Os motoristas contrários ao PL dos Aplicativos, a proposta do governo federal de regulação trabalhista dos motoristas de app, como Uber e 99, estão se organizando para um grande protesto nacional. A data prevista é no dia 26/3.
Entre as entidades que organizam a manifestação, estão a Frente de Apoio Nacional ao Motorista Autônomo (FANMA) e a Federação dos Motoristas por Aplicativo do Brasil (FEMBRAPP). Em Pernambuco, a organização é da Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco (Amape), com concentração às 7h, em frente ao Classic Hall, em Olinda, quase no limite com o Recife.
Alguns protestos já aconteceram pelo País desde o lançamento do PL, como o realizado nesta quarta-feira (13/3), em Brasília, contra o pedido de urgência de análise do PL no Congresso Nacional.
A categoria representada por essas entidades alega que não foi ouvida e que as entidades que participaram do grupo tripartite criado pelo governo e plataformas são sindicais e não representam os motoristas. “Nós, motoristas, não fomos ouvidos. Os acordos foram feitos com centrais sindicais, governo e plataformas. As centrais e sindicatos não nos representam. Não queremos amarrações com sindicatos, o motorista precisa de autonomia”, afirmou Paulo Xavier, da Federação dos Motoristas por Aplicativo do Brasil.
DEFESA DA REMUNERAÇÃO POR KM RODADO
Afirma, também, não concordar com a remuneração por hora e, sim, por quilômetro rodado, como o proposto no PL 536/2024, de autoria do deputado federal Daniel Agrobom (PL/GO) - partido de oposição ao PT.
“Não há ganhos para os motoristas. Somos favoráveis à contribuição previdenciária via MEI, que é um modelo criado para simplificar a arrecadação previdenciária e protege os motoristas e familiares. Não concordamos com limitações da jornada de trabalho em 8 ou 12 horas. Nós protocolamos via FPMA a PL 536/2024 que foi construída pela FEMBRAPP juntamente com várias lideranças de motoristas em todo Brasil. Estamos trabalhando no Congresso pela derrubada da urgência constitucional do PLP do governo”, disse Xavier.
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Para essas entidades, o PL 536/2024 assegura direitos básicos aos motoristas de aplicativos, incluindo uma jornada de trabalho justa e uma remuneração condizente. Uma enquete realizada no site da Câmara Federal apontou que 98% dos motoristas que votaram são contra o PL dos Aplicativos e deu a dimensão da polêmica que cerca o tema que está sendo discutido na casa.
“Queremos apoio da bancada dos deputados federais e senadores de Pernambuco e que eles entendam que não houve diálogo com a categoria. O que vimos em Brasília, foram pessoas que se dizem representantes, sem discutir o que realmente importa pro motorista. Remuneração por KM + tempo, simplificação tributária, através do MEI e liberdade pra trabalhar. Também estaremos, junto com o Livres, movimento que defende a liberdade, fazendo uma articulação no Congresso Nacional, para impedir que o PLP-12/2024 possa avançar, da forma que está”, afirma Thiago Silva, presidente da Amape.
PRINCIPAIS PONTOS DA PROPOSTA DO GOVERNO FEDERAL
- Jornada de 8 horas, podendo chegar ao máximo de 12 horas/dia por plataforma. Pode trabalhar para quantas plataformas desejar
- Remuneração: R$ 32,90/hora trabalhada (não conta espera) = R$ 1.412 de renda mínima, equivalente ao salário mínimo
- Previdência: enquadramento como contribuinte individual; contribuição sobre remuneração de 7,5% para o trabalhador e 20% para o empregador; mulheres têm direito a auxílio-maternidade
- A ideia é manter os integrantes da categoria como trabalhadores autônomos, mas garantir alguns direitos, como os benefícios do INSS.
PL DOS APLICATIVOS VAI GERAR CUSTO DE R$ 2,20 A MAIS NAS VIAGENS
Pelos cálculos do governo federal, o Projeto de Lei dos Aplicativos, como está sendo chamada a proposta de regulação trabalhista dos motoristas de aplicativos da União, prevê um custo adicional baixo nas viagens e que seria facilmente incorporado pelas plataformas. Assim, não haveria repasse para os passageiros, o que é temido por encarecer o serviço.
A explicação foi dada pelo secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Emprego
e ministro em exercício, Francisco Macena. A acusação de que o governo criou um PL arrecadatório, com o objetivo de arrecadar tributos, foi tratada como mentira.
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“O que o governo do presidente Lula quer, na verdade, é assegurar o direito previdenciário de todos os trabalhadores. Só para você ter noção, os trabalhadores vão fazer uma contribuição à Previdência com base no salário mínimo, que é de R$ 8 por hora. Então, os trabalhadores vão contribuir com 7,5% sobre R$ 8, que dá R$ 0,60, e as empresas 20% sobre R$ 8, que vai dar R$ 1,60”, explica Francisco Macena.
E segue explicando: “Estão dizendo por aí que o PL dos Aplicativos vai onerar demais o preço da corrida, o que não é verdade. Pelas contribuições feitas pelo trabalhador e pela empresa, o valor que vai ser acrescentado por hora de viagem é R$ 2,20”, explica.
Francisco Macena usa um exemplo hipotético para explicar o novo cálculo. “Façamos o raciocínio: suponhamos que você faça uma viagem de aplicativo de 30 minutos, que é muito acima da média, você pagaria R$ 1,10 a mais”, exemplifica.
E, pelo menos na visão do governo, esse valor não deverá ser repassado ao passageiro porque é muito pequeno e é totalmente possível de ser incorporado pelas empresas.
RENDA MENOR DOS MOTORISTAS DE APLICATIVO
Outro ponto que foi rebatido pelo secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Emprego
e ministro em exercício é a de que os motoristas de aplicativo iriam ganhar menos do que ganham atualmente. “Ao contrário, os trabalhadores vão ganhar R$ 32,10, no mínimo, por hora trabalhada. Antes eles não tinham nada disso. Eles também seguirão tendo autonomia e podendo escolher a empresa, os dias que trabalha e a hora trabalhada”, diz.
“A diferença é que agora eles vão saber quantas horas trabalharam, quanto vão receber, e o valor que ficou na empresa. E mais: não poderão ser excluídos da plataforma sem o direito de defesa. Ou seja, os motoristas de aplicativo seguirão sendo autônomos, mas com muitos direitos, que é o que o trabalhador de aplicativos precisa”, reforça Francisco Macena.
UBER E 99 NÃO VÃO SAIR DO BRASIL
O governo federal também rebateu a informação de que, devido ao PL enviado ao Congresso Nacional, a Uber e a 99 iriam sair do Brasil. “Isso é mentira, é outra fake news. As plataformas não vão sair do País. Elas concordaram com o texto que vai para o Congresso Nacional, juntamente com todos os trabalhadores. Esse é um texto de acordo com todos os setores: governo, trabalhadores e empresas. Portanto, nenhuma empresa vai sair do Brasil”, afirma.
ENTENDA A PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO TRABALHISTA PARA OS MOTORISTAS DE APLICATIVOS COM CARROS
O projeto do governo federal propõe que os motoristas de aplicativo, como Uber e 99, tenham “direitos trabalhistas”, passando a receber por hora trabalhada e remuneração de, ao menos, um salário mínimo (atualmente no valor de R$ 1.412). Além de contribuir para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A proposta prevê, até, cobertura dos custos que os motoristas têm para trabalhar e licença maternidade para as mulheres. A Proposta de Projeto de Lei Complementar (PLC) aponta para a criação de mecanismos previdenciários e melhoria das condições de trabalho, a partir de quatro eixos: remuneração, previdência, segurança e saúde e transparência. O PLC será enviado ao Congresso Nacional e, caso seja aprovado, entrará em vigor após 90 dias.
R$ 32,10 POR HORA TRABALHADA, INSS E SALÁRIO MÍNIMO DE BASE
Como já divulgado, a proposta do governo federal cria o “trabalhador autônomo por plataforma”, nome para fins trabalhistas da nova categoria, que receberá R$ 32,10 por hora de trabalho e remuneração de, ao menos, um salário-mínimo (R$ 1.412), além de contribuição de 7,5% ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
CONFIRA o PL dos Aplicativos na íntegra:
Projeto de Lei Complementar Aplicativos 2024 by Roberta Soares on Scribd
O período máximo de conexão do trabalhador a uma mesma plataforma não poderá ultrapassar 12 horas diárias. Para receber o piso nacional, o trabalhador deve realizar uma jornada de 8 horas diárias efetivamente trabalhadas.
VEJA PONTO POR PONTO DO PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR
Cobertura dos custos - Para cada hora efetivamente trabalhada, será pago um valor de R$ 24,07/hora, destinado a cobrir os custos da utilização do celular, combustível, manutenção do veículo, seguro, impostos, entre outros. Esse valor é indenizatório e não compõe a remuneração.
Previdência - Os trabalhadores e trabalhadoras serão inscritos obrigatoriamente no Regime Geral da Previdência Social (RGPS), com regras específicas para o recolhimento da contribuição de cada parte (empregados e empregadores):
1) Os trabalhadores irão recolher 7,5% sobre os valores referentes à remuneração (que compõe 25% da hora paga, ou seja, R$ 8,02/hora);
2) Os empregadores irão recolher 20% sobre os valores referentes à remuneração (que compõe 25% da hora paga, ou seja, R$ 8,02/hora);
As empresas devem realizar o desconto e repassar para a Previdência Social, juntamente com a contribuição patronal.
Auxílio maternidade – As mulheres trabalhadoras terão acesso aos direitos previdenciários previstos para os trabalhadores segurados do INSS.
Acordo coletivo tripartite - O trabalhador em aplicativo será representado por entidade sindical da categoria profissional “motorista de aplicativo de veículo de quatro rodas”. As entidades sindicais terão como atribuições: negociação coletiva; assinar acordo e convenção coletiva; e representar coletivamente os trabalhadores nas demandas judiciais e extrajudiciais de interesse da categoria.
Estrutura física nas cidades - Outro ponto previsto no PL é que as plataformas tenham funcionários em espaços físicos para atender os motoristas e os passageiros nas cidades onde atua.