabugá, no Centro do Recife, e da BR-101 Norte.
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“Temos sofrido muito com os engarrafamentos da PE-15 no percurso Recife-TI Abreu e Lima ou do TI Macaxeira para o TI Abreu e Lima. Quando chegamos na integração de Abreu e Lima, muitas vezes já se passaram as duas horas e somos obrigados a pagar uma segunda passagem, mesmo quando a culpa é do trânsito no percurso”, reclama.
Segundo o passageiro, muitas pessoas chegam a ser submetidas a constrangimentos pela fiscalização do sistema quando tentam justificar as razões para o tempo da integração temporal expirar. “Quando justificamos o que ocorreu no segundo embarque, somos constrangidos pelos fiscais e tratados como bandidos. Desligam o ônibus e obrigam o passageiro a descer para não embarcar no segundo trajeto, ou seja, trajeto final. Além disso, o desconto de passagens indevidas prejudica quem trabalha e recebe o valor contado”, argumenta.
APELO AO PODER PÚBLICO
Os passageiros apelam ao poder público para que encontre uma solução para as linhas que todos têm conhecimento que passam por corredores viários importantes da RMR e que enfrentam congestionamentos diários devido à falta de faixas ou corredores exclusivos de circulação.
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“Não temos culpa pelos engarrafamentos. Sendo assim, é dever do poder público se responsabilizar pela mobilidade do Estado e proporcionar uma melhor fluidez para o transporte público. Muitas vezes temos os valores descontados do nosso cartão VEM e, mesmo solicitando o ressarcimento, muitas vezes o estorno não é feito. Precisamos que as linhas expressas e semi expressas sejam retomadas”, alega.
O sistema de ônibus do Grande Recife transporta hoje em dia, pós pandemia, 800 mil passageiros catracados (registrados nos bloqueios) e movimenta R$ 1,2 bilhão por ano.
GOVERNO DE PERNAMBUCO PLANEJA AMPLIAR INTEGRAÇÃO PARA FORA DOS TERMINAIS INTEGRADOS
Em conversa com o JC ainda em novembro, o presidente do Grande Recife Consórcio de Transportes Metropolitano (CTM), Matheus Freitas, garantiu estar atento ao problemas de expiração do período de 2h e prometeu que o governo iria alterar o período limite das linhas mais longas e que mais sofrem com a falta de prioridade viária.
E mais: que a meta da gestão é ampliar a integração temporal para fora dos terminais integrados - herança herdada do governo do PSB e que precisava ser finalizada. Matheus Freitas, entretanto, informou que, apesar das reclamações, 90% das reclamações feitas sobre cobrança indevida não foram por extrapolar o horário, mas por uso em linhas que não faziam parte da matriz de integração.
“A integração temporal não foi bem divulgada e explicada para a população. Muitas pessoas não sabem que ela só vale nos terminais, com poucas exceções de outras linhas do sistema. Por falta de informação, o passageiro tenta fazer a integração fora e tem a tarifa descontada. Estamos revendo tudo isso”, afirmou na entrevista.
Algumas linhas terão um intervalo maior, de 3h, para a integração temporal.
ENTENDA PORQUE DUAS HORAS É POUCO TEMPO NO GRANDE RECIFE
Embora todo mundo sinta a dificuldade que é circular no Grande Recife em muitas áreas e, principalmente, nos horários de pico, existem estudos que comprovam que duas horas de prazo para a integração temporal pode ser muito pouco tempo.
Um relatório global realizado em 2022 pela empresa israelense de mobilidade Moovit analisou o transporte público de grandes metrópoles do mundo e constatou que o Recife é a cidade brasileira com o segundo maior tempo de viagem nos ônibus, com uma média de 64 minutos (incluindo caminhadas, espera e tempo de deslocamento).
A capital pernambucana perde apenas para o Rio de Janeiro, com 67 minutos. No entanto, as viagens no Recife são mais curtas, com um percurso médio de 8,22 quilômetros, enquanto na capital fluminense o trajeto médio é de 11,42 quilômetros. Além disso, o Rio de Janeiro tem mais corredores de BRT e faixas exclusivas.